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cronicas-->Um dia para esquecer -- 15/06/2002 - 14:51 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um dia para esquecer

Marcelo Lima


O primeiro enterro que eu fui, foi o da minha avó paterna. Era muito novo e, por isso, não tenho muitas recordações. As únicas duas coisas que me lembro foram eu ter sido uns dos primeiro a jogar terra no caixão e meu pai não ter chorado.
Depois de ter jogado terra, só fiz porque vi todas as outras pessoas fazendo, minha mãe disse que aquilo não era nada bonito. Dava a impressão que estávamos querendo enterrar a pessoa mais rápido. Até hoje não sei se é errado ou não.
Meu pai não chorou, o que eu achei estranho. Minha mãe, mais uma vez, disse que as pessoas não precisavam chorar para mostrar seu sentimento. Muitas vezes elas sofrem caladas. Foi a primeira lição de vida que tive e até hoje não esqueci.
Muitos anos se passaram, eu já estava na faculdade, quando a avó de um amigo faleceu. Estava bem velha. Bastou apenas um telefonema para que eu fosse correndo a casa dele. Depois fui ao velório e funeral, olhando, sempre o rosto triste deste meu amigo.
Como ela havia sido sua segunda mãe, às vezes, ele parecia o mais triste. Durante as cerimónias, ele tentava contar alguma piada, mas era apenas para disfarçar. Na hora em que estávamos indo embora, queria me mostrar as sepulturas dos Mamonas Assassinas, que estavam a apenas alguns metros dali.
Acredito que cada um lide à sua maneira a perda de uma pessoa. Digo isso lembrando do enterro do pai de outro amigo. Agora ele seria o "homem" da família. No cemitério, era o que mais sorria. Queria aconchegar todos, até mesmo os amigos mais distantes. Não o vi chorar, mas como o conhecia há muito tempo, sabia que estava muito triste. Desta vez, a falta de lágrimas não me fez achar que estava tudo bem. Lembrei do que a havia aprendido da primeira vez e pude compreender melhor tudo o que estava passando.
O que confirmou sua tristeza foi ter pago a um funcionário do cemitério, um certo valor para que mantivesse as flores da cova sempre regadas. Ninguém, minimamente fragilizado, pagaria por um serviço que de longe, todos sabem que nunca é executado. Ao menos do segundo dia em diante.
Ontem, me chamaram no portão. Traziam a notícia de que a mãe de uma amiga havia morrido. Coração. Há muito tempo não falava com ela. Somos amigos quase que vizinhos, mas mesmo assim perdemos contato.
De uma maneira ou de outra, fui a casa dela. Deslocado, já que eu nunca sei o que dizer as pessoas em momentos assim, deixei sair um:
- Sinto muito. Se precisar de alguma coisa é só dizer.
Ela me abraçou de um jeito tão sincero que pude lembrar dos tempos em que éramos grandes amigos. Na verdade, acho que nunca deixamos de gostar das pessoas, mesmo que o tempo as distancie. Só é uma pena encontrarmos os velhos sentimentos desta maneira.
Enquanto ouvia a família dela, louca ao telefone, respondendo perguntas e correndo atrás da papelada para o enterro, fiquei na varanda imaginando que nunca havia perdido alguém que amasse, desta maneira.
Sei que todos acabam passando por isso, mas nada pode nos preparar para esse tipo de coisa. Mas assim como qualquer experiência de vida, a perda faz parte.
Só é uma pena, destes poucos enterros que fui, não ter aprendido a me conformar por antecipação. Isso é impossível. Pode até parecer meio louco dizer uma coisa destas, mas quem é que não quer estar preparado o suficiente para não sofrer muito.
Procuro imaginar a tristeza dos meus amigos mas sei que apenas vou entender isso que passaram e estão passando quando, infelizmente, acontecer comigo.
Espero que demore muito.
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