Frases do homem massa
Marcelo Lima
Quem sou eu que ando pelas multidões?
Quem sou eu que me transporto pelo transporte das massas, como gado, mas sendo que até mesmo esse tem o seu espaço marcado?
Quem sou eu que me arrisco pelas vielas escuras do centro, do centro da cidade, do centro daquilo que chamo de alma, alma penada?
Quem sou eu que fumo e bebo, mais que as chaminés da cidade velha, mais que o velho rio que corta?
Quem sou eu que ando em fila, filas desvairadas de emprego?
Quem sou eu que digo sim quando quero dizer não e digo talvez quando quero dizer alguma coisa aproximada?
Quem sou eu que pulo de um prédio, prédio vazio, prédio alto e cinza com um céu nem um pouco estralado?
Quem sou eu que sou crente, crente da minha demência, católica, evangélica? Minha demência agnóstica dos homens do papel, aqueles que me dão e me tiram.
Quem sou eu que busco um caminho, mas se até mesmo ele se busca?
De tudo isso sei que sou filho.
Minha mãe que faz uma comida tão cheirosa.
Meu pai que me deixou tão tarde.
Sei que tenho e tive avós, mas não os conheço.
Sei que tive bisavós, mas nem meus pais os conheceram.
Sei que moro em uma rua, uma rua sem saída.
Sei que tenho vizinhos, vizinhos distantes.
Sei que o ónibus não passa aqui, e se passasse, quem levaria?
Sei que os que aqui moram, moram de vontade de ir embora.
Sei que também quero ir.
Quem sou...
Homem massa?
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