Hoje foi um dia de violência nesta terra de ninguém, em Minas Gerais e São Paulo, briga entre torcedores e polícia, na Bahia mais violência em um show que deveria ser de festa.
Neste dia fui coadjuvante naquilo que chamo de crueldade inescrupulosa.
Em um concurso público foi exigido conhecimento de fração, porcentagem, números negativos, potenciação e outras aberrações para um candidato a faxineiro.
A prova de português exigiu interpretação de texto e conhecimento de gramática dando a nítida impressão que temos escola pública de qualidade e bibliotecas espalhadas por toda a periferia e espetáculos de teatro onde se pode ouvir e aprender ao menos a pronúncia.
Ver o olhar perdido de quem não está entendendo nada me deixou constrangido.
Tudo não passou de uma tremenda aberração.
Porque não dizer: uma sacanagem!
Se levarmos em consideração que para os cargos de confiança são nomeados gerentes cuja qualificação exigida é simplesmente ser cabo eleitoral ou puxa-saco, este concurso foi um tapa na cara de quem até pediu dinheiro emprestado para pagar a inscrição.
A maioria era predominantemente do sexo feminino, mães de família, mulheres há muito longe dos bancos de escola e faxinando todos os dias, mulheres, que para muitas, o lápis e a caneta são apenas mais um acessório de prender os cabelos. A expressão de desânimo ao perceber não estar qualificado pra ser um simples varredor de chão era visível no semblante de algumas pessoas.
O olhar perdido!
O esfregar de mãos!
O roer de unhas de quem vê desmoronar o sonho da estabilidade.
A sensação de estar sendo roubado!
A sensação de todos era de que o concurso tinha o propósito de excluir.
Quando houver a chamada, o futuro funcionário estabilizado com todo o conhecimento adquirido vai estar apto a passar pano no chão?
Se isto acontecer, estou até vendo o memorando que terá de redigir todos os dias;
MEMORANDO
Triloló, 08 de fevereiro de 2007.
Att. Sr. Puxa Saco,
Irresponsável pelo Serviço de Limpeza.
Hoje foi o meu primeiro dia de trabalho e gostaria de comunicar que ao terminar minha jornada, o tempo foi suficiente para higienizar 3/5 do corredor, 1/4 da sala de espera, onde foram consumidos 500 litros de água na mistura de 5% de detergente. Para que ficasse um serviço de qualidade foi necessário fazer um movimento de vai-e-vem com a vassoura que somando a área atingida alcançou a marca de 2.000 metros, e para encerrar quero comunicar que foram consumidos 20 litros de desinfetante, ocasionando 300 torcidas no pano de chão para que tudo ficasse a contento.
