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Cronicas-->Meu amigo e meu chope gelado -- 12/06/2002 - 00:09 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu amigo e meu chope gelado

Marcelo Lima


- Um chope para mim - olhei no cardápio e pedi o mais barato. Consequência dos tempos.
Havia me encontrado em um bar, no Tatuapé, com um amigo que conhecia há mais de dez anos. Ele não podia beber e pediu um suco.
É sempre bom encontrar velhos camaradas. Muita risada, lembranças engraçadas. Na verdade era para estarmos em três, mas a terceira pessoa arrumou outro compromisso. Também amiga de longa data, é normal que depois de tanto tempo, tenhamos outros amigos e mais o que fazer.
Ficava olhando para ele e muitas recordações me vieram à cabeça. Na verdade cheguei a conclusão que o tempo havia sido, ou bom ou ingrato conosco. Não por questões físicas, ou equivalente, mas porque tive a impressão de sermos as mesmas pessoas do tempo em que nos conhecemos.
Ainda éramos os mesmos moleques que sonhavam com tudo, que faziam de tudo uma piada, os mesmos tímidos que não sabiam conversar com uma mulher ou que diziam que cerveja era amarga e que achavam que a vida era apenas planejar e conseguir, assim, fácil como colar na prova de contabilidade.
Não é fácil imaginar se isso é bom ou não porque esperamos mudar com o tempo, crescer, nos tornarmos mais adultos.
De vez em quando o assunto sumia e ficávamos olhando as pessoas passarem na rua. E quando isso acontecia, lembrava, como se fosse ontem, às vezes que conversamos sobre o futuro:
- Quero ser isso.
- Quero ser aquilo.
Dizíamos.
Éramos felizes e ferozes pelo futuro e enquanto isso, no futuro que sonhamos e estávamos, ouvíamos o bar sem música que tornava nossos repentinos silêncios, mais tristes.
Acredito que isso tenha nos incomodado, ou só a mim, já que não falamos do que havíamos conseguido, do que nos tornamos. Mas é justificável, já que quando temos quatorze anos sempre achamos que aos vinte e quatro teremos muitas ou seremos muitas coisas. Por que lembrar disso?
Agora, sendo verdade ou não, temos que nos bastar com aquilo que conseguimos ser. É o que nos ensinam na vida adulta. Mas um lado bom do tempo "não ter passado", é achar essa consideração tão ridícula quando achava quando era mais novo.
Dizendo assim, pode surgir a impressão de que nada mudou. Mudou sim, como o tempo possibilitou e como nós fizemos para mudar.
Pedi mais uma bebida e ele ainda estava no suco.
Começamos a conversar sobre o futuro, e então imagino o que diremos um ao outro quando tivermos trinta e quatro anos. Certos das incertezas do mesmo futuro que havíamos planejado anteriormente, falamos dos bons acontecimentos, daqueles em que não havia planos, e a tristeza que apareceu pelo presente que não havíamos conseguido, deu espaço a uma alegria das coisas que nunca irão mudar: nossas boas lembranças.
Já estou no meu terceiro copo e meu amigo, não me lembro, deve ter pedido outro suco, apenas para não me deixar beber sozinho.
O que fazer com o tempo se na verdade é ele quem faz conosco?
Fico pensando nesta frase e me pergunto se ela tem alguma validade. Chego a imaginar que isso não existe. Fazemos o que queremos de nós mesmos e na grande maioria das vezes, deixamos que os outros façam o que querem com a gente.
Tempo: passado, presente e futuro. Na verdade são abstrações criadas por nós para entendermos alguma coisa relacionada as nossas vidas. Nós fazemos o nosso tempo, seja lá o que isso signifique.
Ficamos um pouco mais de uma hora no bar. Com a sua carona, até metade do caminho, cheguei mais cedo em casa. Meu pensamento se volta para a amiga que não foi ao encontro:
"Mas que droga. O que é mais importante do que encontrar os velhos amigos?", pensei.
Mas tudo isso, no final das contas, só me fez voltar a uma frase de um livro, no qual o personagem resumiu, melancolicamente, tudo o que tentei dizer até agora:
- Quando se é jovem, tudo é simples. Mas com a idade tornamo-nos ricos de mágoa, pobres de força e quanto à cabeça, já nem sabemos dela.
Tenho medo, muitas vezes, de concordar com esse personagem. Mas no fundo, acho que aceitamos a vida em doses homeopáticas. Os seus dois lados, bons e ruins. E cada um diga a si mesmo quais eles são.






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