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Contos-->Um Conto Bem Brasileiro -- 09/08/2002 - 13:47 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM CONTO BEM BRASILEIRO
(por Domingos Oliveira Medeiros)


Brasilino era um jovem, de classe média baixa. Gabava-se de saber aproveitar a vida. Não era de perguntar preço, nem de pechinchar. O que mais importava era a satisfação imediata de seus desejos. Do que ele achava importante. Era um consumista nato. Não media esforços para conseguir tudo o que lhe desse prazer. Gostava muito de viajar. De conhecer novos lugares. Principalmente do exterior. Como poucos de sua época, teve a sorte de cursar uma faculdade e se formar em Turismo. O que mais gostava de fazer.

E dessa aliança, entre o estudo e o gosto pelo turismo, veio a sua ascensão profissional. Conseguiu uma certa posição na área de atuação. E, por conta disso, passou a perceber um salário bem acima da média da remuneração de mercado. Impetuoso, vaidoso e amante das belas coisas da vida, não demorou para ser seduzido por uma linda moça. E acabou, logo no início de sua carreira, apaixonado e disposto a contrair matrimônio.

Sabia que, a partir do casamento, viriam as responsabilidades. Que as despesas aumentariam Mas ele não se preocupava com isso. Pois tinha um bom salário e, portanto, estava preparado para o que desse e viesse. E ainda por cima, na semana que antecedeu à sua decisão de contrair núpcias, recebeu um comunicado do banco, onde mantinha transações comerciais, dando-lhe conta de que aquela instituição financeira havia aprovado seu cadastro e que, a partir daquela data, estava procedendo a implantação de um crédito extra, à sua disposição, via cheque especial, no limite de R$ 6.500 reais.

Foi a gota d’água que faltava. E o Brasilino não teve dúvidas. Assumiu o compromisso. Dá para imaginar a festa que ele fez no dia de sua “posse” como marido. Ou como “homem sério”, para utilizar o famoso jargão popular.

E, como era de se esperar, a festa consumiu todo o limite do cheque especial. E o Brasilino começou, logo no primeiro dia de seu “mandato”, no vermelho. Devendo R$6.500 reais. Mas ele não se apertava. Não entregava os pontos. Achava, sempre, que a dívida era perfeitamente administrável. Foi assim que optou pela política do endividamento e da rolagem das contas. Ainda que isso lhe trouxesse alguns problemas adicionais para dentro de sua casa. E o tempo foi passando. E o Brasilino sempre mantendo o otimismo. Falando que acreditava no futuro. Dando explicações em casa, sempre que necessário, sobre a falta de dinheiro.

Um dia, a esposa do Brasilino ficou sabendo que o pagamento do aluguel estava com quase três meses de atraso. E, ainda, que naquele mês não havia sido pago a mensalidade do colégio do Júnior. E que o garoto corria o risco de ser impedido de fazer suas provas. E a esposa pressionou o Brasilino. E ele, como sempre, tentou acalmar todo mundo. Disse que confiassem nele. Que ele estava no rumo certo. Que iria dar um jeito. Era só uma questão de tempo. Tudo não passava de “nervosismo” exagerado do mercado, segundo ele.

Mas, a verdade era que o Brasilino, além da dívida com o cheque especial, havia contraído outros empréstimos. E a rolagem dessas dívidas estava ficando cada vez mais difícil. Só para se ter uma idéia, as dívidas contraídas pelo chefe da Casa, já alcançava um percentual equivalente a 60% de tudo que o Brasilino ganhava por mês. Vale dizer, de todo o “PIB” daquela família. Cerca de R$12 mil reais. Seu salário era de R$20 mil brutos. Descontados os impostos, taxas e despesas com a Previdência Social, sobravam-lhe exatos R$ 8 mil. Sendo que, só de juros, para rolagem das dívidas, desembolsava cerca de R$ 2 mil por mês. Do saldo de R$ 6 mil, Brasilino ainda tirava algum para seus passeios semanais. E a situação foi apertando. E o Brasilino pedindo a família que apertasse mais. E cada vez mais.

E as coisas continuavam apertando. E o Brasilino apertando em casa. Transferiu o Júnior do Colégio particular para a rede pública. Mudou de residência. Trocou o apartamento de três quartos por um de dois, no subúrbio longínquo da cidade. E como já havia vendido o carro, para pagamento de outras dívidas, passou a andar de ônibus. E, logo depois, de trem. Já não podia passear todos os fins de semana. E começou a economizar, também, nas compras de mercado. Reduzindo os chamados “supérfluos”: queijo, biscoito, chocolate, refrigerante, vinhos. Depois, incluiu na redução: as carnes de primeira, sabonetes e desodorantes de “marca”, algumas frutas e massas em geral.

Mas as contas continuavam a aumentar. E seu salário continuava o mesmo. Há quase oito anos. E a inflação aumentando. E o dólar subindo. E, com ele, o custo de vida. Com isso, as dívidas do Brasilino foram parar no espaço. E o Brasilino não conseguia nem mais pagar os juros. E o montante da dívida crescia. Acumulava-se. Já era dez vezes maior. Se comparada ao primeiro dia em que o Brasilino assumiu o casamento. Foi quando o Brasilino teve uma idéia genial.

Foi ao banco e conversou com o gerente. Contou-lhe toda a situação. E disse-lhe que, se não tivesse ajuda financeira, o banco iria perder muito dinheiro. Pois ele não teria condições de arcar com a dívida. O gerente coçou a cabeça e lhe fez uma proposta: você está devendo R$ 120 mil reais. Mas é um bom cliente. Recebe de salário R$ 20 mil mensais. Vou lhe emprestar R$ 150 mil. Você paga toda a sua dívida, que é de R$120 mil, e ainda fica com R$ 30 mil para respirar um pouco. Se você apertar mais ainda o cinto, dentro de dois ou três anos, provavelmente, dependendo do novo governo, você terá seu crédito renovado. E poderá vir aqui, sempre que precisar de dinheiro.

Brasilino agradeceu, e saiu correndo para dar a notícia em casa. Estava muito satisfeito. E confiante. Disposto, até, a votar em que lhe prometesse dar continuidade a esta política econômica que, segundo ele, teria sido tão boa para ele. A família ficou meio desconfiada. Mas, diante de tanto dinheiro, não teve outra alternativa. Aceitou a situação.

Domingos Oliveira Medeiros
09 de agosto de 2002

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