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cronicas-->O Policial do Ano -- 11/06/2002 - 17:42 (Cintia Santanna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando criança, brincar na rua com os amigos sempre foi minha atividade predileta. "Rueira" era o apelido engraçado que minha mãe me atribuiu naquela época. A única coisa que me deixava em casa eram minhas bonecas, minhas criações rústicas de histórias em quadrinhos, onde eu transferia todos os meus desejos não realizados, e a TV.
Lembro-me de uma época quando sabia toda a programação de desenhos animados da manhã... Era fascinada por Miss Brasil, Miss Universo, filmes tristes, de aventura, e de vampiros. Nunca esqueci o nome Christophe Lee ! Meus pais até tentavam impor alguns limites em relação a TV, mas como eles trabalhavam muito e dormiam cedo, eu frequentemente assistia a todos os programas que bem queria. Adorava assistir As Panteras e representá-las na rua com as outras crianças. Resolver enigmas, ser forte e inteligente, ser reconhecida por todos pelo notável trabalho contra o crime. Também adorava brincar de polícia e ladrão. A fantasia toda consistia em ser o melhor, ganhar notoriedade como bom profissional e pessoa do bem. E isto não era um sentimento só meu, era o de meus amigos também.
Eu cresci e a TV continuou presente em minha vida. Com o tempo, por causa das cenas que assistia e pelos comentários que ouvia de meus pais, comecei a me preocupar muito mais com o mundo. Me apavorei com a crescente violência e a impunidade. Me envergonhei profundamente com a corrupção. Chorei com as cenas do sertão brasileiro e seus órfãos. Odiei os políticos, bandidos e a polícia. Amei atores brasileiros e também o Rob Lowe. Fiquei fascinada pelos filmes. Aprendi a amar o futebol, pelo menos em época de Copa do Mundo ! Economizei energia e também desconfiei algumas vezes da TV.
Fiquei adulta e a TV me acompanhou. Que saudade da minha infància ! Saudade das coisas boas, é claro ! Saudade das brincadeiras, dos ataques de risos, das fantasias. Por conta deste saudosismo, fiz um exercício comigo mesma e tentei imaginar, se eu fosse criança novamente, qual o personagem da TV que eu gostaria mais de fantasiar junto com os amiguinhos. Antes de escolher o mais legal, relacionei alguns : a) um bichinho bonitinho mutante, com muito, muito poder; b) uma mulher bonita, gostosona, sensual, com uma máscara e traseiro a mostra, poderosa por conquistar todos os homens, e claro, atrair todas as cameras e flashes; c) cantora de pagode, amiga de traficante e herói por ser vítima do sistema; d) sequestradora da filha do Silvio Santos, fazendo peripécias inacreditáveis, ganhando notoriedade pública pela coragem e pela morte inexplicável, vítima por esconder algum segredo terrível...; e) "Chefona do Tráfico" em uma favela qualquer, determinar toques de recolher, comandar a comunidade local, ser respeitada, temida, arrecadar muito dinheiro e ajudar a comunidade frágil e esquecida, colecionar armas, determinar quem vive e quem continua morrendo, enfim, ser reconhecida por um feito notável - localmente, nacionalmente e, com muito profissionalismo, até internacionalmente.
Realmente me surpreendi com este pequeno exercício ! Que personagens mais estranhos estes que relacionei... Bom, eram os anseios de uma criança apenas. Esta criança imaginária procurou por policiais notáveis, combatentes do crime, homens honrados. Não assistiu nenhum noticiário que exaltasse a honra de um policial corajoso, que morreu durante o combate ao crime organizado. Não conheceu nenhuma mãe que "morria" de orgulho do filho porque foi condecorado por se arriscar e descobrir diversos cativeiros, e ainda ter recebido o prêmio de Policial do Ano das mãos do próprio Governador... Retornei ao exercício de ser criança novamente e adicionei mais um personagem : f) Herói Anónimo do Ano.
Diante desta lista e ainda como criança imaginária, inocente, manipulada e fantasiosa, cheguei a grande conclusão : "Chefona do Tráfico" ! Na minha lista, este era o mais empolgante e famoso papel a representar. Fiquei mais empolgada ainda quando deixei a fantasia se confundir com a realidade e pensei - "quando crescer, eu vou ser a Traficante do Ano !".
Quando a fantasia foi embora e a realidade se instalou novamente em minha mente, tive medo, muito medo. Me questionei por ter escolhido o personagem do mal, em vez do personagem do bem... Senti uma leve dor de cabeça e decidi me distrair um pouco. Imediatamente liguei a TV.
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