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Cronicas-->Excursões -- 28/05/2000 - 09:15 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não há quem não goste de excursões. Mas de todas, as mais emocionantes são as noturnas. Sem a luz, tem-se a imaginação e com ela monstros e fadas. Horríveis precipícios a desviar, feras notívagas em busca de alimento. Animais possessivos a defender seu território contra nós invasores incautos. O que fazer? Como encontrar água na floresta? E um lugar seguro para um xixi que não pode esperar a luz do dia? Gasta-se muita adrenalina. Muita emoção.

Em lugares como este, mesmo que de dia sejam maravilhosos jardins, à noite devemos ter cuidado. Na verdade, todo cuidado é pouco.

Embora não seja um praticante assíduo, acho que estas excursões noturnas são ótimas. Em especial as que faço em busca de água na geladeira.

Levanto com cautela para não acordar Inajá e saio pé ante pé. Na casa anterior uma vez nesta história de pé ante pé dei um chute no baú que tinha perto da cama e até hoje sinto minha unha doer. Eu sabia que era perigoso. Agora o baú assassino foi retirado do meu caminho. Continuando então no pé ante pé, dou a volta contornando a cama em busca da porta do quarto. Lá chegando ganho o corredor e aí todo o cuidado é pouco. Como saber se deixaram o banquinho no meio do caminho? Claro que há uma chave daquelas que liga de um lado e desliga de outro. Mas e o sabor da aventura. O escoteiro que ainda tenho dentro de mim. Como ficaria? Sigo atento. A esta altura estou totalmente concentrado no caminho e sigo pé ante pé pelo corredor. A cada passo a prospecção do terreno em busca de um banquinho traiçoeiro ou quem sabe um pé de meia onde escorregar. Muito mais perigoso agora que a Weni resolveu lustrar o chão como nunca antes fora lustrado. Em dias de luar se a janela do quarto de Cenira é esquecida aberta, o chão reluz como um lago na floresta. Muito mais emocionante. Mas sigo, pé ante pé, até o final do corredor. Este percurso demora algo em torno de um minuto, mas parece uma hora. Todo cuidado é pouco. Não se pode colocar a mão na parede pois pode-se derrubar um quadro. Do outro lado são as portas dos armários que reclamam se forem tocadas. Rangem como se estivessem sendo atacadas e acordam a todos. Terminado o corredor fica mais fácil, guio-me pelos sons da geladeira, do congelador e outras tralhas tantas com seus barulhos noturnos. Como na selva, a cozinha tem muitos sons à noite. Até o relógio de parede que é elétrico faz-se notar com pequenos estalos a cada segundo. De dia, pouco se nota, mas à noite é uma sinfonia.

Na cozinha a primeira providência é achar um copo. Poderia acender a luz, mas insisto no sabor da excursão. Vou cauteloso até o armário e ao abrir a porta um susto. A porta range como que pedindo um pouco de óleo. Mas esta é a hora do mistério e não da manutenção. De mais a mais, eu tenho pavor destes trabalhos, mesmo os mais leves. Com o copo, vou até a geladeira e sirvo-me de água. Uau! Uma delícia. Água pura, gelada como se estivesse bebendo da fonte mais cristalina. É o prêmio pela ousadia noturna, pelo espírito de aventura.

Fecho a porta da geladeira e novamente mergulho nas trevas. Coloco o copo na pia e inicio o caminho de volta. Primeiro a porta da cozinha, depois o longo corredor até a porta do quarto. Lá contorno a cama com uma volta ampla para não esbarrar no baú. Eu sei que o baú já não está lá, mas nunca se sabe do que um baú é capaz quando a gente sai. Assim como fui até a cozinha ele pode ter vindo até o quarto para surpreender-me, vingar-se do ostracismo a que o condenei. De qualquer forma a volta na cama é ampla. Acho meu lugar. Primeiro sento, depois deito.

Antes de dormir, passo um rádio pro Comandante:

Positivo, operante. Pode cancelar a escolta, a missão foi cumprida com sucesso. Càmbio final.


Escrito em 14.07.1999
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