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| Poesias-->A PRECE DO ESCRAVO -- 13/07/2000 - 17:04 (Evaldo josé Lima de Oliveira) |
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Por e para Ti, Senhor, a louvação de um artista anônimo
Fazendo Tua imagem, Sr. do Bonfim, me libertei
Para homenageá-lo, asas à imaginação dei
Concebi, supus e recriei o que nunca vi
E graças a isso embora cativo, livre vivi
Meus antepassados eram livres na África
Até que foram à força trazidos à América
Transportados em condições subumanas
E tratados rudemente em terras estranhas
Lidamos nas lavouras e minas com afinco
Dávamos aos ricos o pão, vestes e brinco
Nossas mulheres os bebês brancos nutriam
E lidando de sol-a-sol um novo país erguiam
Minha estória, nesse tocante, não é diferente
Aprisionado num cômodo isolado de toda gente
Recebi, contudo, uma incumbência muito especial
A de retratar a Tua hora de sacrifício mais crucial
Tudo começou quando um capitão de fragata
No meio de uma tempestade, numa hora ingrata
No mar, jurou fazer se livrado daquele triste fim
Uma imagem dedicada ao Senhor do Bomfim
A graça foi alcançada e o capitão veio a mim
Pois sabia ser eu capaz de tal missão e assim
Contando com um único tronco de madeira
Lutei, fiz tudo para executá-la da melhor maneira
Tal missão por minha consciência também foi dada
Mas nem assim fácil foi por mim considerada
Acima do desafio, só o desejo desse jeito te louvar
E minha alma dos meus erros em Teu sangue lavar
Roguei inspiração aos céus e felizmente a obtive
E me baseando nela todos os cuidados e zelos tive
Esculpi em carvalho teu corpo por algozes tão ferido
E com polpa de frutas o efeito de sangue foi obtido
Usei couro para dar os ombros espantosa flexibilidade
E por muitas vezes tão perfeita obra percorreu a cidade
Na quinta-feira Santa com a Tua imagem pregada na cruz
E na sexta num caixão mostrando-te já morto, ó Jesus
Meu trabalho agradou os ricos, pessoas muito vaidosas
E para engrandecê-la mandaram buscar pedras preciosas
Diretamente das terras da Índia, num longínquo Continente
E coloquei-as em Tuas chagas óh! Salvador de toda a gente
Assim eu com esmero fiz e a imagem mais bela ficou
Minha obra, de perfeita anatomia, a milhares já encantou
Especialistas com meu detalhismo ficam maravilhados
E perguntam-se como tive gosto e estilo tão requintados
Não me considere vaidoso ou arrogante, pois não sou
Só sinto-me feliz pois tal idéia na minha mente se passou
Mas não pense que julgo o mérito exclusivamente meu
Fui guiado por Ti, Senhor, para cumprir um propósito Teu
Talvez tal propósito tenha sido o de mais uma vez provar
O talento de uma raça que a fim dos preconceitos se livrar
Faz da fé, da agilidade, da musicalidade e alegria de viver
Meios para superar todos os desafios que porventura tiver
Segue a história e o tempo com antigos e novos desafios
Com todos nós sendo manobrados por invisíveis fios
Fios da generosidade ou da cupidez, do bem ou do mal
Ora sendo nobres, ora agindo pior que qualquer animal
Todos nós podemos ser lembrados no futuro
Para isso não é indispensável o acúmulo de ouro
Seremos lembrados pelo bem ou mal que praticamos
Ou seja: pelo legado que para os outros deixamos
Da minha herança com detalhes já nestes versos falei
Creio que quanto a minha missão tive êxito, não falhei
E vocês, irmãos? O que andam fazendo dos seus dias?
Aconselho-lhes: Ajam bem e no fim ouvirão lindas melodias
Evaldo de Oliveira 03/97
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