Sustento que não tenho a pretensão
De exagerar nas “dicas” cá do etéreo,
Porém, não vou guardar como mistério
O fato de me honrar nesta escansão.
Proponho ao meu leitor que faça versos,
Uns poucos, pelo menos, num só dia,
E veja se alcançou fazer poesia,
Ou se os poemas são tão-só perversos.
Mas dar valor à forma é de somenos
Que o principal está no conteúdo,
Que é onde hoje eu mais peco, sobretudo,
Se devo aqui trazer temas amenos.
Não devo perturbar-me simplesmente,
Porém, devo tratar de progredir,
Que é tudo o que requer o Wladimir,
Primeiro a perceber se o gajo mente.
Não pude dar a forma do soneto
Ao texto em que pretendo demonstrar
Que tive lucro ao vir a este lugar,
Conquanto nada deixe de concreto.
— “Paciência!” — hei de rogar ao meu leitor.
— “Não feche agora o livro e leia ainda,
Que existe uma emoção sempre bem-vinda,
Nas ânsias com que venho aqui compor.”
Preciso pôr no verso uma esperança,
No entanto, não atino com um fim
Que não seja rogar preces por mim...
E assim o ministério pouco avança.
As quadras já perfazem um bom número
E o riso da caveira está nos ossos.
Perdoe, caro irmão, estes destroços
E cate aí no chão fêmur e úmero.
Valente, a turma toda já reage:
Brincar também tem hora deste lado.
O tema é de respeito pois sagrado
É o tempo dos mortais p’ra “vernissage”.
Eu vou expor meus quadros amanhã.;
Passo verniz agora nas molduras.
Não são as obras minhas muito puras,
Mas brinco e os versos dou por talismã.
Pretendo aproveitar melhor a hora,
Mas devo exercitar-me com o médium.
Nem tudo se publica, que remédio!,
Porém, a lei do amor é que vigora.
Trabalha hoje em silêncio o meu amigo.;
Suspira aliviado entre estas rimas:
Ao látego que sobe tu estimas
Que folgam tuas costas no castigo.
A hora é já chegada de encerrar:
Preciso de uma vela para a luz.
Recorro, finalmente, ao bom Jesus
E rezo uma oração em seu altar.
|