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Artigos-->ANGU DE CAROÇO -- 14/05/2009 - 12:44 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ANGU DE CAROÇO



Francisco Miguel de Moura – Escritor, Membro da Academia Piauiense de Letras



Deitaram falação nas tevês desta cidade que o Governo estaria criando ou ordenando a criação do turismo rural. O turismo rural, onde existe, é sempre voltado para o lazer e, nesse lazer, contam-se naturalmente os prazeres da boca, incluindo paladar e linguagem. Também a cor dos pratos, da comida. É sabido que nossa cozinha antiga não era tão rica, mas alguma coisa boa bem que poderia ser aproveitada, reaprendida, ou experimentada.

Foi numa manhã de passeio pelas ruas desertas, sem fastio do feriado prolongado, que me veio à lembrança de meu tempo de menino. Comida excelente, tanto no sabor quanto no valor nutritivo: o angu de milho. O angu de farinha é muito conhecido, comum e pobre. Já o angu de milho exige certa ciência no seu preparo. Primeiro: contém carne seca, picada, mais ou menos como quando se vai fazer um “maria isabel”, só que essa carne tem que ser amaciada no pilão. Depois, dentro da água fervente e devagarinho, com uma colher de pau, vai-se jogando a massa de milho. E essa massa, preparada com antecedência, dá trabalho. No dia anterior, o milho é posto de molho, em água, durante a noite; em seguida, pega-se o milho amolecido e leva-se ao pilão ou moinho (mas eu ainda sou do tempo do pilão), triturando-o até transformar-se em massa e passada pela peneira. Enxuta, pronta, vai sendo lançada devagarinho, na panela de água quente, já temperada com alho, cebola, coentro e pimenta do reino. Mexendo com uma colher de pau, daí a poucos instantes está pronto o prato maravilhoso, para ser servido. Pois bem, quem sabe hoje o que é angu de milho?

Para o turismo rural é bom restaurar não somente o angu, mas a maneira antiga como era feito: de milho (não é milho verde) pisado no pilão. Se não forem encontrados mais pilões, devem ser construídos e vendidos nas lojas de artesanato. A lembrança de registrar este prato da cozinha rural me veio por causa de certa pendenga que tive com o parceiro de num trabalho que fazíamos juntos. Mas a obra era minha. Acontece que amigos do meu parceiro e meus inimigos, começaram a “botar gosto ruim” na obra: “deve ser assim, deve ser assado, não vai dar certo, fica feio”. Ao lembrar, exclamei: “Tem muita gente botando caroço em meu angu!”. É, sem técnica pra fazer esse prato, o angu de milho sai embolado, cheio de caroços de massa crua, ruim de ser mastigado, ao passo que quando é feito por quem sabe e com paciência, fica macio como qualquer outra massa comestível. O angu de milho deve ter outros nomes: mingau, curau, sei lá mais o quê. Porém o que descrevi é bem diferente, é comida de almoço ou janta e não merenda.

Do milho, há outras comidas que nunca mais ouvi falar: mucunzá (terá outras formas, muncunzá, mungunzá, etc.). Também é comida de sal pra refeição maior. É assim: feijão cozendo no fogo como se faz uma feijoada, com mão-de-vaca, língua, costela, pé-de-porco, não importa. Mas o milho é posto de molho durante a noite, para não ficar cru, e colocado na panela, com o feijão já em fervura. Misturam-se os dois e espera-se um bom tempo cozinhando junto. O feijão tem que ser preto ou amarelo. Depois, coloca-se o tempero, de preferência gordura de porco, alho e mais alguma coisa como pimenta do reino. Come-se bem e com muito gosto. Comida saudável e nutritiva, embora um pouco pesada. Com estas indicações, quero ajudar, não boto caroço no projeto do turismo rural. Acho que é possível. Mas é preciso buscar nossas raízes. Há muitos outros pratos na cozinha piauiense que precisam ser ressuscitados e apresentados aos turistas que visitem uma fazenda antiga onde se vivia da lavoura e criação de gado.



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