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Contos-->A Lenda do Castelo da Última Cruzada -- 07/08/2002 - 06:11 (Cesar Sanchez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Santos, 24 de Março de 1998, hs:10:28

01) A nova fase. (quatro anos mais tarde).*
Quando eu me pegava escrevendo sem saber quem iria ler ,
Comecei a pensar nos grandes escritores, para quem eles escreviam?
E surgiu em minha mente uma resposta não sei se verdadeira, na qual se escrevia para si próprio .
Mas não é bem assim, é necessário passar o conhecimento à diante, mesmo que tal conhecimento seja ele mínimo.
Sempre existirá alguém necessitando de informação, e o nossos escritores estão aí para isso.
Este é o primeiro de uma série de livros que se tudo correr bem, irei lançar.
Não no intuito de me realizar financeiramente, mas de poder trocar informações, adquirir e repassar pensamentos.
Espero que apreciem, apesar de um pouco mórbido é um livro que mostra algumas verdades do nosso coração, seja ele bom ou mal.

Ass: Cesar Sanchez
Hs: 10:42
*Durante quatro anos escrevi um livro, o resultado foi trezentas e oitenta páginas, mas por motivos pessoais resolvi não editar, que sabe uma próxima vez ...

02)A lenda do Castelo da Última Cruzada.
Foi a muito tempo atrás, num passado remoto, esquecido pelo tempo...
Ele um homem de respeito, adquirido por sua humildade, vivia em um vilarejo na Espanha, era bem casado, não tinha filhos e amava muito sua companheira.
A sua vida era uma vida normal, como a de qualquer homem da época, até que um dia, um rei que vivia nas proximidades lhe convocou para uma missão.
No mesmo momento ele aceitou e partiu para viver os piores momentos de sua vida, o que o destino lhe reservara.
Seu nome era Ramirez.
Nunca antes tinha participado de uma batalha, mas o destino de Ramirez estava traçado, e ele nada podia fazer para mudar o rumo da dor que viria a sentir.
Foi numa tarde ensolarada que Ramirez se apresentou no Castelo da Última Cruzada, assim chamado, por que todos os grandes exércitos ali se debruçavam perante a morte.
Ramirez foi treinado dia e noite com mais uma centena de outros agricultores, que ali viriam a conhecer todas as formas de tirar uma vida.
Ramirez comentou com um soldado do castelo.
_Senhor, por favor, quando estaremos prontos para lutar?
_Estamos esperando um ataque francês a qualquer momento, agora volte a fazer o que lhe foi ordenado.
_ Ramirez, era um homem valente e não temia a morte, mas sentiu um calafrio quando o soldado dissera que a qualquer momento poderiam ser atacados. Um ataque que não aconteceu.
No seu lado direito, Ramirez percebeu um galpão enorme e a única coisa que se percebia era o som do ferro sendo batido, na construção de novas armas, já do seu lado esquerdo podia se ver um enorme campo de trigo onde mulheres plantavam e colhiam.
Nos primeiros dias Ramirez ficou atento a todos os movimentos militares dentro e fora do castelo, o que mais tarde, faria de Ramirez o melhor guerreiro do Castelo da Última Cruzada.
Seis meses mais tarde Ramirez voltava para casa, já devidamente treinado pelo exercito espanhol .
Contou para sua esposa Karina, tudo o que tinha acontecido dentro de um dos castelos mais temerosos da época.
Lembrou, de quando chegou nos aposentos do castelo e foi pessimamente recebido por soldados mais experientes do que ele.
Lembrou se também de uma pequena recompensa que adquiriu, por salvar a vida de um dos soldados que lhe tratara mal.
Não era Ramirez um homem de contar vantagens, pelo contrário, se inibia as vezes ao contar uma proeza que realizara.
Mas o verdadeiro dom de Ramirez ainda seria descoberto.
Um dia na janela de sua casa, avistou um homem de vestes estranhas, sentado de baixo de uma árvore, este esfregava uma mão na outra como se estivesse acariciando os calos de anos de trabalho árduo, e que talvez pensasse “o que, que eu fiz de minha vida?”
Ramirez não hesitou, e foi logo em direção ao homem, levando à ele um pouco d água e comida. O coração de Ramirez era bom.
O homem logo agradeceu, se apresentando.
_ Meu nome é Paulo .
_O meu é Ramirez .
O que faz aqui, sentado sozinho?
_ Procuro por uma pessoa a quem posso passar os meus ensinamentos, sou um ferreiro e é tudo que sei fazer.
_ Ramirez se levantou e levou o homem até o castelo em que aprendera a lutar, designou seu tempo à Paulo e mostrou que lá poderia trabalhar e ensinar o que aprendera durante anos de trabalho.
E mais uma vez Paulo agradece a Ramirez .
Um ano mais tarde, Ramirez já um guerreiro graduado, foi até o galpão onde Paulo trabalhava e viu que valera a pena ter levado Paulo para trabalhar no castelo.
Quando lá chegou foi parado por um aprendiz de Paulo, que subitamente o levou para uma sala subterrânea.
_Incrível . _ diz Ramirez .
Ele avistara centenas de espadas, escudos, armaduras e outros tipos de armas, todas feitas em ouro.
Foi então que Ramirez percebeu que se tratava de um alquimista.
Paulo era um alquimista.
Paulo pediu para que Ramirez guardasse segredo, entregando lhe uma espada de ouro maciço.
Mas este presente se tratava de um aviso, que Paulo transmitia a Ramirez .
Um aviso de que a maior batalha de todos os tempos iria surgir.
Dito e feito duas semanas seguintes, o Castelo da Última Cruzada era atacado por uma enorme tropa de bárbaros,
Que vinham aterrorizando todo o continente europeu, saqueando vilarejos, cidadelas, e até grandes reinados.
Mas Ramirez não temia, foi logo dando o alerta no vilarejo, e pela primeira vez na estória os plebeus rebelados, se uniram com os soldados do rei .
Realmente foi a maior batalha já vista na face da terra.
Centenas de cabeças decepadas, braços e pernas cortadas, e não havia quem fizesse que os bárbaros se rendessem, se um deles perdiam um braço imediatamente eles enfiavam tochas de fogo no ferimento para que o sangue estancasse, somente com o intuito de voltar à batalha.
Nem Ramirez, nem os outros soldados acreditavam no que estavam vendo.
Aqueles bárbaros eram patriotas em demasia, e tinham gosto em ver os outros exércitos sucumbirem diante de suas forças .
Mas naquela tarde o inverso aconteceria, afinal aqueles bárbaros haviam desafiado os guerreiros do Castelo da Última Cruzada.
Depois de quase dois dias dos bárbaros terem sucumbido diante do exercito local, começou a parte mais difícil, procurar mortos e feridos.
O que Ramirez não esperava é que sua esposa havia sido violentada durante a batalha.
Karina havia sido espancada e violentada por vários bárbaros, e estava muito machucada.
Ramirez não se conformou, como poderiam ser tão podres?
Paulo já recuperado de alguns pequenos ferimentos em seu braço esquerdo, preparou um remédio a base de ervas e entregou à Ramirez que logo administrou o remédio em Karina, que por fim adormeceu em sono profundo por três longos dias. Paulo disse a Ramirez que não se preocupasse pois era durante o sono que Karina iria se recuperar .
Mas uma vez o alquimista que Ramirez conhecera tinha razão, Karina despertou do sono que o remédio produzira.
Quando despertou, não se recordava de nada , sentia apenas o corpo dormente.
Então abraçou fortemente Ramirez, e começou a lembrar de quando se conheceram...
Era uma tarde bela de sol forte, e Karina sempre buscava água num poço perto de sua antiga casa onde morava com seus pais, era muito pequena, tinha apenas 15 anos, e Ramirez trabalhava como carpinteiro e agricultor junto ao pai.
Então o destino trataria de que os dois se encontrassem com um típico esbarrão, essas peças que o destino costuma criar, e de lá para cá , Karina e Ramirez nunca mais se separariam.
Esta lembrança fez com que Ramirez sentisse saudade daquela época que não havia guerras para se lutar.
Mas a verdade era outra, uma batalha acabara de terminar e sua amada estava ali nos seus braços se recuperando de uma fatalidade, que Ramirez não se conformava.
Ramirez olhou para o céu e perguntou.
_Porque Deus, fizeste isto com a mulher que escolhi para me acompanhar durante a minha vida?
_Mas Deus nada respondeu, permaneceu em seu magistral silêncio.
E Ramirez caiu em choro compulsivo diante da esposa que voltara a dormir.
Anoitecia quando Paulo chegou na casa de Ramirez,
com uma notícia , que soubera ainda no castelo, o rei havia convocado Ramirez e mais oitenta soldados para investigar denuncia de bruxaria nos vilarejos ao redor do castelo, inclusive onde Ramirez morava.
Na manhã seguinte, Ramirez levantou cedo e percebeu que Karina não mais estava em casa.
Mesmo assim saiu, e foi ao castelo obter mais informações sobre o caso das feiticeiras que andavam na região.
Recebida as ordens, Ramirez, que agora era um soldado graduado e com bom conceito perante o reinado, tratou de comandar o deslocamento de sua tropa aos vilarejos da região .
Logo no primeiro vilarejo em que chegaram, encontraram os primeiros vestígios de um ritual macabro que outrora acontecera ali. O local era sim um pouco distante do vilarejo, mas não tão distante que os soldados de Ramirez não pudessem encontrar.
Eram restos de fogueira, roupas queimadas, e garrafas de vinho quase vazias, tudo indicava que havia acontecido um Sabbat naquele local.
Os soldados invadiram as casas da região e prenderam algumas mulheres suspeitas de bruxaria, que imediatamente, foram levadas ao castelo para serem julgadas.
A inquisição, costumava queimar vivas as mulheres consideradas bruxas.
Ramirez, católico que era, não hesitava em condenar todo tipo de religião que não fosse a cristã.
Ainda mais a bruxaria, que era coisa satânica para os rigores da época.
Paulo desconfiava da esposa de Ramirez, por que por mais que o remédio administrado por ele à Karina fosse muito bom, o efeito não teria dado resultados tão rápidos.
Mas Paulo sem ter certeza, nada comentou com Ramirez.
O tempo foi passando e denúncias de feiticeiras nas redondezas aumentavam.
Mais uma vez o alquimista Paulo tinha razão , afinal ele era um deles e conhecia bem os rituais de seitas como as que vinham acontecendo.
Certo dia em que Ramirez estava de prontidão no castelo Paulo foi até a casa de Ramirez para esclarecer o assunto com Karina mas ela ainda não havia voltado para casa, com liberdade que tinha para com Ramirez entrou na casa e vasculhou algumas coisas e finalmente achou o que procurava , o livro do pentagrama, onde as bruxas guardavam suas experiências e segredos, um livro que jamais deveria ser lido por outra pessoa.
Paulo que conhecia bem a tradição, respeitou a mesma e não abriu o livro, mas teve a certeza que Karina era mesmo uma bruxa.
Guardou o livro onde o encontrou e saiu em disparada à procura de Karina.
Paulo atravessava um caminho só conhecido por soldados do reinado, quando começou a sentir se mal, uma tontura incontrolável, até que Paulo caiu desmaiado.
Durante o tempo em que Paulo ficou inconsciente, teve visões, via nitidamente, Karina dançando com mais seis outras mulheres ao redor de uma fogueira, havia música uma música que nunca havia ouvido antes, eram sons estranhos de garrafas batendo uma na outra, risadas e gritos que acompanhavam o ritmo da música, ouvia sons distorcidos de cítaras e mais risadas.
Ele tivera uma prévia do que aconteceria naquela noite.
Já faziam três dias em que Karina havia desaparecido, e tudo indicava que Paulo encontraria Karina no local que tivera o desmaio.
Paulo levantou se e seguiu em direção do castelo.
Ramirez estava deixando o castelo quando Paulo chegou.
Ramirez, Ramirez _ gritou Paulo .
_O que houve ?
_Eu descobri tudo.
Karina é uma feiticeira, eu posso te levar até ela ainda hoje.
_Isso não pode ser verdade...
_Não pode ser, mas é!!!
_Ramirez não podia acreditar que a mulher com quem casara era uma bruxa.
Mas o alquimista não se enganava nunca.
Levou Ramirez até uma taberna e lhe contou tudo que havia acontecido.
Ramirez ficou perplexo e pediu uma caneca de run, que virou num só gole.
_chegou a hora , disse Paulo .
Paulo e Ramirez se deslocaram para o local onde aconteceria o encontro.
Lá chegando se esconderam em cima de uma árvore, um carvalho, onde esperaram por muito tempo.
Ramirez já cansado de esperar resolveu descer e ir embora, quando foi seguro por Paulo que logo lhe mostrou três mulheres que se aproximavam trazendo lenha, e mais uma carregando ferramentas geralmente usadas por homens.
_É ela , disse Ramirez .
Logo em seguida, outras pessoas foram chegando, inclusive uma bruxa já conhecida de Paulo.
Chamava se Nastacha, era bela, como nenhuma outra mulher que Paulo houvera conhecido antes.
Nastacha pegou uma garrafa e despejou em cima da lenha o liquido que nela havia, e como num passe de mágica a lenha incendiou se.
As labaredas tinham uma cor meio esverdeada e em poucos minutos o local estava cheio de mulheres desnudas, dançando e rindo em volta do fogo.
Paulo e Ramirez pareciam hipnotizados com o fogo e as risadas que ecoavam naquela floresta.
Era tudo muito belo e no seus inconscientes desejavam estar lá .
De repente surgiu Karina com vestes vermelhas e começou a recitar versos em latim, pareciam preces satânicas, neste momento tudo que se ouvia era a voz de karina , que parecia um sopro.
O ritual se prolongou até o alvorecer, Paulo e Ramirez adormeceram em cima da árvore e quando acordaram tudo já tinha acabado.
Tinham a sensação de que tudo não passara de um sonho, ou no caso de Ramirez o pior dos pesadelos.
O que aconteceu naquela noite , foi um ritual de iniciação, na qual Karina foi a mestre de cerimônia, seguida de perto por sua mestre, a feiticeira Nastacha.
Karina temia que Ramirez descobrisse, sabendo da sua opinião.
Ramirez decepcionado voltou para o castelo e ficou a pensar se denunciaria ou não a esposa para o poder da inquisição.
Neste exato momento lembrou que a espada que carregava em seu cinturão tinha sido feita por um alquimista, um bruxo e que esse bruxo era o seu melhor amigo.
Não podia trair seu amigo, já que Paulo se descoberto também teria morte certa e trágica.
E sendo assim sua esposa consecutivamente.
Tratou de voltar a sua casa para esperar Karina e resolver o desatento criado.
Ramirez não sabia que Karina só voltaria três dias mais tarde, pois o ritual de iniciação não terminara naquela noite .
Durante a madrugada Ramirez acordou assustado e suando muito, Ramirez suava frio, em seu pesadelo tinha visto ele mesmo tocando fogo em Karina que se encontrava amarrada em uma árvore.
Ramirez pedia socorro ao seu coração, que assim como Deus continuava calado em silêncio magistral.
O galo cantara, era hora de Ramirez ir para o castelo, era mais um dia de trabalho árduo .
Ramirez encontrou Paulo no meio do caminho e perguntou se ele seria digno de aprender a magia.
Ramirez precisava saber o que atraía tanto o seu melhor amigo e sua esposa para o lado inimigo.
Ele só não poderia saber, que se continuasse a pensar desta forma de nada saberia.
Paulo então disse a Ramirez :
Magia não se aprende, se nasce com ela.
_ Eu nasci com ela?
_ Não sei . _ respondeu Paulo .
_Era preciso testar seus conhecimentos, e Paulo sabia disso.
Um dia Paulo ensinou uma estória a Ramirez que dizia que um verdadeiro sábio era o único que podia contar todas as estrelas do céu apenas olhando para o chão .
Ramirez achou que Paulo poderia ter lhe contado uma estória sem nexo, não deu importância.
Frase que mais tarde lhe salvaria a vida.
No dia seguinte Karina volta para casa, e conta toda a verdade à Ramirez .
Ramirez se zangou e fez com que Karina lhe pedisse perdão, Karina assim o fez.
Três meses mais tarde, uma tropa de rebelados tentou uma rebelião, uma luta injusta já que o exercito rebelado estava em minoria .
Ramirez em meio a luta com um rebelado recebeu um golpe onde deixou cair sua espada, mas antes de receber o golpe mortal o rebelde foi atingido pelas costas por um machado de fina lâmina .
Antes mesmo que pudesse pensar, um rebelde que usava um elmo cheio de estrelas em relevo tentou o atacar de cima de uma árvore, quando Ramirez olhou para o chão viu no reflexo de sua espada o elmo cheio de estrelas do rebelde, não hesitou se atirou no chão pegou a espada e golpeou sem dó o pescoço do rebelde, nesse momento se lembrou do que o amigo Paulo lhe dissera algum tempo atrás ,
“que o verdadeiro sábio contava todas as estrelas do céu somente olhando para o chão .”
Desta vez foi Ramirez que agradeceu a Paulo por mais um aviso.



Segunda parte: Almas Gêmeas.
Existia um motivo para que Ramirez e Karina tivessem se encontrado nesta vida, ele um soldado cristão e ela uma feiticeira?
Sim existia.
Eles eram pequenos pedaços de uma mesma pessoa, que hoje estavam separados.
Mas disto nenhum dos dois desconfiavam.
Mas uma pessoa sabia da realidade, e essa pessoa era Paulo .
Paulo percebia o brilho cristalino nos olhos de Ramirez e de Karina, mas também sentia se só .
Depois da última batalha, Ramirez foi condecorado à Chefe da Brigada Maior da Guarda Montada do Castelo da Última Cruzada.
Ramirez tinha muita estória para contar aos seus filhos quando os tivesse, mas o tempo não permitia que Ramirez sonhasse tanto.
Paulo continuava como ferreiro do castelo, mas Paulo não tinha ambição em seu coração, afinal ele era um mago e sabia fabricar ouro de maneira fantástica.
Não lhe faltava nada, a não ser uma companheira...
Se lembrava com grande carinho de Nastacha mulher que amara muito no passado.
E que hoje dedicava sua vida a rituais de feitiçaria.
Nastacha tinha se tornado uma mulher fria, não sentia mais os desejos carnais, não gostava da aproximação de homens em que ela percebia que tinham nela um interesse maior do que devia.
Mas era tempo de parar de sonhar.
O tempo foi passando e a província de Andaluzia ia crescendo, pessoas de outros lugares iam chegando e se estabelecendo naquela, que não mais era um vilarejo.
Ramirez e Paulo faziam parte daquele crescimento, e Karina também .
Um dia Paulo estava sentado no mesmo lugar onde conhecera Ramirez , desta vez com uma rosa vermelha na mão .
Quando Karina chegou em casa com dois baldes de água, percebeu uma aura ao redor de Paulo e ficou a reparar de longe, percebeu que Paulo fazia a flor desabrochar com apenas alguns toques, então percebeu que Paulo também tinha dons, assim como ela .
E ficou a pensar se Ramirez sabia dos dons do amigo.
Karina começou a olhar Paulo com outros olhos, parecia interessada em Paulo, mas tinha receio de magoar Ramirez .
Com o tempo o sentimento de Karina foi crescendo de maneira incontrolavel .
E Karina já não sabia o que fazer, consultou seu oráculo que permaneceu inerte às suas dúvidas.
Já Paulo, sentia a diferença no comportamento de Karina, mas não queria acreditar que tal fato pudesse ser verdade, se afastando então de Karina .
Ramirez de nada suspeitava, continuava amando sua esposa, mesmo sabendo que era uma feiticeira, e que feiticeiras costumavam ser traidoras.
Seu único medo era que Karina fosse descoberta pela inquisição .
Mas como era de costume, Ramirez foi novamente destacado para uma missão longe de Andaluzia, seriam quase dois meses de viagem, com mais trezentos soldados se deslocou para Porto de Gales onde deveria entregar uma carga muito valiosa, negócios dos dois reinados. Que nem mesmo Ramirez sabia do que se tratava.
Ramirez esperava encontrar saqueadores no caminho, até Porto de Gales, mas seu exercito era quase invencível, na primeira pequena tentativa de furto o exercito de Ramirez sofrera apenas vinte e duas baixas.
O resto do caminho foi tranqüilo, fato que deixou Ramirez surpreso, afinal quando um grupo descobria que mercadorias de grande valor estão para passar naquela região , era muito fácil que outros grupos de saqueadores também tentassem atacar.
Enquanto isso, em Andaluzia Karina procurava Paulo para saber mais sobre o tipo de magia que Paulo usava, e de que linhagem vinha Paulo.
Seu interesse por Paulo aos poucos parecia se transformar em algo parecido com amor.
Mas Karina ainda não tinha certeza do que sentia.
Ela via em Paulo aquele rosto marcado pelo tempo, aquelas mãos calejadas e imaginava que ele pudesse lhe dar a mesma segurança que Ramirez lhe dava, mas com a liberdade religiosa que ambos tinham.
Paulo se tornara para Karina, um Ramirez mais maduro, sem muitas ilusões , com o pé no chão.
Karina criou coragem e foi ao castelo procurar os aposentos de Paulo, foi fácil de encontrar.
Paulo pediu para que Karina se afastasse dele, pois não queria se machucar, como se machucara com Nastacha.
Mas Karina o empurrou no chão e sentou se por cima dele.
Dizendo que precisava tirar uma prova, e então o beijou tão docemente que Paulo não resistiu e retribuiu, naquele momento Paulo encontrara sua alma gêmea.
Karina era o pedaço que faltava, era tudo que ele não tinha.
Se amaram por toda a noite, e nos olhos de Karina podia se ver o brilho dos diamantes, e nos olhos de Paulo podia se ver Karina .
Ramirez, sempre imaginou que um dia perderia Karina .
Mas Ramirez era um homem que tinha muitas mulheres, pois viajava muito e em cada missão completada, haviam muitas festas.
Mas seu amor verdadeiro, ele guardava para Karina, a única que amara de verdade.
Ramirez ainda viajava a Porto de Gales, enquanto vários outros encontros aconteciam, entre Paulo e Karina.
Mas o que poderia fazer o pobre coração de Paulo contra o sentimento de afeto que sentia por Karina.
Karina estava decidida a contar a Ramirez o que ela também sentia, aquele sentimento de carinho por si mesma, era o que sentia. Paulo era a sua outra metade.

Dois meses se passaram e Ramirez planejava a sua vinda para Andaluzia .
A viagem de volta seria mais rápida, pois não havia mais a bagagem que se tornara tão pesada na ida até Porto de Gales.
Ramirez sentia em seu coração uma angustia muito forte e não sabia o motivo daquele sentimento ter se apossado dele com tanta força.
Era inevitável.
Todos percebiam como Ramirez andava calado demais, mas ninguém ousava perguntar, não era bom sinal, pensavam os soldados.
Quando a tropa de Ramirez foi avistada no horizonte, as mulheres dos soldados, correram todas para fora de casa para saberem se seus maridos estavam todos bem.
Menos Karina que resolveu esperar Ramirez em casa, bem ou mal ela precisava dar uma noticia não muito agradável.
Karina tinha medo da reação de Ramirez, lembrou se de quando ele soubera que ela era uma bruxa.
E a fez pedir lhe perdão de joelhos, se bem que Ramirez nunca tinha lhe agredido fisicamente.
Karina admirava Ramirez, tinha lhe respeito mas o destino havia mudado a direção de seu amor.
Terceira parte : As Lágrimas de Ramirez .
Ramirez sentiu ódio de si mesmo, quando soube que tinha sido traído por sua esposa e seu melhor amigo.
Ramirez se refugiou no castelo e tentava se esforçar para entender o que acontecera em sua ausência.
Sabia que seria doloroso ver Karina nos braços de outro homem, mas tinha que aceitar o destino que lhe fora reservado.
Quieto, trabalhava ensinando os novos soldados que haviam chego no castelo.
E toda noite seus lamentos se desmanchavam em lágrimas salgadas.
Mas sabia que um dia aquela dor passaria e que poderia voltar a ser o Ramirez de antes.
Paulo por muitas vezes tentou falar com Ramirez, mas de nada adiantou.
Ramirez se trancara num silêncio mortal, e só dirigia lhe as palavras quando havia necessidade profissional .
Ramirez tinha se tornado um homem amargurado pela dor do amor.
Certa tarde Ramirez ficou preso em baixo de uma das oito torres do castelo por causa de um enorme temporal.
Paulo não hesitou e foi de encontro à Ramirez .
Paulo pensou consigo, desta vez ele há de me ouvir.
_ Ramirez, o destino fez com que nossa amizade chegasse ao fim.
Mas antes que você vá embora, ou que me mate, você precisa saber que não tivemos culpa do que aconteceu.
Foi tudo tão rápido que quando me dei conta eu estava amando Karina , por favor perdoe seu amigo.
_Ramirez olhou com desprezo para o amigo traidor e saiu andando no meio do temporal, seguiu para o alojamento dos soldados e lá se embriagou sozinho num canto chorando como uma criança compulsiva.
Paulo chegou na casa que antes era de Ramirez, estava abatido, Paulo era um homem bom e sabia que magoara o amigo e se sentia mal por isso.
Karina percebeu que algo havia acontecido, mas preferiu ficar em silêncio e esperar que Paulo se manifestasse.
Mas Paulo nada conseguira falar, sua mente dizia para que abandonasse Karina, mas seu coração dizia que ele devia cumprir seu destino, e seguir em frente, pois um dia Ramirez encontraria sua alma gêmea e tudo então se resolveria .
Ramirez saiu à noite depois que se embriagou e foi até uma taberna, onde reconheceu a mulher que acompanhara Karina no ritual que ele e Paulo haviam presenciado.
Nastacha , a feiticeira, viu Ramirez e mesmo de só o conhecer pelas estórias que Karina contava sobre ele se aproximou e perguntou lhe :
_ Dói seu coração por Karina?
Pois saiba que ela nunca foi sua , sua alma gêmea ainda não surgiu para você.
Mas não tenha pressa, seu coração saberá quando ela chegar.
_Ramirez se impressionou com o diálogo de Nastacha, e ficou parado por um tempo e depois perguntou qual seria o sinal de seu coração quando sua alma gêmea surgisse.
Nastacha se calou, pois ela sabia que Ramirez não aceitaria sua resposta, afinal ele achava que Karina fosse sua outra parte, o que parecia ser verdade, mas não era.
Mas então Ramirez jurou para si próprio que teria o prazer de decapitar Paulo.
Na manhã seguinte Ramirez foi até o encontro de Paulo armado da espada que Paulo havia lhe dado como um presente e de outra que ele mesmo fizera especialmente para a ocasião.
A única diferença das duas espadas é que uma era feita de ouro a outra de ferro .
Quando Ramirez encontrou com Paulo , Ramirez fez questão de devolver a espada de ouro e enfincou a de ferro no chão o chamando para o duelo.
Paulo olhou bem dentro dos olhos de Ramirez e disse:
_Nós dois sabemos que não é isso que desejamos fazer um com o outro, apesar da nossa incompatibilidade, temos de ser homens verdadeiros e entender os problemas que nos cercam.
_Ramirez retruca.
_Não há homem que agüente passar o sofrimento por qual eu tenho passado.
É injusto, preciso lutar e colocar a minha honra no topo do mundo.
_Não há topo do mundo, para um homem que tenta matar seu amigo.
_Ora seu...
_Ramirez pega sua espada e a levanta por cima do ombro direito e corre na direção de Paulo.
Paulo não pensa duas vezes e cata do chão a espada de ouro e a empunha em posição de defesa, Paulo não tinha a intenção de lutar com Ramirez.
Ramirez estava transformado, desejava matar Paulo a qualquer custo, Paulo somente se defendia, até que um golpe de Paulo acertou Ramirez no lado direito de seu peito e Ramirez cai urrando de dor, neste momento o padre do vilarejo que se aproximava colocou Ramirez em cima de seu cavalo e o levou para uma abadia que ficava floresta a dentro.
Lá chegando o padre o coloca em uma cama e trata de fazer os devidos curativos.
Passaram se dois dias do acontecido e Ramirez ainda vivo, ardia em febre.
Passava horas chamando por Karina , sem obter uma resposta.
Mas Ramirez era um homem forte, e sobreviveria aos ferimentos causado pela espada de ouro.
Na abadia vivia o padre Ruan e mais três pessoas entre elas uma moça que o padre Ruan cuidava desde pequena.
Chamava se Maria, era menina nova e muito bela, e seu sonho era que um dia pudesse encontrar alguém que a tirasse de dentro da abadia.
Sonhava em conhecer o mundo junto de seu príncipe encantado.
Maria ajudava o padre em quase tudo dentro da abadia, mas era tratada como uma serviçal e não com o respeito que gostaria.
No vilarejo as pessoas queriam saber o que acontecera com Ramirez, mas o silêncio era absoluto, e só Paulo sabia o que se passava com Ramirez, Paulo queria ajudar o velho amigo mas não podia, Ramirez sentia ódio de Paulo.
Karina preocupada com Ramirez sai a sua procura.
Mas depois da febre, Ramirez se recuperou e se lembrou do que tinha acontecido e sentiu que o amor que tinha por Karina era o seu pior inimigo, era esse amor que fizera que Ramirez perdesse o amigo, que o fizera beber, e que quase lhe tinha tirado a vida . Não era bom para ele.
Neste momento o padre e Maria entram no quarto de Ramirez , com um prato de comida e uma caneca de chá.
Ramirez ficara impressionado com a beleza de Maria , mas não tinha forças para pensar nisso .
Tudo que queria era se recuperar totalmente para poder sair dali o mais rápido possível.
Enquanto isso no castelo as pessoas sentiam falta de Ramirez.
Paulo ficava calado ninguém poderia saber o motivo do desaparecimento de Ramirez.
Uma vez que o boato corresse, a segurança de Karina e de Paulo estaria ameaçada.
Paulo um alquimista e Karina além de ser uma bruxa era também adúltera.
Considerado os piores crimes que uma mulher podia praticar. A lei do fogo, era o destino (ab origini ab irato.) desde a origem, guiado pela cólera.
Karina temia, mas também sabia que como bruxa , tinha suas maneiras de escapar.
Paulo se trancou no quarto secreto que havia construído dentro do galpão onde trabalhava , e iniciou mas uma sessão de seus trabalhos, mas nessa noite havia levado Karina que presenciaria pela primeira vez, Paulo transformar chumbo em ouro.
A alquimia não permitia que seus seguidores realizassem tais rituais, só por que tinham vontade.
Tinha que ter um motivo aparente.
Paulo iria fazer para Karina um presente que jamais esqueceria, Paulo fez com que Karina se sentasse .
Paulo vestiu um manto negro, ascendeu em seu esplendor a pura magia .
Paulo começou a recitar palavras em latim antes de começar o ritual. Era uma forma de agradecer e invocar os antigos espíritos da alquimia, que lhe auxiliariam naquele momento tão sublime de um alquimista.
_ Abyssum, Abyssum Invocat
Ad gloriam ad clef .
Ad honores ad libitum.
Ad patres ad nutum.
Aere perenium
Ad vitam aeternam
Perpetuam rei memoriam.
O que no latim dizia:
O abismo invoca o abismo
Pela glória, a chave
Pela honra, a vontade
Para os antepassados, a ordem
Mais duradoura que o bronze
A vida eterna, é a lembrança perpetua do fato
E com essas palavras Paulo iniciou o ritual que duraria horas.
Karina se espantou com o poder que Paulo possuía.
Paulo fizera um bracelete em ouro usando o chumbo e um pouco de seu próprio sangue.
Este bracelete serviria como uma aliança entre os dois.
Karina percebera durante o ritual que Paulo entrara num transe muito forte. Ele a olhava como se não a conhecesse, um olhar distante e sombrio habitava os olhos de Paulo. E novamente ele recitou palavras em latim:
Nom ominis moriar
Stato quo
Donec eris felix multos numerabis amicos.
O que dizia: não morrerei inteiramente
Do jeito anterior
Enquanto fores feliz, terá inúmeros amigos.
_Depois de dizer estas palavras, saiu do transe subitamente.
E então levou Karina, para a sala superior onde se deitaram, e aquela noite seria inesquecível para Karina e Paulo.
Ramirez estava quase recuperado dos ferimentos de sua última luta, aquela que travara com Paulo .
Certa manhã Ramirez se levantou e foi até o refeitório onde encontrou Maria. Sentiu se atraído por Maria, sabia que devia parte da sua recuperação para aquela menina com jeito de mulher.
Agradeceu Maria com um beijo no rosto, Maria se arrepiara por inteira e pela primeira vez tinha se sentido uma pessoa útil. Era um gesto simples mas que tinha mexido com o coração amargurado de Maria .
Ramirez, começou a sentir algo diferente, talvez fosse aquele sentimento que outrora Nastacha lhe havia falado.
Assim como Ramirez, Maria também estava encantada.
Maria sonhava com um momento como aquele, e com certeza seu sonho se tornaria realidade...
No entanto Karina acreditava piamente que Ramirez só tinha olhos para ela, não imaginava que depois daquela luta que Ramirez e Paulo travara, por causa de seu coração, Ramirez fosse sentir algo por outra pessoa que não fosse ela, também por que não tinha certeza se Ramirez sobrevivera.
Mas Ramirez era forte, e a única coisa que poderia o derrubar era um grande amor não correspondido.
Como o de Karina e talvez agora o de Maria.
Mas Maria era diferente, moça pacata de boa formação, religiosa por natureza se tornaria o paraíso astral de Ramirez.
Certa noite de lua cheia, Ramirez estava sozinho, sentado do lado de fora da abadia observando o luar, era madrugada e todos dormiam, ou melhor todos menos Ramirez e Maria, que se aproximou lentamente e sentou ao seu lado.
Maria estava interessada em Ramirez e o cercou com várias perguntas sobre seu passado, Ramirez era um ser humano muito bom, e respondeu todas as perguntas de Maria com muita cordialidade, contou à ela todo o seu passado até o dia em que chegara à abadia ferido.
Maria se impressionou com a estória de Ramirez se tornando cada vez mais apaixonada.
Cada frase de Ramirez soava como um canto lírico aos ouvidos de Maria, que ouvia tudo com muita atenção, Maria sabia que estava fazendo bem à Ramirez, pois desde que Ramirez chegara à abadia não conseguira se desabafar com ninguém. O carinho que ambos estavam sentindo um pelo outro era forte demais para ser apenas considerado amizade.
E com um beijo forte e longo Ramirez se entregava para um novo amor.
Tinha a confiança de que desta vez tinha a certeza que encontrara seu verdadeiro destino, e que sua felicidade estava próxima.
No vilarejo Paulo e Karina continuavam juntos, se amando como nunca.
Karina continuava a realizar os rituais, mas Paulo ainda não podia participar, eram as regras da época.
Paulo tinha medo que Karina fizesse com ele a mesma coisa que fizera com Ramirez, o deixara apaixonado e depois o trocara por outro, no caso ele, Paulo.
Era um começo de madrugada, e ventava frio, a névoa estava forte e se arrastava pelo chão, todos os lampiões já estavam apagados tanto no vilarejo quanto na abadia onde Ramirez se encontrava.
Nesta noite Ramirez resolveu voltar para o castelo onde morava antes de ser ferido.
Juntou as poucas coisas que tinha e partiu usando o cavalo de padre Ruan.
Saiu em cavalgada acelerada pelo caminho que levava até ao vilarejo, sua visão estava prejudicada pela neblina, o vento aumentava e Ramirez corria e chorava, lembrando se de tudo que acontecera em sua vida até aquele momento, se lembrou de quando era apenas um menino, e de quando perdeu seus pais numa invasão que bárbaros nórdicos haviam feito, lembrou se também do seu grito de lamento quando perdera sua amada, aquele grito de lamento parecia ter ecoado por todo o universo, era um lamento triste, uma lágrima de dor. Aquela noite estava fria, e Ramirez parecia não sentir, seu coração era tão frio quanto aquela noite.
Ramirez resolveu parar, amarrou o cavalo numa árvore, sentou se noutra e fez uma fogueira.
Ramirez sonhava com o amor de Karina, sonhava que um dia ela viesse ao seu encontro e lhe pedisse perdão, mas tinha certeza que isto jamais aconteceria, mas sonhar diminuía a dor de Ramirez.
Ramirez dormiu no meio da névoa, e mais uma vez sonhou...
Quarta parte ( O Sonho de Ramirez. )
Se ouvia ao longe os sons das espadas se tocando ferozmente, de repente Ramirez se viu dentro de uma batalha sangrenta, onde ninguém tinha um exército, todos lutavam contra todos, a desordem era total, não existia compaixão, não existia afeto, e os guerreiros gargalhavam cada vez que uma cabeça era arrancada, as gargalhadas se transformaram gargalhadas de mulher, e uma mulher de manto branco e rosto coberto pelos cabelos saiu de dentro de um corpo que tinha se transformado em fogo, a mulher subiu bem alto e começou a se desmanchar como se estivesse em decomposição, tomando a forma de Karina, depois a de Paulo e por fim a de padre Ruan.
Começou a ouvir alguém chamar pelo seu nome, era uma voz muito distante...
Ramirez, Ramirez dizia a voz.
Acorde Ramirez, acorde.
Era a voz de Maria _ pensou Ramirez .
Acorde Ramirez ...
Ramirez aos poucos foi abrindo os olhos, o sol era forte e já estava alto, as imagens estavam retorcidas, de repente Ramirez percebeu a presença de Maria debruçada sobre ele.
Maria tinha levado água e pão, pois sabia que Ramirez iria precisar, percebeu pela manhã que Ramirez os havia abandonado, e que não poderia ir muito longe.
Ramirez agradeceu Maria com um beijo na boca, Maria resistiu no começo mas acabou cedendo, Maria gostava do que estava acontecendo e retribuiu.
Maria e Ramirez montaram em seus cavalos e foram em direção ao Castelo da Última Cruzada, muitas pessoas vieram receber Ramirez...
Ramirez, depois de contar o que havia acontecido, levou Maria para o seu aposento onde teve o merecido descanso, o tão falado descanso do guerreiro.
Na mesma noite uma bela festa foi organizada para Ramirez e a mulher que ajudara Ramirez a sobreviver.
Paulo olhava só de longe, na verdade Paulo queria abraçar Ramirez e pedir desculpas por tudo.
Karina também acompanhara toda a festa de longe, afinal Karina tinha muito respeito por Ramirez e não queria magoar mais uma vez o coração do guerreiro.
A festa estava farta, vinho e run para todos, muita música e dança, comidas típicas de vários lugares.
O rei observava de uma torre do castelo, e pensava que ia ser muito bom se as pessoas do seu reinado gostassem dele, como gostam de Ramirez.
Ramirez e Maria dançavam como duas crianças.
Karina sentia um pouco de ciúmes, Ramirez nunca a tinha tratado assim, mas Karina estava ciente do que queria, era uma mulher adulta, e sabia mais do que ninguém que seu lugar era do lado de Paulo.
Já Ramirez, ouviu o que a bruxa Nastacha dissera e entendeu que a bruxaria não era tudo o que falavam e começou a aceitar com mais respeito o que acontecera no passado, e que os mestres da inquisição não tinham tanta razão.
Como poderiam ser pessoas más as bruxas, se o que elas pregavam era o amor livre, sem o preconceito da velha raça, os bruxos não matavam, não sentiam ódio pelo contrário tinham amor e compaixão .
Karina viu a aura de Ramirez e sentiu que poderia ser perdoada, comentou com Paulo que também teve a mesma sensação.
No final da festa Paulo foi em direção à Ramirez:
Com licença. _ disse Paulo à Ramirez .
Sim ._ respondeu Ramirez .
_ Ramirez , acho que podíamos conversar um pouco.
_ Pois então fale.
Eu e Karina gostaríamos de lhe pedir desculpas, tudo o que aconteceu foi guiado pelo destino, nunca pensamos e magoar você. _ disse Paulo.
_A dor que senti acabou hoje, espero que você seja feliz assim como sou neste momento, pois hoje entendi o poder da magia, entendi o que rege nossas vidas, e entendi o que aconteceu entre você e Karina.
Foi o mesmo que aconteceu entre eu e Maria .
_ neste momento Ramirez virou se e saiu sorrindo em direção à Maria que lhe esperava.
Karina ainda correu em direção à Ramirez e lhe disse que abençoava o amor que Ramirez havia encontrado.
Maria agradeceu, mas Ramirez continuou em silêncio, fez um singelo movimento com a cabeça e partiu.
Pela manhã, Ramirez pediu para um menino que levasse os dois cavalos que ele e Maria haviam pego da abadia, em troca daria ao menino duas moedas de ouro, o menino saiu correndo para a casa de um amigo e pediu que o amigo o ajudasse, e lá foram os dois meninos levar os cavalos para o padre Ruan junto com os cavalos Ramirez mandou uma carta, dizendo que Maria estava com ele, e estavam muito feliz, disse também que em baixo da cela de um dos cavalos havia um saco com cem moedas de ouro, que era parte do pagamento pelo bom trato que recebera enquanto estava ferido. _ Ramirez dissera parte do pagamento, porque o que o padre tinha feito por ele não tinha preço.
Ramirez sempre foi um homem de muitas qualidades, mas depois que conheceu o poder da magia, se tornou mais forte.
Ramirez se lembrou do sonho que tivera, e contou a Maria, que logo tentou traduzir, era um costume do local traduzir sonhos, talvez um costume que viera de bruxas antigas, mas que era aceito, era como se fizesse parte do folclore local.
Maria dizia que tal sonho era uma forma de Ramirez exorcizar o passado sombrio que aterrorizava a sua mente, e que ela estava lá para ajudar, e que os medos de um passado não tão bom iriam passar.
Ramirez ouvia tudo em silêncio, demonstrando interesse pelo que Maria tentava lhe mostrar.
Ramirez foi mais tarde à formatura de novos soldados e lá recebeu ordens para que se reunisse com outros cavaleiros, que partiriam para uma missão de paz noutro reinado, Ramirez estava enlouquecido para participar de mais uma missão , mas se houvesse uma batalha, Ramirez não resistiria, fazia pouco tempo que Ramirez tinha sido ferido, não teria a mesma chance de um guerreiro são . Ele precisava ser poupado, era bom no que fazia.
Então passou verbalmente, seus conhecimentos e assim pode colaborar com seus amigos.
Explicou, que geralmente as guerras começavam por causa de terras, este tipo de guerra eram geralmente criadas por um reinado contra outro reinado.
E existiam as guerras por causa dos impostos, geralmente lideradas por rebeldes de um certo reinado, contra o próprio reinado, o que mais tarde seriam chamadas de guerra civil.
Ramirez sabia muito sobre batalhas e se orgulhava muito disso, quem sabe um dia não poderia ajudar a acabar com esse mal que atormenta tantas pessoas.
Dois dias depois, Ramirez assistiu a partida dos cavaleiros, com um nó na garganta, queria estar lá viajando para longe e enfrentando novos desafios.
Mas não podia, e teria que ficar lá, lá no castelo somente imaginando as aventuras que os cavaleiros iriam passar.
De repente uma mão tocou seu ombro, era Maria mais uma vez tentando mostrar à Ramirez o quanto ela sentia por ele, o quanto ela sentia orgulho de ser mulher de um homem tão decidido e forte de espirito como era Ramirez.
Ramirez também tinha orgulho de Maria, ela tinha feito por ele o que nenhuma pessoa tinha feito, tinha lhe dado coragem de voltar ao castelo e retomar o seu trabalho.
Mesmo não podendo atuar em frentes de batalhas, ou missões de paz, Ramirez estava feliz, pois estava de novo no seu território, ali sabia como liderar seus soldados, sabia como lidar com situações de extrema cautela. Estava novamente em casa, e estava amando e sendo amado, nada lhe faltava, ou quase nada, Ramirez desejava um herdeiro, um filho para aumentar sua felicidade que já não era pouca.
Maria também pensara assim, desejava ter um filho de Ramirez, mas tinha medo, Ramirez era um guerreiro e um dia poderia morrer deixando a sozinha.
Mas não era esse medo que impediria Maria de realizar o sonho do homem que ela amara desde o primeiro instante.
Enquanto isso no vilarejo Paulo voltava ao castelo para assumir sua função de ferreiro, com raiva do passado e do que tinha sido obrigado a fazer com seu amigo, pegou todo o acervo de armas em ouro que criara e derreteu todas transformando nas em pequenos adornos, como vasos, talheres, canecas, e moedas.
Durante a madrugada deixou na porta de cada casa, de cada galpão uma pequena quantidade desses adornos.
Paulo sabia que Ramirez descobriria que tinha sido ele que tinha distribuído todo aquele ouro para os plebeus do vilarejo.
Pela manhã, a alegria era geral todos tinham novidades para mostrar, Karina também soube de imediato, que aquela alegria toda era algo feito pelas mãos de Paulo .
Ramirez também logo percebeu que o seu amigo alquimista tinha feito a felicidade brotar nos corações daquelas pessoas.
Ramirez tentou não demonstrar, mas não pôde, saiu de seus aposentos e foi falar com Paulo .
_ Paulo, vim agradecer o que você fez pelo povo de nossa vila.
_Eu só o fiz por que sabia que viria até mim e perceberia que não sou o mau caráter na qual me julgava.
Armas de ouro não servem para nada, a não ser para machucar um amigo inocente.
_durante esse tempo em que fiquei afastado percebi o quanto me é importante o povo desta vila, daria minha alma por eles, no entanto você fez algo parecido, você não deu sua alma, mas deu alma à eles.
Eles sentem neste momento que a fome já não matará seus filhos e isso não tem preço.
Você retomou minha amizade. _ disse Ramirez.
Ramirez convidara Paulo para uma visita até a taberna mais próxima onde sempre bebiam juntos quando desejavam comemorar algo, naquela ocasião o retorno da amizade, e à proeza de grande mérito que Paulo havia realizado.
Ramirez comentava com Paulo que estava se sentindo amargurado e triste por não poder participar de todas as missões à ele confiadas, mas que também estava contente de poder tomar aquele vinho com o velho amigo.
Sem que percebessem, a noite caiu, e Paulo e Ramirez estavam completamente embriagados, Paulo estava um pouco melhor e carregou Ramirez.
Paulo reclamava do peso de Ramirez, afinal se tratava de um guerreiro espanhol, os guerreiros são quase sempre bem preparados fisicamente, não seria diferente com Ramirez.
Ramirez acordou no dia seguinte ainda meio tonto tomou um xícara de chá com Maria e comentou que esteve com Paulo e que tinham retomado a amizade perdida a algum tempo.
_Eu sei. Respondeu Maria .
_Paulo lhe trouxe ontem para casa.
Ramirez pediu desculpas, pela maneira que havia chego em casa.
Quinta parte: A última batalha de Ramirez .
Um ano se passara desde que Ramirez e Paulo tornaram a ser amigos.
Durante este tempo Ramirez ensinou à Paulo métodos de combate que Paulo não conhecia, e Paulo lhe passou algumas formas de praticar a construção de armas.
Já Karina ainda meio introvertida saía todas as noites de Sexta para a prática da feitiçaria.
O que Karina não esperava era que naquela noite, ela e mais as seis mulheres que faziam parte da tradição seriam pegas por soldados do rei .
Corram, corram !!! _ dizia Nastacha
_ Mas eram muitos soldados, e nenhuma conseguiu escapar.
Levadas aos pés do arcebispo, foram insultadas, espancadas, e Karina apesar de ter sido uma das mais agredidas ficou calada e séria, o arcebispo sentiu o ódio nos olhos daquelas mulheres.
Confessem o ato de bruxaria, e suas mortes serão menos dolorosas, eu prometo em nome de Deus. Dizia o arcebispo em voz alta e clara.
Sem nada responder, tiveram suas roupas arrancadas e foram levadas à uma sala de tortura.
Pegaram a primeira mulher e a colocaram numa mesa de pedra fria abriram suas pernas e ameaçaram enfiar lhe uma espada incandescente seu útero à dentro, ela permaneceu imóvel , Karina tentou reagir cuspindo no rosto do arcebispo, que imediatamente ordenou que o carrasco executasse a sua amiga da forma que lhe fora dito.
O que se ouviu foi um horrível grito de dor.
Karina foi a segunda feiticeira a ser colocada à prova.
Assinem a confissão ou sofrerão ainda mais. Dizia o arcebispo.
Karina foi amarrada pelos pés de cabeça para baixo, onde continuou a ser espancada até que perdesse a consciência.
Nastacha vendo uma amiga morrer e a outra padecer a sua frente não hesitou e assinou a confissão, dizia que as outras mulheres haviam sido enfeitiçadas por ela e que não tinham culpa de nada.
O arcebispo mandou que retirassem Karina da sala de tortura e a colocassem numa cela normal junto com as outras bruxas.
Aonde elas poderiam assistir a morte de Nastacha , e pensar no que haviam feito, e resolvessem se confessar.
Na mesma noite o tronco foi preparado, Paulo e Ramirez estranharam a movimentação no castelo, tudo indicava que haveria uma execução e certamente pelo crime de bruxaria.
Paulo se assustou, logo pensou em Karina .
Neste momento Nastacha foi recolhida e levada para o tronco onde seria queimada viva.
Nastacha não reagia deixou se levar, enquanto isso na cela onde estavam Karina e as outras bruxas, todas assistiam ao pesadelo que a inquisição preparara para Nastacha .
Nastacha foi amarrada ao tronco, o porta voz leu em voz alta.
_ Esta mulher que todos podem ver, chamada de Nastacha, foi presa pelos guardas do Castelo da Última Cruzada, ao entardecer por exercer a prática da bruxaria.
A mesma confessou, sendo condenada a morrer no fogo.
Que Deus nos abençoe, e que nos livre da maldição desta herege.
Neste momento Paulo chorou por Nastacha, afinal foram grandes amantes no passado.
E novamente se pode ouvir aquele grito, era Nastacha que ardia em fogo vivo.
Paulo correu à procura de Karina, não sabia que Karina também tinha sido pega.
Ramirez encontrou Paulo mais tarde, e disse que Karina e mais algumas mulheres estavam presas numa das torres do castelo, e que precisavam fazer algo para salvar suas almas, era a alma gêmea de Paulo.
Ramirez então sugeriu que ambos fossem até a torre e com a autoridade de Ramirez seria fácil dominar os sentinelas que guardavam as celas.
Paulo não pensou duas vezes se armou de punhal e acompanhou Ramirez, lá chegando degolaram o primeiro sentinela, subiram mais dois lances de escada e encontraram com o segundo sentinela que foi arremessado escadaria a baixo.
Encontraram as celas.
Paulo, pensei que fosse morrer. Disse Karina chorando.
Vamos logo, não podemos ser pegos. Diz Ramirez .
_Se formos pegos morreremos por traição.
_Desceram as escadas e se esconderam no armazém onde Paulo trabalhava como ferreiro. E lá ficaram até que todos os guardas se recolhessem.
Não muito mais tarde, Ramirez saiu e distraiu os sentinelas que estavam fazendo a guarda da entrada do castelo, foi o tempo suficiente para que Paulo e as outras bruxas pudessem sair do castelo. Paulo as levou para onde estariam seguras, o seu lugar de prática antes do galpão do castelo, Karina estranhou o lugar nunca antes ouvira falar do local.
Era uma caverna na encosta de um morro, à uns oito quilômetros do reinado.
Lá encontraram restos objetos deixados por Paulo desde que entrara no castelo.
Paulo levava comida e roupas sempre que podia.
Enquanto no castelo o arcebispo ordenava aos cavaleiros buscas pela região.
Ramirez tentava despistar os cavaleiros sempre que era requisitado.
Dentro do reinado as únicas pessoas que sabiam da verdade eram Ramirez, Paulo e Maria, que sugeriu à Paulo que fosse embora do reinado, pois haviam comentários que uma das bruxas poderia ser Karina .
Paulo também era um bruxo, e corria o mesmo risco de ser pego e morto.
Ramirez concordou com Maria, e ia ajudar Paulo a fugir junto de Karina .
Ramirez começava a entender a perversidade da inquisição, achava que a lei imposta por ela era dura demais, e que seres humanos não deveriam ser condenados a morte somente por que tinham uma religião ou seita diferente da cristã.
Decidiu então liderar uma rebelião.
Aos poucos Ramirez começava a entrar em contato com pessoas que pensavam como ele, e que estavam decididas da mesma forma, era um projeto difícil de cumprir era demorado também, pois não poderia haver falhas.
Ramirez chamou primeiro Paulo e disse que faria uma invasão ao Castelo da Última Cruzada, no intuito de exterminar as fortes muralhas da inquisição .
Paulo sentiu orgulho do amigo, mas ao mesmo tempo achou que Ramirez podia estar louco, ninguém jamais tentara algo parecido, e os poucos que chegaram perto de tentar foram devorados pela maldita força da inquisição cristã.
Mas Ramirez estava decidido, para acabar com a guerra só uma guerra maior.
Ramirez quando não estava no castelo observando, estava pregando sua idéia nos vilarejos que cercavam o castelo, Ramirez era conhecido por sua força, e por sua humildade era respeitado por todos.
Ramirez sabia disso e usou seu carisma como sua principal arma de batalha.
Ramirez não imaginava que conseguiria tantos adeptos em tão pouco tempo.
Em toda a região de Andaluzia se falava da força de Ramirez .
Maria tinha pavor só de imaginar que Ramirez fosse descoberto pelos soldados da igreja, mas mesmo assim ajudava de alguma forma.
Maria tinha formação religiosa, mas diante da situação, vendo que o homem que tanto amava lutando por um ideal, decidiu que se não estivesse do lado dele, não estaria do lado de ninguém.
Karina e Paulo passavam as instruções para os novos adeptos da revolução.
Paulo além de construir as armas, também ensinava os rebeldes como as usar.
O trabalho aumentava a cada dia, era difícil dizer quando tudo estaria pronto, faltavam muitos guerreiros para que pudessem disputar uma batalha contra o Castelo da Última Cruzada.
Ramirez chegou a contratar vários bárbaros, e outros que lutariam somente pelo prazer de poder derrotar os guerreiros daquele castelo.
Ramirez tinha dentro do seu coração a verdadeira esperança de que poderia vencer aquela batalha, e que se existisse a última cruzada, não seria ele morto por ela.
Paulo sabia que poderia levar anos a construção de um exercito equivalente ao do castelo, mas eles iam bem, tinham quase mil guerreiros em menos de dois meses de trabalho.
Necessitavam de no mínimo dez mil soldados devidamente armados.
Paulo já construíra muitas armas e estava ensinando os soldados à montar e a usar catapultas, fabricar arcos com flechas incendiarias e armaduras resistentes.
Maria cuidava da alimentação do grupo junto com Karina e outras mulheres, era uma verdadeira família lutando pelo mesmo ideal .
Ramirez sentia orgulho de ver tantas pessoas colaborando, e entendendo o problema causado pelas forças religiosas cristãs.
Havia mesmo aquela força, e era preciso controlar a matança que ela causava.
Ramirez tinha razões para acreditar no seu ideal.
O som das trevas surgia nos ouvidos de Karina sempre que lembrava que escapara do fogo da inquisição, não entendia a falta de liberdade de escolha que assombrava aquela região.
Não só Karina mas todo aquele povo desejava a liberdade, desejava poder escolher o que comer, o que vestir, e aonde ir, Karina lutava pelo seu povo, e sem saber lutava pelo mundo inteiro.
Paulo estava feliz em ver todas aquelas pessoas juntas trabalhando, sentia se vivo.
Um ano de trabalho havia se passado e o exercito de Ramirez já contava com oito mil soldados prontos para lutar.
Ramirez foi até Porto de Gales e levou consigo vários soldados, pediu auxilio aos rebeldes locais onde conseguiram abrigo e mais treinamento militar, voltaram quatro meses mais tarde com o dobro de soldados, e a conta que Ramirez tinha feito havia sido superada.
Paulo reuniu todos os guerreiros e anunciou :
Ramirez conseguiu ._disse Paulo.
Hoje alcançamos o número de dezesseis mil soldados, enfim estamos prontos.
Ramirez separou o exercito em dezesseis facções de mil soldados, e cada facção elegeu dois lideres que repassariam as ordens dadas por ele e Paulo .
O rei descobrira as intenções de Ramirez e ordenou que o castelo fosse imediatamente protegido, pois a qualquer momento Ramirez poderia atacar.
O rei sabia das aptidões de Ramirez e temia por seu reinado.
Mas também sabia que o castelo tinha o melhor exercito, e que por isso venceria a batalha que estava por vir.
Quando Ramirez soube da atitude do rei , ordenou que um soldado levasse ao castelo um pergaminho, onde declarava a guerra ao Castelo da Última Cruzada.
Dois dias depois o soldado foi trazido por seu cavalo, estava morto, tinha sido decapitado e depois amarrado ao seu cavalo, sua cabeça estava por dentro de sua calças.
Ramirez odiou cada vez mais aquele reinado e decidiu atacar imediatamente .
Deslocou cinco mil soldados em direção aos portões de entrada do castelo, cinco catapultas foram deslocadas para o local também .
A guerra havia começado e já não se podia voltar atras, era viver ou morrer gritava Ramirez aos soldados.
Paulo foi junto de seu amigo para a frente de batalha.
Os muros do castelo eram fortes e estavam resistindo bem às tochas de fogo que as catapultas atiravam, em reciproca do ataque, os soldados de Ramirez eram alvos fáceis dos arqueiros do rei, muitos soldados estavam feridos e outros mortos mas nada que preocupasse Ramirez. Ainda há chances._ pensava Ramirez .
Ramirez tinha ainda mais onze mil soldados a sua disposição.
Os soldados feridos eram levados de volta ao vilarejo e os mortos eram usados como escudos, amontoados uns em cima dos outros, como trincheiras .
Os portões do castelo se abriram e rapidamente quinhentos soldados do rei se dispuseram a lutar, foi um massacre, o rei mandou que mais soldados fossem ajudar.
O óleo que fervia nas caldeiras eram derramados pelos soldados do rei , e os soldados atingidos queimavam vivos.
O sofrimento era muito, mas era a chance de se livrar da dor da não liberdade.
Ramirez solicitou à Paulo que fosse de volta ao vilarejo e que trouxesse mais soldados e mais catapultas, os arqueiros de Ramirez eram bons, haviam acabado com boa parte dos soldados que atacavam da base superior do castelo .
A noite ia caindo e a única coisa que se podia se ver era as flechas incendiarias dos arqueiros de Ramirez , pareciam estrelas cadentes, apesar de carregar a morte em sua chamas a imagem era bela.
Ramirez deu ordem para que as flechas incendiarias só fossem utilizadas durante o dia, para dificultar a localização da tropa pelos soldados do rei .
Ramirez continuava esperançoso, tinha prometido a si mesmo que venceria a batalha.
Durante a madrugada houve a troca da guarda de Ramirez os soldados estavam cansados, então Ramirez ordenou que novos soldados viessem e os outros retornassem ao vilarejo.
Ramirez foi o único que não voltou, precisava liderar aqueles guerreiros.
A batalha continuava, o exercito do rei era muito forte e não se rendia ao pior ataque que já havia sofrido.
A visão geral da batalha até aquele momento não era nada boa, havia corpos por todos os lados em que se olhasse, o medo tomava conta de todos que ali estavam.
Ramirez era forte e durante a batalha rezava por aqueles que ali haviam morrido, pedia a Deus que perdoasse aquelas almas, que elas fossem abençoadas.
O rei ordenou novamente que os portões fossem abertos, mas desta vez dois mil soldados atravessaram os portões, com a finalidade de encerrar o combate. Ramirez pediu reforço que demorou a chegar e foi travada ali um dos maiores combates de espadas já vistas o barulho era ensurdecedor.
Muitas almas ali se perderam, os soldados do rei iam se desmanchando aos pés de Ramirez .
Ramirez lutava como nunca, se lembrava do risco que Karina havia corrido, e da morte de Nastacha, queria acabar com aquele sofrimento, então lutava.
Paulo chegou com mais soldados, metades deles eram bárbaros e lutavam por prazer, muitos deles já conheciam a fama daquele castelo, só desejavam exterminar os soldados do rei.
Ramirez se assustava com o desejo sarcástico dos bárbaros, mas gostava de ver guerreiros com tanta vontade de vencer.
Diante de Ramirez surgiu um soldado do rei, que Ramirez conheceu no castelo, o soldado pediu perdão a Ramirez e o atacou sem dó, Ramirez o decepou pelo meio das pernas até a cabeça.
A imprudência do soldado que havia aprendido a lutar com Ramirez o levou à morte.
Ramirez também lhe pediu perdão, logo que seu corpo caiu ao chão .
Os cavalos corriam desesperados pelo campo de batalha,
Ramirez se apoderou de um e correu em direção ao castelo, e ordenou que todos os seguissem.
Então com força estrondosa os soldados de Ramirez partiram em direção ao castelo não houve soldado fora do castelo que sobrevivesse ao ataque de Ramirez.
As catapultas fora levadas para mais perto do alvo, e os portões do castelos foram atacados até que caíssem...
Amanhecia e Ramirez se sentia exausto, só pensava em terminar com a batalha para poder voltar para os braços seguros de Maria.
Enquanto isso, no vilarejo Maria e Karina usavam seus conhecimentos para curar os feridos.
Muitos deles desejavam voltar para frente de batalha, mas eram proibidos por Karina e Maria .
Os que por lá morriam tinham seus pertences guardados, e seus corpos cremados, o cheiro de carne era forte demais e muitas mulheres brigavam com Maria e Karina, para que parassem de queimar os corpos, Karina explicou que se os corpos ficassem por ali , iriam apodrecer e podiam transmitir doenças, o jeito era enterrar os mortos mas não dariam conta do trabalho.
E os corpos continuaram a serem cremados .
Paulo voltou e disse aos soldados que agora era a hora da vitória e que todos estavam convocados para a frente de batalha, alertou que ainda haviam vários soldados do rei para derrotar, mas já não eram tantos como antes.
E todos gritaram o nome de Ramirez três vezes, como uma homenagem ao homem que estava tornando o Castelo da Última Cruzada vencível.
Todos pegaram suas armas e foram para a frente de batalha, no meio do caminho cada um fez sua prece, muitos talvez não voltassem, mas pelo menos haviam lutados como verdadeiros guerreiros, e por um bom motivo.
Quando Ramirez menos esperava chegou Paulo com todos os soldados de sua tropa quase nove mil soldados ao todo o dobro de soldados que ainda resistiam atrás das muralhas do castelo.
Aos poucos os portões do castelo se incendiava e em pouco tempo seria fácil ultrapassar para dentro do castelo, e por fim àquela batalha sangrenta.
Os soldados do rei continuavam a derramar óleo fervente em cima dos soldados de Ramirez,
Não era fácil vencer o Castelo da Última Cruzada. _ pensava Ramirez.
Ramirez pensava sentado debaixo de uma árvore enquanto a batalha continuava ao redor do castelo.
Lembrou de quando foi convocado para servir como soldado do rei , lembrou que junto ao rei nunca perdera uma batalha sequer e que hoje estaria vencendo o mestre, aquele castelo que tanto lhe ensinou estava sendo destruído por um de seus aprendizes.
Ramirez era apenas um garoto de vinte anos quando ingressou como soldado do rei, tinha passado toda sua vida servindo os desejos de um rei imprestável, e teria que executar sua alma perante os guerreiros de sua tropa.
E se o fizesse se tornaria rei daquela nação, Ramirez tinha medo de não ser um bom governante, e que acabassem com ele, como ele acabaria com aquele rei.
Será que os povos deveriam ter governantes, pensava Ramirez.
Enquanto isso Paulo ajudava os guerreiros a arrombar os portões do castelo.
Demorou mas conseguimos!!! Gritou Ramirez , de longe ao ver os portões estourados, e novamente a batalha recomeçou, mas desta vez dentro do castelo, Ramirez montou em seu cavalo e invadiu o castelo empunhando sua espada e derrubando todos os que atravessavam seu caminho.
Os soldados do rei iam tombando , e o Castelo da Última Cruzada começava a sentir o gosto da derrota.
Paulo e mais alguns soldados invadiram os cárceres e libertaram à todos que foram ao auxilio de Paulo, invadiram os aposentos dos conselheiros, logo após o dos condes, todos sem sobreviventes, o rei se escondia, mas não havia mais saída, os príncipes foram humilhados pelos bárbaros e depois mortos.
As mulheres do reinado foram escorraçadas castelo à fora.
Ramirez terminou de deitar o último soldado morto por ele, e foi de encontro ao rei , revirou todo o castelo e não conseguia encontrar o rei .
Até que Paulo o encontrou.
Neste momento houve um silêncio geral .
Todos ficaram apreensivos.
Paulo desce com o rei pela escadaria central.
E Ramirez desce com o arcebispo pela escadaria lateral.
Se dirigiram ao centro do castelo, e lá ficaram.
Os soldados de Ramirez elevaram em poucos minutos um tronco onde serviria de fogueira .
O rei permanecia parado, como se fosse uma rocha indestrutível, enquanto o arcebispo rezava pedindo a Deus que perdoasse aquele povo pelo erro que iriam cometer.
Ramirez não queria mais matar, mas teria que executar sua última vítima, o rei.
Neste momento Paulo subiu num dos corrimões da escadaria e anunciou o castigo que estava reservado ao arcebispo.
_ Homens de várias nações que aqui estão presentes, é com muita honra que anuncio o fim de um reinado injusto para com a humanidade, e com este gesto condeno o arcebispo do Castelo da Última Cruzada a morrer queimado pelo mesmo fogo que queimaram tantos de nós,
e que assim seja cumprido.
_ Que assim seja cumprido. Grita o povo.
E assim o arcebispo foi levado ao tronco, foi amarrado e humilhado perante a todos que ali estavam.
Naquele momento o arcebispo se arrependeu de todas as atrocidades que havia cometido, e sua vida passou como um raio em sua frente, e percebeu quanto tempo havia perdido, matando e caçando pessoas inocentes.
Mas era tarde demais e as chamas da justiça foram acesas, sem dó.
O arcebispo morreu como um bruxo, e chorou como um covarde.
O rei era a mesma rocha, só pensava em escapar dali com vida.
O que seria impossível.
Ramirez subiu no corrimão em que estava Paulo e anunciou ao povo a condenação do rei .
_O rei foi condenado a morte. disse Ramirez.
Mas eu sou um homem justo, e darei a chance a este que se diz rei de lutar comigo de igual para igual.
Neste momento Ramirez sabia que poderia morrer nas mãos daquele homem, afinal não era por menos que ele era um rei.
Pediu à Paulo duas espadas e dois escudos, se dirigiu ao rei e lhe disse que escolhesse com qual das armas ele gostaria de lutar.
O rei escolheu a espada e o escudo, e se afastou de Ramirez, e disse:
Dou meu reinado por minha vida.
_ Você não tem mais um reinado, só tem sua vida, lute para garantir seu futuro.
Então o rei se aproximou de Ramirez e disse que o admirava muito, mas que ia ser obrigado a tirar lhe a vida.
Neste momento Maria, Karina e outras mulheres entraram no castelo e presenciaram ainda o corpo do arcebispo em chamas, e Ramirez se preparando para quem sabe sua última batalha .
Quando Ramirez ainda se preparava o rei se aproximou e o derrubou no chão e covardemente o atacou, Ramirez se defendera com seu escudo, foi o tempo exato para que se levantasse, e revidasse o golpe, que também foi defendido pelo rei.
O povo gritava o nome de Ramirez .
Maria ajoelhada pedia a Deus que protegesse Ramirez da morte.
E o rei o atacava sem misericórdia, Ramirez perdera a espada, mas Paulo lhe arrumara outra no mesmo instante.
Ramirez sentiu o ódio de todo um povo correndo em suas veias, e atacou o rei sem que o mesmo pudesse se defender, arrancou lhe o escudo e em seguida a espada, o rei correu para a capela onde armou se de uma lança, quando Ramirez entrou na capela foi atingido no peito, no mesmo local onde outrora Paulo o havia ferido, Ramirez caiu, e rastejou para fora da capela, onde se levantou e voltou para a tão disputada luta.
Ramirez sangrava muito, sentia que a qualquer momento poderia perder a consciência .
Mas Ramirez era forte, e sempre que pensava em Maria sua vitalidade aumentava, voltou ao combate, de frente ao rei girou seu corpo com grande velocidade e amputou a mão do rei que caiu em dor, pediu clemência à Ramirez, implorou por sua vida como um porco, Ramirez não se comoveu, arrastou o pobre rei para o centro castelo aonde estava a multidão e lá pediu para que o rei se ajoelhasse perante o novo rei do Castelo da Última Cruzada, o rei assim o fez, e Ramirez o decapitou com um só golpe, não queria que o rei sofresse.
E com isso todos comemoraram o domínio do castelo .
Ramirez estava feliz, pois o tempo das matanças estava por terminar naquele momento.
Maria correu para socorrer Ramirez que estava gravemente ferido, Karina foi de encontro com Paulo que havia vingado a morte de Nastacha.
Ramirez decretou que a partir daquela data, vinte e seis de janeiro do ano de mil duzentos e noventa e oito seria feriado em todo o reinado e que se deveria comemorar como dia de todos os santos, pois foi com o intuito de legalizar toda forma de religião que a maior batalha de todos os tempos havia sido travada.
E realmente a partir daquele dia todos os movimentos religiosos foram aceitos dentro do reinado de rei Ramirez.
Qualquer crime cometido, era severamente julgado, mas nenhuma condenação levava à morte.
Paulo e Karina se casaram na capela do castelo com a benção do Rei Ramirez, Paulo foi condecorado Mago do Castelo da Última Cruzada, Ramirez e Maria tiveram dois filhos Pablo e Sanchez.
Ramirez ordenou padre Ruan como bispo do castelo.
Ramirez reinou em paz por mais cinqüenta anos, quando veio a falecer dormindo.

Fim.


Nota do autor:
Esta estória é uma ficção, mas poderia ser real.


Ass: Cesar Sanchez.

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