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Poesias-->Comendo com farinha -- 17/08/2002 - 15:35 (Airam Ribeiro) |
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Comendo com farinha
Prá você que é beberrão
Lá vai verso rimado,
Porque você é um campeão
E merece ser brindado.
Bem sei que tem suas desculpas
Prá desculpar porque bebe,
Vai dizer que a vida está ruim
E nada de bom te concebe.
Vai dizer que a vida não é boa
E que bebe prá esquecer,
As amarguras das estradas
Que terás que percorrer.
Pode dizer que tua mulher
Já não gosta mais de ti,
Então tu enches tua cara
Prá não dá conta de si.
Vai desculpar que toma uma
Só para o frio esquentar,
Mas depois que o frio passa
Faz cuspideira no bar.
Vem a desculpa que só bebe
Quando está fazendo calor,
Prá esfriar a temperatura
Pôr onde o sol já passou.
Larga a tua mulher e teus filhos
E vai pro boteco do lado,
Lá fica a jogar conversa
Pôr todo canto que é lado.
Quando volta de madrugada
Quer achar a mulher na cama,
Quando não acha você espanta
Porque a mesma te engana.
Então volta pro bar
Porque agora quer Ter razão,
Só porque pensa que tua mulher
Está com outra no colchão.
Então pede logo um quarto
E bebe tudo de uma vez,
Mas só que fica no bar
Parecendo um bom freguês.
O dono do bar te tulerar
Para não fazer besteira,
Porque este no te atulerar
Fatura o dinheiro da feira.
Tolerar bêbado enjoado
Só mesmo pôr precisão,
Ainda mais limpando cuspideira,
Todo dia no pé do balcão.
Ainda mais com a catinga
Do resto que joga pró-santo,
Na religião que santo bebe
Não tem um eu te garanto.
Mulher tolerar cachaceiro
Para mim ela tem salvação,
Não precisa pagar seus pecados
Nem procurar uma religião.
O cara quando está tomando
Logo de cara fica rico,
Quando não fica valente
Arranja muito fuxico.
Todos beberrões têm sua treita
Prá treitar no amanhã,
Para sua boca não feder
Eles chupam balas de hortelã.
Outros põem dente de alho
Prá defender da tentação,
Sai cambaleando na rua
E arrastando pelo chão.
Tem aquele que faz moradia
E aluga logo uma marquiz,
Pôr ali mesmo ele urina
Faz dali um chafariz.
Tem uns que fica dormindo
Com a ressaca da cachaça,
Não come não banha direito
O corpo parece uma carcaça.
Tem filhos que são desgostosos
Pôr ter um pai cachaceiro,
Acha que não vai resistir
De ficar sem seu companheiro.
A esposa já nem se fala
Arrependeu de Ter casado,
Pois já enjoou da vidinha
De limpar vomito do safado.
Tem bêbado que antes do gole
Toma um engov prá começar,
Quando já tomou todas elas
Outro engov prá não vomitar.
Tem bêbado que se inverna
Que o boteco vira seu lar,
Acostumou tanto com a pinga
Que nem nota o pé inchar.
Há momentos que a pinga esquenta
Tem outros que ela esfria,
Tem tempo que faz o cara enriquecer
Nos bons momentos de orgia.
Bebe o coveiro no cemitério
Prá tolerar o cheiro do defunto,
E quantos a cachaça já levou
Prá cidade de pé junto.
Mas enquanto você não vai
Dê uma chegadinha no boteco,
Vai mostrando a sua artimanha
Esconde prá não ser descoberto.
A cachaça é milagrosa
Todo mundo gosta dela,
Bebe o pastor escondido
O padre a freira e a donzela.
Bebe muita gente grande
Aqui da nossa sociedade,
Tem gente que você nem pensa
Bebendo goles na cidade.
O diabo quando aqui esteve
Resolveu fazer sua desgraça,
Prá arranjar muitos clientes
Fez a malvada da cachaça.
Aí o capeta com inveja
Prá não ficar para trás,
Mandou fazer um alambique
E convidou o satanás.
E para o dia da inauguração
O alambique ele foi benzer,
E deu logo o primeiro gole
Prá belzebu beber.
Se a pinga desse coragem
O Jasson era grande matador,
No entanto ele bebeu demais
E a pinga foi quem o matou.
Não sei se Caroba é doido
Ou se bebe prá ter prazer,
Doido que vende ferro velho
Ainda não nasceu prá eu ver.
Se eu fosse juiz na cidade
Fechava todos os botequins,
Que vendesse pinga para doido
Eu mostraria o seu fim.
Tem muitos débeis mentais
Na cidade fazendo besteira,
Que dá dinheiro aos butequeiros
Para eles fazer a feira.
Boteco de rico é bar
E o de pobre é cuspideira,
Que de noite só faz algazarra
Que acorda a cidade inteira.
Tem muita gente que bebe
É manso igual um carneiro,
E tem gente que não bebe
Que é um grande presepeiro.
O ladrão que rouba o pobre
Todo o salário do mês,
Depois põe a culpa na pinga
Quando acorda no xadrez.
O rico cria a coragem
E vai roubar logo o banco,
Quando acorda no xadrez
Culpa o whisque cavalo branco.
A cachaça faz mal a tudo
E é o desastre do seu lar,
Quando não arromba o seu fígado
Faz o seu pé e barriga inchar.
Ela tira a sua moral
Você fica um João ninguém,
Não tem crédito para nada
Não compra nem um vintém.
Quando não leva de uma vez
Deixa você com a cirrose,
A barriga enche de água
Você não tem com quem prose.
Você que só bebe um dedo
Só para o apetite abrir,
Se tiver com muita fome
Não é a pinga que faz engolir.
Tem cachaceiro sem vergonha
Que bebe um litro de uma vez,
Quebra tudo e faz arruaça
Faz bagunça no xadrez.
Depois diz que arrependeu
Fica todo envergonhado,
Mas aí não tem mais jeito
Pois viu o sol nascer quadrado.
Tem gente que bebe muito
Ainda diz que é social,
Enche a cara no São João
Só para depois do natal.
Ficam de férias uns três dias
Enquanto passa a ressaca,
Aí vai chegando o carnaval
E começa a mesma a desgraça.
Enche o rabo uma hora
Depois cai lá no mar,
Chega dizendo que a água
Faz a ressaca curar.
Aí torna beber de novo
E fica assim nesse rompante,
Depois torna ir ao mar
E volta bom no instante.
E assim a vida vai passando
Fica assim neste vem e vai,
Enfim o verão acaba
E volta para a casa do pai.
Então fica mais uns dias
Achando que já ficou são,
Começa encher a cara de vinho
Na Sexta-feira da paixão.
Dizendo que não é pecado
Porque está bebendo pouco,
Dá desculpa que o álcool
É a saúde para o corpo.
Aí o corpo agradece
O fígado começa a inchar,
O estômago do pinguço enjoa
E começa então a vomitar
Pede socorro a esposa
Para lhe salvar da situação,
Prometendo pôr todo que é santo
Que não bebe pinga mais não.
Tem uns que culpa a cachaça
Quando tiraram sua siloura,
O crente não bebe cachaça
Mas toma o biotônico Fontoura.
Tem uns que culpa a impotência
Pôr não gostar da cachaça,
Passa a tomar catuaba
Que é para a vida Ter graça.
Tem os que tomam jurubeba
Outros apelam pró-quentão,
Prá tudo arranja desculpa
Diz que é festa de São João.
Tem cara que é mofino
Bebe pouco e devagarinho,
Esses quando embriaga
Chinga a mulher do vizinho.
Existe bebida de gente rica
E a do pobre meu senhor,
O rico bebe whisky bom
E o pobre a pinga de Jaquetô.
O pobre bebe uma dose
Dá vinte centavos e pede troco,
O rico pede cavalo branco
E bebe com água de coco.
Depois que o coco acaba
E não querendo sair dali,
Pede wodka, limão e açúcar.
E faz logo seu daiquiri.
O pobre que é cachaceiro
Pinga prá ele é normal,
Quando começa beber whisky
Começa logo passar mal.
Isso vai do costume
Que pega no primeiro gole,
Se beber muito é forte
Se beber pouco é mole.
O pobre bebe tanta pinga
Que começa fazer besteira,
Começa no dia de Sábado
E só para na Quinta –feira.
Bebe porque a mulher largou
Ou porque nasceu um filho,
Bebe porque se formou
Ou porque não teve brilho.
Bebe porque foi campeão
Ou porque o filho apareceu,
Bebe porque o sol saiu
Ou bebe porque choveu.
Bebe porque a vaca pariu
Ou porque o capim nasceu,
Bebe porque o broto da cana
De fazer a pinga já nasceu.
Bebe no banco do bar
Bebe no banco da praça,
Bebe pôr qualquer desculpa
A malvada da cachaça.
Quem diz que o pinguço tem amigos
Não tenho, eu aposto e topo,
Tem apenas algum no boteco
Que são colegas de copo.
Que quando a polícia prende
E leva o pinguço na hora,
Esses colegas de copo
Nesta hora cai é fora
É perna prá que te quero
Eu não conheço o fulano,
Minha amizade ele não tem
Estou aqui pôr engano.
A bebida é coisa antiga
Desde o tempo de Moisés,
Bebe o santo no boteco
O padre sacristão e fiéis
É bebida no aniversário
Cerveja sidra e cortezano,
Assim o povo brasileiro
Vai bebendo todo ano.
Quem não bebe na vista
É porque bebe escondido,
Bebe os falsos bebe os bravos
Até os que são fingidos.
Tem pinguço que é sabido
Quando vai a sentinela,
Fica até alta madrugada
Botando pinga na goela.
Tem aqueles que já inicia
Quando o doente está na cama,
Fica fazendo sua vigília
Pôr uns dois goles de cana.
A pinga tem tanto nome
O famoso é a cachaça,
Tem quem chama de marufu
Os que chamam de manguaça.
Tem água que pássaro não bebe
Outros batizam pôr mé,
Uns chama de água quente
Outros de incha pé.
Birita é nome engraçado
O índio toma caibum,
Tem a famosa praianinha
E a gostosa cinqüenta e um.
Pinga ruim é fofa toba
Sara dente do moleque,
Catábriga é a da boa
Molha guela e pileque.
Tem aqueles que desculpa
E bota tempero na coitada,
Quando nasce menino novo
Pinga vira galinhada.
Temperada com cebola
Cravo gengibre e canela,
Pirão com caldo de galinha
Prá variar pinga na goela.
Tempero prá mordida de cobra
Tem quem bota fedegoso,
Senão o veneno da bicha
Deixa o camarada nervoso.
Tem pinguço manjado e besta
Que anda pôr aí dando touca,
Sai cambaleando na rua e cai
E o cachorro lambe sua boca.
E tem beberrão muito sabido
Que para esfriar o sol,
Bota logo na geladeira
Cinco caixas de skol.
Vai chegando logo o sol
É o sinônimo do verão,
A número um é a que manda
Para o dono daquele balcão.
Quando acaba a número um
Não desiste mesmo assim,
Ele pede então a outra
Que tem os dois pingüins.
Skinkariol e a kaiser
São duas cervejas maneiras,
Diz os que estão viciados
Que a cerveja é uma companheira.
Aqueles que são beberrões
Quando cai na boa folia,
Antes de beber a cerveja
Bebe uma pinga para a guia.
Tem beberrão que é irresponsável
Que bebe na direção,
Quando vai dirigir seu carro
Capota seis vezes no chão.
Diz que o pneu furou na estrada
Nem bota a bebida no meio,
Quando vê o acontecido
Acha que o trem foi feio.
O cara que bebe muito
Não tem responsabilidade,
Quando pega o carro novo
Da trombada na cidade.
Todo dia a mulher pede
Homem largue de beber,
Senão qualquer dia eu vou
Embora e largo você.
Mas o cara que bebe muito
Não tem vergonha na cara,
Quando a cara é quebrada
Diz logo que depois sara.
Prá falar de cachaceiro
Pinguço ou beberrão,
Dá-me uma secura na guela
Que vou parar no balcão.
Eu não sou santo não
Bebo escondido da mulher minha,
Eu sou social e bebo pouco
Só que como com farinha.
Mas cada vez que vou escrevendo
Muitos nomes de pinga se aprende,
Aguardente pitú e caranguejo
Os da capital já entende.
Tem também a três fazendas
Praianinha e a cocana,
Essa só quem bebe dela
É o pinguço metido a bacana.
Cachaceiro pobre essa não bebe
Só os ricos que tem dinheiro,
Que quando vai ao bar socyte
Exige logo o velho barreiro.
Pinguço que está iniciando
Toma logo atrás do saco,
Que é uma pinga muito doce
Se não toma porque é fraco.
E depois que pega o vício
Ele bebe prá conseguir esquecer,
Aí o dono do boteco pede
Prá pagar antes dele beber.
Pinguço tem cada mania
Uma parece até brincadeira,
Tem deles que quando vê a mulher
Diz meu bem, esse é a saideira.
Só que depois pede outra
Para ver se a mulher reclama,
Pois todo pinguço quer mostrar
Que tem uma mulher bacana.
E a coitada vermelha de raiva
Mostra que está tudo normal,
Só que quando entra na casa
É que começa quebrar o pau.
Desde que o mundo é mundo
Que a pinga deixa o cara mole,
Se você não quiser ser pinguço
Evite o primeiro gole.
De: Airam Ribeiro - Itanhém-Ba-
27/10/98.
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