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cronicas-->DEIXEM O MEU PÊNIS EM PAZ! -- 06/06/2002 - 21:36 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Que mundializem os orgasmos e derrubem as fronteiras políticas em nome do prazer, até vai. Mas daí a querer meter o bedelho no pênis alheio, não se concebe. Que os pornográfos e lascivos façam o que bem entender. Mas deixem o meu pênis em paz."



Vou parar de acessar a Internet. Vou mesmo. Precipuamente, deixarei de utilizar serviços de e-mail. Estão enviando-me mensagens e propostas das quais nunca ouvi falar ou tampouco solicitei. Semana passada, chequei meu e-mail e contemplei, com surpresa insuspeita, uma proposta de um website pornográfico que me oferecia acesso irrestrito a um acervo de mais de duzentas mil fotos de adolescentes holandesas, pela bagatela de doze euros mensais. Nada tenho contra as mulheres holandesas, mas, devo dizer, deletei prontamente a mensagem. Para que?
Logo abaixo, seguia um outro e-mail, que me alertava para a imperdível promoção de outro website, cujo mote de oferta eram filmes nos quais mulheres grávidas apareciam copulando com cavalos e jumentos. Laico que sou, não me furtei a apagar esta outra mensagem, para, logo adiante, acessar outro (!!) e-mail, que me oferecia acesso gratuito a fotos de garotas polonesas e bielo-russas. Como se não bastasse, vi em minha caixa de mensagens uma suposta carta de apresentação, de autoria de uma suspeitíssima agência de viagens que prestava serviços no intuito de facilitar a vida de turistas interessados em usufruir os préstimos das prostitutas vietnamitas. SexNam, a referida agência, providenciava tudo: desde os meios para tornar todo o processo o mais discreto possível até o sabor das calcinhas usadas pelas garotas. Qual bem há de se concluir, a Internet mundializou o sexo e transformou-o em bem transnacional, transcendente de fronteiras; uma prova cabal de que os orgasmos vindouros não se importam se sessenta mil norte-americanos foram peneirados a chumbo pelos fuzis vietcongues.
Não tenho nenhum "porém" tangente à mundialização dos orgasmos, e tampouco referente à atuação da Web em tal processo. Ejaculações desconhecem razões de Estado, fronteiras nacionais e mediações diplomáticas. Trata-se, numa hipótese demasiadamente subjetiva, da personificação máxima do Homem enquanto animal apolítico. Com efeito, toma parte em tal ação - ou tal "festa" - quem assim o quer. Ocorre, todavia, que eu não quis, mas mesmo assim recebi e-mails sobre adolescentes holandesas, prostitutas vietnamitas e modelos polonesas e bielo-russas. Desculpem-me, mas, por favor, tragam de volta a Cortina de Ferro.
Até onde me recordo, não disponibilizei meu endereço eletrónico em nenhum website pornográfico. Ignorante que sou, desconheço os novos métodos de marketing e propaganda em voga na dinàmica publicitária. Tenho, todavia, a certeza basilar de que tais métodos não gozam da prerrogativa de desrespeitar o indivíduo comum e desinteressado nas lascivas propostas oferecidas por tais sites. Que continuem a propagar seus produtos e a disseminar suas supostas reputações e seus críveis atributos substanciais; vivemos, afinal, em um País - e, de certa forma, em um Mundo - Livre. Nenhuma restrição ao direito de manifestação. No entanto, a continuidade do envio das mensagens em massa - os chamados SPAMS - pode resultar numa debandada igualmente maciça daqueles que fazem uso dos serviços de e-mail gratuito. Por que tais práticas continuam a ser logradas sem que os responsáveis sejam chamados à prestação de contas?
Em acepção lata, a verdade reside no fato de que o controle efetivo e viável de tais práticas é virtualmente impossível, vez que a obtenção dos endereços eletrónicos alheios dá-se por meios independentes daqueles controlados pelos serviços de e-mail gratuito. Sem mais delongas neste cerne argumentativo, dir-se-á apenas que a única via de defesa da qual os usuários dispõem é a exclusão sumária das mensagens indesejadas. Coisa que não fiz, e, digo mesmo, jamais farei. Tenho o ímpeto esdrúxulo de ler tudo o que me enviam, seja sobre prostitutas vietnamitas, repugnantes práticas de zoofilia ou até mesmo sobre garotas desnudas da ex-União Soviética. Enviaram as mensagens, globalizaram o orgasmo, brocharam a diplomacia e ganharam um articulista inútil. O que é melhor: crer em nada ou em nada crer?
Em verdade, devo dizer que não sei. Tento, talvez em vão, ser irredutível em minhas convicções, e dotá-las de envergadura mais altiva. Mas isso não vem ao caso. Convicções bisonhas e estapafúrdias, disparates da ressaca pós-tudo, começam a aparecer na Web. Estava eu a averiguar meu modesto e-mail quando descobri, com a mais prosaica das naturalidades, que há pessoas querendo aumentar o tamanho do meu pênis. E eu não sei porque! Tais pessoas não me conhecem, nunca me viram, desconhecem minhas aptidões, minhas inclinações e minha pauta cognitiva, mas, sabe lá Deus porque, querem aumentar o tamanho do meu pênis. Enviaram-me nada menos do que catorze mensagens com títulos canhestros, tais como "Penis enlargement!", "Monster Penis!" e "You can have a giant penis!" (as traduções ficam a cargo dos interessados na pauta). Como eu bem disse, não consigo deixar de ler o que me enviam, e, ato contínuo, lá estava eu, a ler propostas que me prometiam o porte de um membro viril descomunal e irresistível para as mulheres.
Lidas as mensagens, deletei-as sumariamente. Tão logo o fiz, pus-me a praticar meu passatempo imprescindível: devanear e especular acerca de absurdos argumentativos tão díspares como política, expansão da rede mundial de computadores e aumento do tamanho do pênis. O fato é que, como quase sempre acontece, eu não logrei conclusão alguma. Permaneci estanque, a devanear sobre orgasmos supraluminares atravessando o mundo e chegando à Austrália em meio segundo e acerca das razões que levaram os remetentes das mensagens a sugerir-me um aumento no tamanho do meu pênis. Que o leitor não saia com inferências engraçadinhas e maliciosas; afinal, pode ele também ter recebido uma proposta de aumento do tamanho do pênis.
Pretendia viajar no final do ano. Se as finanças permitissem-me, iria conhecer o Leste Europeu e os países que em priscas eras constituiam a Cortina de Ferro. Não vou mais, nem mesmo se as razões de caráter financeiro permitirem-me. Estou amedrontado. Imagine o leitor que lá estou eu, a caminhar despreocupadamente pelas ruas de Minsk, na Bielorrúsia, e, de repente, sou surpreendido por modelos desnudas em pleno inverno europeu. Varão que sou, envolver-me-ia em carícias com ela por ali mesmo, de modo que a polícia local iria deter-me por atentado ao pudor. Na Chefatura de Polícia, descubro que o delegado faz bicos para a SexNam, a tal agência que providencia prostitutas vietnamitas, por um custo relativamente acessível. Desesperado, entro em contato com a Embaixada Brasileira, que consegue minha liberação e arranja-me um assento no próximo vóo rumo a Varsóvia, na Polónia. Ao chegar no saguão de embarque, sou novamente detido pela imigração. Sem nada entender, encaminham-me para uma sala, onde oferecem-me a irrecusável proposta de um medicamento que faz com que o pênis aumente de tamanho...
...Despertei. Passado o devaneio com molho transcendentalóide, voltemos à realidade. Devo pensar mais nas possibilidades reais e esquecer os ensejos doidivanas. Vou ficar quieto. Mas deixem o meu pênis em paz.

Lindolpho Cademartori
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