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Artigos-->A ALMA DAS CIDADES -- 03/04/2009 - 23:30 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ALMA DAS CIDADES



Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras





Outrora as cidades tinham uma alma de encanto e beleza. As ruas, também. O escritor carioca, João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921), autor de “A alma encantadora das ruas”, editado em 1908, abre sua primeira crônica assim: “Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas.”.

Na “belle époque”, a obra causou “frisson”. Se fosse reeditada por alguém de juízo (e como as cidades estão necessitadas!), a repercussão seria enorme pelo contraste do passado com o presente. Ou seja, a modernidade matou a alma das cidades, avenidas, passeios, ruas, praças, serestas, cafés e clubes. Ainda há quem se arrisque a sair à rua de pé, para sofrer os encontrões, as pisadelas, os atropelamentos. Por quê? Em busca de ar... Mas encontra barulho de carros, motos, bicicletas e até animais, poluidores dos olhos, dos ouvidos, do pulmão. As calçadas, travessas e ruas estão atopetadas de camelôs e suas pobres mercadorias (plástico, principalmente), e de carros estacionados por cima, sem polícia nem guardas de trânsito, ladrões andando à solta, desde assaltantes de velinhas, moças, mulheres e aposentados até os perigosos, com a arma em punho, que entram nas casas de residência, de comércio, nos bancos e causam os maiores perigos ao cidadão.

Ao lado da destruição do patrimônio histórico e paisagístico, empresários gananciosos derrubam tudo, da noite para o dia, para o erguimento de prédios enormes de pequenos apartamentos onde cada vizinho é capaz e assim age, de fazer tanta zoeira que, não sei não... Muita gente está mudando das grandes cidades paras as menores. É a fuga desses males do que se teima em chamar de modernidade. Isto é destruição, descaracterização, desonra, desmemória, desumanidade. Quem dera ainda se pudesse sentar nas calçadas, formando a rodinha de vizinhos e amigos para o jogo inocente ou a conversa e o cafezinho, à luz da lua ou mesmo da eletricidade, e desfrutar a noite como deve ser desfrutada: – na calma, para um sono tranqüilo! E não nos inferninhos, com luzes piscando por todas as frestas dos olhos e do cérebro com a ajuda de drogas legais e ilegais, com o demoníaco barulho do que dizem ser música. Quem pode amar tanto desmantelo? E ainda a amamos. Por que a rua é sinal de liberdade, onde todos são iguais, solidários. Nela nasce a força da palavra contra os poderosos. Estão sepultando “a encantador alma das ruas” da bela imagem de João do Rio. Morreram os seresteiros, a moças das janelas, não se ouvem mais os simples servidores e pregoeiros do pão e do leite. Que faremos, meu Deus, para re-humanizar as cidades e, por conseqüência, os homens?





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