Um Domingo Qualquer
Por Lílian Maial
Hoje o Domingo acordou diferente.
Talvez o sábado tivesse descansado melhor.
Quase todos dormem. As crianças ainda sonham com seus anjos e bagunças.
As plantinhas na varanda estão sedentas, abrindo-se para cuidados.
Borboletas equivocadas adiantaram a primavera e insistem em bailar na música do vento suave, que balança as folhas. As árvores abraçam os raios de sol, tímidas, como que tentando esconder o tronco com as ramagens densas.
Lá longe pode-se avistar uma fumacinha, em alguma casa, preparando a refeição para um almoço em família.
E a bola de fogo, em seu segundo nascimento (o primeiro foi no horizonte), delimita o teto da construção naquele terreno distante, na altura de meus olhos. De encontro a ele, um avião decolando sonhos rasga o azul em direção ao depois.
Conversíveis guiados por corpos bronzeados e seminus já indicam seu destino litoràneo.
Na rua, um pai atrapalhado com o carrinho de bebê e os buracos da calçada, ainda cuida para que o mais velho não tropece. Feliz, traz o pão nosso de cada dia embaixo do braço.
Senhoras solitárias passeiam com seus cãezinhos, e não se conclui quem guia quem.
Garanhões colocando um "tigre" na máquina, para impressionar as gatas incautas.
Felizes esposas regam as plantas da varanda, com a alma florida de sorrisos.
Esposos amorosos com o desjejum quentinho, na bandeja, dão os retoques finais com bilhetinhos no guardanapo, enquanto os mais preguiçosos aguardam o seu, balançando na rede.
Todos vão à s janelas, testemunhar esse Domingo.
Até um beija-flor matreiro veio avisar que já era hora de entrar, para que ele pudesse saciar sua fome sem receios.
Meu turno havia acabado, e o Domingo, apenas começando.
|