Acreditem fui entrevistado: o Ibope me entrevistou.
E não foi por telefone, mas na rua. Aconteceu na manhã de sábado, 22 de junho, em Belo Horizonte. Ao deixar o prédio em que moram meus pais, fui abordado por um rapaz que trazia uma tabuleta nas mãos, folhas impressas com múltiplas respostas e um disco de papel no qual constavam os nomes de Lula, José Serra, Garotinho e Ciro
Gomes.
Preenchidos os meus dados pessoais - nome, endereço, escolaridade, confissão religiosa e renda -, respondi às perguntas: em qual dos quatro nomes do disco votarei para presidente da república, etc.
Estranhei a formulação de algumas questões. Pois sei que não existe neutralidade científica. Ninguém é neutro, nem Deus. Mineiro, desconfio de tudo, sobretudo de pesquisas eleitorais . Não que seja incorreta a verificação do Ibope por amostragem. O rabo da porca torce é na formulação das perguntas:
"Qual dos quatro o senhor julga mais preparado?";
ou
"Qual deles representaria melhor o Brasil no exterior?".
Fiquei com a pulga atrás da orelha. Por que o rapaz não me perguntou:
"Qual dos quatro acredita que vai reduzir a pobreza?";
ou
"Qual haverá de melhorar a qualidade de vida do
brasileiro?";
ou ainda
"Qual deles arrancará o Brasil das mãos
dos agiotas internacionais?";
Bem, "Senti dificuldade de reafirmar continuamente o nome do meu candidato. Era como se o elenco de questões quisesse me induzir a escolher um outro nome ao sugerir que competência é sinônimo de escolaridade, "o que não é verdade". Vide o excelentíssimo Presidente.
O certo é que o Brasil está repleto de pessoas formadas e competentes (formadas em burlarlogia e competentes em induzir...), que continuam a usar o intelecto para oprimir.