Sinais dos tempos: procuro as faces do Bem e do Mal e me confundo.
De um lado vejo uma face com raiva, apertando os lábios quase não existentes a conclamar vingança e justiça infinita. Do outro vejo uma face plácida, relaxada falando em Deus e eternidade.
Uma mostra muito ódio e delinea uma missão ditada não sei por quem. A outra cita princípios rígidos seguidos há mais de mil anos por certo povo.
Uma interfere no modo do nosso pensar, pede um posicionamento imediato e sem muita escolha. A outra deixa livre a escolha e a responsabilidade das conseqüências.
Uma lembra as faces das inquisições medievais enquanto a outra lembra um músico baiano, chapado, no âmago do seu odara.
Uma está preocupada com o que é material e se envolucra em máquinas de precisão, não tanto precisas, está preocupada com as perdas no mercado financeiro. A outra não fala em nada que é material, apesar de ter muito poder financeiro e viver de maneira rústica.
Uma tece e retece coligações confusas que a imaginação de qualquer um fica perturbada com as mudanças bruscas. A outra não tece nem cose e vive como os lírios do campo - em contato com as pedras e terras.
Uma mata - mata crianças, mulheres e velhos inocentes em nome da justiça dos homens e simplifica que tudo é um efeito colateral. A outra também mata inocentes, a propagar que é em nome de uma causa que se diz divina.
Uma tem o olhar raivoso, confuso, inquieto. A outra demonstra frieza, placidez, harmonia, nem sei mesmo..., no seu modo de olhar.
Uma parece ter medo, arma defesas, articula ataques, corre contra o tempo para mostrar grandeza. A outra, em sua candura, repousa em sua caverna como se tudo fosse eterno, sem se importar com a morte.
Uma acusa com provas contestáveis. A outra não tem provas para se defender das acusações.
Uma se reveste de aparatos e de boas roupas para passar uma imagem limpa. A outra, com a mesma túnica todo o tempo, não se importa com a imagem que apresenta.
Uma, por mais que tente, não transmite muito carisma. A outra, sem prentensão alguma, destila carisma na sua melhor forma.
Uma, com as suas ações, não tem conseguido muita simpatia de alguns, enquanto a outra, sem muita ação, consegue simpatizantes invisíveis de uma forma inequívoca e intrigante que mete medo.
Uma afirma que tudo é terror, mas ao mesmo tempo seleciona alguns aliados que também promovem o terror. A outra diz que é uma luta de Fé.
Uma tenta propagar que não faz uma guerra religiosa. A outra reafirma que quer destruir os que não acreditam em seu Deus e todos os infiéis.
Uma face lembra os centuriões romanos. A outra tem a serenidade e a confiança dos profetas.
Uma atira muitas bombas e pouca comida para o povo. A outra manda de maneira não convencionais puras exortações.
As duas usam a agressão, a violência e a morte como intrumentos de demonstração de poder, sem se importar com a ‘Paz no mundo aos homens de boa vontade’.
As duas dizem que serão vencedoras nesta luta.
As duas faces não deixam de ser uma só face da mesma moeda: a guerra.
Com imagens tão contundentes e ações tão díspares, começo o novo ano cada vez mais confuso a me perguntar: qual é a face do Bem, qual é a face do Mal?