Desci,tomei uma sopa com gosto de hospital e fui colher as noticias.Acho que sairemos á tarde.Se atracarmos visitarei Tarragona,cansada de ficar naquele namoro de caboclo,só espiando de longe.Ao tentar tirar minha plantinha italiana do deck,escorreguei e levei um tombo;mas,o único dano foi uma unha quebrada.Coloquei a plantinha sob o chuveiro para lavá-la do sal;na subida pude apreciar a linda noite romântica de primavera catalã;um ar fresco envolvia tudo;noite pedindo amores ternos,mãozinhas dadas ao luar,de preferência com um fundo musical de Beethoven...Hoje á noite chega um dos engenheiros que construiu o navio,com a missão de consertá-lo;
3/5-------Terça- feira.Ainda parados frente á Tarragona.Espero que o tal engenheiro salvador da pátria tenha chegado;não vejo à hora de partirmos.Fazem exatos 15 dias que falei com minha casa;nos portos ás vezes as horas não coincidem,ou não há tempo para ligações;estou ansiosa por noticias.O navio em testes,o dia cinzento e meu humor,péssimo.Pedimos permissão a Tarragona para sair da âncora e agora é esperar o resultado dos testes;com tanto dinheiro em jogo e com o rigor dos tribunais marítimos,eles só viajarão se estiver tudo OK.”Roger”,que é o código para tudo bem.Almocei com o Cap.,no deck,um excelente peixe frito pescado ontem aqui mesmo,temperado com um delicioso vinagre filipino de sabor acre e forte.Não me atrevo a perguntar nada sobre o conserto para não atucanar mais quem já deve estar atucanado.Vejo o deck bem movimentado com todos os oficiais a postos,menos o 1º e o engenheiro;as comunicações com a terra não param;nós é que paramos de novo,vejo pela escotilha.Será que é praga de madrinha?”A mim e a Francis só resta passear,fomos á sala de ginástica e demos um pulinho na casa das máquinas,onde um suíço coberto de graxa e todo envolvido no seu trabalho,rosnou um seco ‘hi” em resposta aos nossos cumprimentos.È alto,jovem e tão branco que chega a ser transparente;lembra um santo barroco.desde que chegou á meia-noite de ontem não parou de trabalhar;os filipinos estão de língua de fora,mas,ele ,nem parece que já tem completas 50hs. de trabalho.;esperam umas peças que ainda não chegaram.Minha amiga também parece apreensiva com o atraso e o paradeiro,sem nada para fazer,alem de conversar e comer pão de queijo.O pior é que estamos quase sem provisões;o capitão não perde a calma,mas,é fácil perceber que não está confortável.