De acordo com o CNT/Sensus o governo federal tem aprovação de 72,5% e avaliação pessoal de Lula é de 84%.
Só os incautos acreditam nesses índices e na cientificidade de tais pesquisas.
Uma vez que ao executivo sempre interessa apelar para essa perversa arma de ludibriar o povo, já é tempo de legislativo e judiciário, em contraposição, assumirem a responsabilidade de evitar que o povo seja enganado por este instrumento pseudocientífico institucionalizado com o pomposo nome de “pesquisa de opinião”. Infelizmente já se tornou perverso meio de manipular a opinião pública.
À época da aprovação da reeleição promovida por FHC, tive ocasião de escrever sobre o mesmo assunto no Estado de Minas. É oportuno relembrar alguns pontos. Citava Heitor Cony, Jânio de Freitas e o especialista em análise de pesquisa, Pedro Couto, ao criticarem, os índices altíssimos favoráveis a FHC, publicados pelo Vox Populi/CNT, logo após estourar o “escândalo Eduardo Jorge”. Com eles condenava o projeto de marketing do governo federal, usando estratégia milionária de alavancar a imagem de FHC, “encomendando pesquisas de opinião”. Citei, inclusive, Roberto Campos: “Tais pesquisas são como o biquíni. Mostram tudo, mas escondem o principal”. Se houvesse, obrigação de os órgãos de imprensa, toda vez que se publicam os resultados de tais levantamentos, lhes acoplarem a análise de um especialista imparcial, provavelmente o impacto seria menor. A verdade é que o instrumento virou uma espécie de bumerangue: ao invés de legitimamente auferir a opinião pública, a manifestação dos resultados acaba manipulando a opinião na qual se espelhou.
Volto a repetir: “Não nego a “cientificidade” da pesquisa de opinião em si, ou seja, do método do “survey”. O problema não está no método ou no instrumento de pesquisa. Está quase sempre no “técnico” que o utiliza e nos coletadores de dados e suas entrevistas. Está particularmente no viés facilmente cometido, quando se passa da teoria da amostragem para a prática da escolha da amostra – de seu volume e de suas características em função do universo. Creio que, dos métodos de pesquisa, o estatístico é o mais acessível à manipulação. É fácil mentir com os números”.
A qualquer pessoa vivida ou com discernimento político há de causar perplexidade o índice publicado pelo CNT/Sensus (novamente o CNT – Conselho Nacional de Transportes!), dando a Lula 84% de aprovação pessoal e 72.5% de seu governo. Justo porque a publicação está sendo feita após estourar a crise econômica que atinge o governo, a ponto de a economista e jornalista Miriam Leitão declarar: “Se o PAC fosse o que dizem (...) o país não estaria neste ambiente recessivo (...) Se houvesse investimentos criando uma demanda da ordem R$ 646 bilhões em dois anos, não haveria desaceleração. Se apenas 2% das obras estivessem atrasadas, o país estaria andando. O governo está fazendo propaganda extemporânea e usando o Exército em frentes de obra.. Tudo é Pac :somar intenções de investimentos privados, planos de estatais engordados por razões políticas, com investimento público que pode ou não ser feito. (...) até o que é feito pelos Estados com dinheiros dos Estados”.
Por isso é fácil perceber que este país está novamente diante de uma grande enganação. È como se nosso povo vivesse numa ilha da fantasia e renovasse, a cada ano, o ritual masoquista da auto-intimidação: “mente para mim, zomba de mim, que eu gosto!”