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Artigos-->Contrato de Felicidade -- 04/02/2009 - 11:47 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No início da minha juventude ouvi falar em contrato de casamento. Gostei da idéia na época. Pareceu-me simples conhecer uma pessoa e chamá-la para viver junto. Era uma espécie de casamento, tal como amigar-se ou juntar-se hoje. Fazia-se um contrato e se não desse certo desfazia-se sem brigas na Justiça, sem escândalos, nem lágrimas. Essa moda surgiu há uns vinte anos, mas parece-me que não pegou.

À época um amigo contratou-se com uma moça. Até estive na festa em que ele a apresentou aos amigos e parentes. Hoje, vinte anos depois, ele veio queixar-me que o casamento, digo, o contrato, acabou. Ele estava em prantos. Já havia feito várias investidas para ver se a contratada voltava aos seus braços, mas fora rejeitado. Ele disse que quando se conheceram o contrato era por três anos. Aconteceu que a união foi tão boa que até esqueceram que um dia assinaram o tal contrato. A felicidade deles abafou qualquer suspeita de que a união não seria um sucesso. Tinham fidelidade, companheirismo e felicidade.

Agora que o contrato acabou ficaram a solidão, as lágrimas, o cheiro e a voz dela. Perguntei se no contrato havia a palavra fidelidade, companheirismo e felicidade. Ele disse que não. O texto trazia apenas palavras exigidas nos contratos comerciais, nada de romantismo.

À época dos meus estudos de Direito Civil fiquei chocado ao descobrir que o casamento era apenas um contrato social entre duas partes. Só que com sexo. Como naqueles dias eu estava em lua-de-mel com minha mulher, foi difícil admitir que a nossa união seria apenas um contrato. Eu não admitia a hipótese de o professor transformar o nosso amor em um simples contrato. O professor tinha razão, eu só não concordava com ele.

Meu amigo contratou-se com discrição, ofereceu um almoço a apenas alguns amigos. Todos os convidados confirmaram que em caso de desavença seria mais fácil desembaraçar a vida dele e da moça. O meu casamento teve todas as pompas, até paletó emprestado e barriga. Poucos dias antes várias pessoas me disseram que casar era coisa muito séria para um jovem de dezoito anos e uma garota de quinze. Apenas o seu João, que trabalhava comigo, encorajou-me dizendo que ‘o homem casado é mais respeitado na hora de fazer negócios’.

Quando meu casamento acabou chorei que nem bezerro desmamado, como meu amigo chora agora. Não importa o nome – casamento ou contrato – quando se acaba e a felicidade vai-se embora e fica a dor... Enorme dor. Creio que quando o meu amigo optou pelo contrato, e não pelo casamento formal, ele e a moça também pensaram que uma eventual separação seria menos dolorosa. Era só repartir os bens e pronto!

Tanto no contrato como na certidão de casamento não há a palavra felicidade. Relembrando os vários casamentos que participei como noivo ou convidado, em nenhum deles os celebrantes falaram a palavra felicidade. Lembro-me de falarem fidelidade, união, compreensão, tolerância, diálogo e amor. Parece-me que desejar felicidade não faz parte da cerimônia. Caros leitores, convido-os a relembrarem se já ouviram algum celebrante desejar felicidades aos noivos.

Conheço um casal que em suas brincadeiras apelidam sua certidão de casamento de nota fiscal ou escritura. Uma vez dito simplesmente certidão de casamento dá-se margem para a criação de vários tipos de casamentos: ruim, bom, ótimo, fiel, companheiro e até feliz. Por que apenas certidão de casamento? Por que não certidão de felicidade? Por que não certidão de casamento feliz ou contrato de felicidade?

Já vi diplomas de melhor mãe do mundo, melhor pai do mundo ou melhor esposo do mundo, mas nunca vi diploma de esposa ou marido mais feliz do mundo. Se vier a existir, corre-se o risco de darmos a nós mesmos. Esta é a diferença entre os demais diplomas. Não o receberíamos de ninguém, mas compraríamos para nós mesmos. Só nós, e ninguém mais, temos o poder de dizer que somos a pessoa mais feliz do mundo. Quando nos sentirmos infelizes guardaremos o tal diploma no baú e o retiraremos quando a felicidade voltar. Já que ‘não se pode ser feliz sozinho’ só nos resta encontrar alguém que também possua o diploma de pessoa mais feliz do mundo.

Nos últimos dias tenho ouvido falar de contrato de namoro. A Justiça tem dado ganho de causa àqueles que se sentem engabelados e vão a ela reivindicar seus direitos. Nesses contratos novamente não vi a palavra felicidade. Por que será tão difícil os apaixonados escreverem felicidade nos seus contratos se estão condenados a serem felizes para sempre?

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