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Artigos-->A crise mundial dos excluídos -- 02/02/2009 - 18:16 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Próximo a uma agência do Banco do Brasil um garoto maltrapilho comendo sanduíche saiu subitamente do meio das plantas e pediu-me água. Refeito o susto dei-lhe a garrafa e prossegui minha caminhada com a Mônica. Já na agência havia três ‘meninas de rua’ brincando, uma delas deitada em um papelão bem ao pé da porta. Embora brincassem entre si, elas, sempre atentas, estendiam a mão e pediam dinheiro a quem saía. Isso aconteceu em hoje Maceió, aqui na praia de Ponta Verde.

Mesmo acostumado, como você, a ver crianças na rua e seguir indiferente, deu no coração ver aquele garoto a poucos metros do mar a me pedir água para beber justamente na terra do Djavan que na música Esquinas eternizou a frase “sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar”. O que não falta neste país é água potável! Aquela garota deitada no papelão na porta do banco também me tocou. Como as meninas não me assustaram, fingi que não as vi, não lhes dei dinheiro e segui meu rumo. Assim mesmo. Indiferente. Talvez.

À noite o noticiário na televisão tratava da crise financeira mundial e do massacre de Israel aos palestinos. Para livrar o Brasil da crise, o governo Lula anunciou que liberará 8 bilhões de reais para salvar a indústria automobilística, isentou algumas pessoas do imposto de renda e autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprarem bancos particulares que estejam quebrando. Com isso, o governo evita algumas demissões e coloca o dinheiro para circular. O que é corretíssimo! Contudo, o que mais me intriga é ver aquelas crianças e suas famílias em crise financeira permanente enquanto que é só a indústria automobilística e os bancos entrarem em crise que o governo corre para salvá-los.

Os empregados ameaçados de demissão só têm emprego porque frequentaram a escola. Aquelas crianças estão jogadas na rua não é por conta dessa crise mundial. Elas estão lá desde a Lei Áurea. O problema é o mesmo, só mudou o nome. Essas medidas do governo é só para quem tem emprego e renda. Os pais daquelas crianças não estão nem serão afetados pela crise e nem se beneficiarão depois que ela passar. O mercado de trabalho nunca sairá da crise para colocar aquelas crianças na escola. As medidas do governo não são para tirá-las da rua. Com crise ou sem crise elas continuarão ali. Só mudarão o nome. A chance de os pais delas arranjarem emprego é mínima. Está centrada apenas nas pequenas empresas que requerem serviços com pouca qualificação.

Ao olhar só para as grandes empresas, tem-se a impressão que o governo está investindo nos patrocinadores das próximas eleições. Se ele quisesse ajudar os menores – crianças e pequenos empresários – bastaria investir na construção e reforma das 180 mil escolas públicas. Reformá-las incentivaria, dentre outros, os setores da construção civil, madeireiro, informático, têxtil e de celulose. Isto quer dizer dinheiro circulando e muita gente empregada. Segundo o senador Cristovam Buarque, bastariam 4 bilhões anuais, durante quatro anos, para colocar a educação brasileira com a qualidade dos países mais ricos. Repito que o governo está liberando 80 bilhões à indústria automobilística.

Ainda no noticiário daquela noite, o Ministro da Educação, Dr. Fernando Haddad, disse que ‘a crise mundial não afetará os investimentos em educação’. Como esses investimos são irrisórios, isto significa que aquelas crianças continuarão com sede de água, sem ir à escola e pedindo dinheiro para ajudar na renda familiar. Quando crescerem, provavelmente serão subempregadas nas casas dos funcionários de alguma empresa automobilística, do Banco do Brasil ou da Caixa, por exemplo.

Se daqui a alguns anos eu encontrar alguma criança de rua nessa praia talvez serão os filhos daquelas que vi hoje. No fundo, serão as mesmas, só mudarão o nome.

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