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cronicas-->Institucionalizaram meu corpo, mas vou de churro -- 27/05/2002 - 21:29 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Institucionalizaram meu corpo, mas vou de churro

Marcelo Lima


- Estou com 69. Dá para acreditar? - disse ao meu amigo depois de sair da farmácia que ficava ao lado da lanchonete onde estávamos.
Ele não disse nada e continuou a comer seu cachorro quente. Quando acabou, levantou-se para ir se pesar também e disse:
- É bem sugestivo.
Voltou alarmado:
- 79.
- Você é alto. Dá para disfarçar. E eu, com esse tamanho?
A idéia de ter ido lá comer havia sido minha. E para comer churro, mas vendo o cachorro quente mudei de idéia. Problemas da gula. Mas mesmo assim, tendo comido e matado minha fome fiquei olhando para a barraquinha do doce e disse para a menina:
- Me prepara um. Com doce de leite.
Meu amigo acabou comendo um também e fomos pegar o carro no estacionamento. No caminho passei a mão na barriga. Redonda.
- Vai me embrulhar o estómago - disse ele quando estávamos no carro.
Olhei para minha barriga novamente. Estufada.
"Comer tanto assim deve ser antiético", pensei.
Minha mente, completamente envergonhada de estar em uma cabeça que tinha o olho maior que a barriga, por fim me deu um consolo:
"Ao menos sua preocupação não é com a forma".
Fiquei imaginando depois, quantas pessoas não teriam feio o que fizemos. Tantas calorias, tanta porcaria de uma só vez. "Isso tudo engorda", poderia dizer qualquer um.
Essa minha forma redonda, não agradaria muito as mulheres. "Não estou no padrão", pensei. Mas e daí? Quem foi que disse que todos os homens têm que ter barriga de "tanquinho", como virou moda falar agora? Quem disse que todas as mulheres devem ter os mesmos corpos, rijos e esculturais?
Que saudade que tenho das mulheres naturais. Isso mesmo, com todos os defeitos que lhes são permitidos: barriguinha, peneuzinho, bumbum caído.
Louco? Mas é claro que não. Essa corrida maluca por um corpo perfeito é de uma superficialidade tremenda. Esse policiamento desvairado com tudo o que vamos comer é uma tortura psicológica cruel. Não comemos isso porque o verão está chegando e não queremos fazer "feio" na praia. Não comemos aquilo porque alguém poder reparar, e já viu, vira comentário de todos.
Exagero? Não. E o que dizer então do silicone? Nunca vi receita médica para isso.
É muito comum, hoje, a mulher querer ficar com o corpo de determinada atriz, modelo, ou da mistura das duas, já que não existe mais definição do que seja uma ou outra.
Na televisão, as mulheres são "perfeitas". Estão quase seminuas e falando de operações, exercícios e dos seus professores particulares. E nos programas em que não falam, estão, ainda lá, mostrando os corpos. Dois namorados que estão assistindo tv devem ficar pensativos:
"Minha namorada não tem um bumbum assim".
Ela, atenta aos olhares do outro, pensa:
"Será que ele está reparando no bumbum dela?"
Esta sim e ela provavelmente vai se cobrar e tentar ter um corpinho mais modelado. E ele vai reparar, quer dizer, talvez.
As revistas de moda também seguem o mesmo caminho. Outra vez mulheres e homens com corpos perfeitos.
Existe um padrão de beleza que, conscientemente ou não, todos acabam aceitando. Seja em busca-lo ou admira-lo.
Aquilo que devo achar bonito é determinado pela mídia. Tv, revistas, internet, todos numa cruzada. Institucionalizaram até mesmo que tipo de barriga devo ter, que bumbum devo achar bonito.
É bem provável que as mulheres sofram muito mais com isso, já que nós, ou seja, a grande maioria dos homens, olhamos mais do que buscamos um corpo perfeito.
Ainda bem que, tentando acabar com esse tipo de coisa, fiz meu protesto silencioso. Na mesma semana em que tudo isso passou pela minha cabeça, fui a um bar com esse mesmo amigo e disse:
- Vamos tomar uma cerveja?
Uma só não. Foram duas.
Minha barriga cresce em protesto.








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