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Cartas-->27. PAULA -- 15/08/2002 - 06:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Filha de tradicional família mineira, demorei bastante tempo para integrar-me nas fileiras desta “Turma dos Primeiros Socorros”, crente de que deveria merecer melhor sorte, qual seja, a imediata inclusão entre os monitores, suspeitando de que me caberia o título de professora. E isso se dava porque, na idade de quinze anos, tinha poesias publicadas e começara a redigir um romance, cujos primeiros capítulos haviam sido bem acolhidos pelos familiares.

Fiel devota de Nossa Senhora, não admitia que alguém pudesse desencarnar virgem, sem ser encaminhada diretamente ao Paraíso, local das eternas delícias, onde me seriam permitidos todos os gozos superiores.

A bem da verdade, não sabia o que eram os tais “gozos superiores”, nem me dava ao trabalho de buscar compreender o Empíreo. Queria porque queria e era tudo.

Foi com extraordinária paciência que o Irmão José me conduziu por diversos recantos mais adiantados da colônia, para demonstrar-me que os espíritos ali sediados desempenham funções técnicas de alta sofisticação, para a aquisição das quais me desfiaram os atributos curriculares, em cursos especializados, após terem vencido as dificuldades de adaptação.

Estariam os brilhantes trabalhadores contentes com a situação cármica? Perguntei a cada um, como se fosse essa a contestação que desejava patentear, de alguma forma, aos mentores encarregados da administração da colônia. Todos me disseram estar “gozando” de excelente saúde mental e sentimental, o que equivalia a dizer que estavam de posse do supremo bem possível. Quando insistiam em continuar discursando, para me evidenciarem que estavam esmerando-se nos conhecimentos e nas tarefas, para alcançarem postos mais importantes, eu desconversava, no temor de que me revelassem o quanto era inferior.

Essa era tolice das maiores, uma vez que me impedia de conhecer os percalços e os meios de eliminar as deficiências de caráter.

Mas tanto insistiu o querido mentor que conseguiu que lhe pedisse para me manter junto aos parceiros do grupo, onde procuraria estudar com generoso afinco, o que era o mesmo que dizer que lhe demonstraria que bastavam alguns dias para que pudesse ser reconhecida como ser superior, colocada entre os de mais baixa extração intelectual. Na verdade, eram restolhos dos preconceitos carnais, quando me via muitíssimo melhor dotada que todas as outras criaturas, mesmo quando me expunham boletins mensais com resultados melhores. Não havia meio de me convencer menos capacitada e encontrava desculpas para justificar as notas menos altas.

Pelo teor da comunicação, os amigos devem ter percebido o quanto estou arrependida de tudo o que fiz, tanto que me dedico a indicar os erros de interpretação da vida e da morte, tão-somente, sem trazer conhecimentos aprofundados sobre tema específico.

Após as frustrações iniciais, pois não conseguia vencer os trabalhos que me eram determinados, já que, em lugar de estudar, me punha a imaginar soluções, tive de me confessar a menos apaniguada de todos, naquilo que justamente me considerava perfeita, ou seja, a sensibilidade e a inteligência de externar a sutileza poética das coisas.

Viva, cantei o amor, em todas as formas. Deveria ter-me dedicado ao egoísmo, pois o sentimento que se introjeta na alma deve ter um sujeito como causa. Eu não tinha ninguém e isso acabei caracterizando como a mais profunda infantilidade.

Resumindo, estive por mais de três anos nesse vaivém improdutivo, sem crescer espiritualmente, embora sem sofrimentos pungentes. É que não descobria a pior das condições: o orgulho, o desejo de me ver acima das pessoas.

Um dia, após a leitura de uma das mensagens-teste dos colegas, me vi examinando o texto com olhos de ver, isto é, buscando entender o que fizera o autor considerar importante aquelas expressões, ao invés de outras. Até então, as comunicações apenas me levavam a analisar o linguajar e a gramática, para configurar a fragilidade do escritor. Naquela maravilhosa oportunidade, entretanto, pus-me diante do espelho dos problemas, compreendendo que eu mesma necessitava de passar por semelhante crivo, para merecer a crítica dos amigos e dos professores, o que só seria viável, se me dispusesse a enfrentar os sentimentos inferiores que se despertariam.

O resultado foi que o Irmão José me deu o direito de me ver encarnada no século passado, para vasculhar a personalidade anterior, já que não pudera, na última encarnação, usufruir a desenvoltura da mentalidade, em função do aperfeiçoamento das virtudes, por ter desencarnado cedo.

Sendo sincera (e aqui não se pede outra coisa), poderia desenvolver outros temas com competência, dado que superei os pendores para me julgar mais e melhor. Fá-lo-ia com desembaraço, sem dúvida, mas sem emoção, pois lhes daria tratamento científico. Por isso, preferi dar tonalidade sentimental a esta modestíssima peça, admitindo que a falha mais corriqueira dos recém-chegados é a consideração de que suas vidas estiveram impecáveis.

Nesse sentido, é muito triste observar que os criminosos mais perversos também trazem a mesma impressão, uma vez que têm desculpa para todos os atos, quando não partem diretamente para as acusações de injustiça da parte do Pai ou dos protetores.

Por outro lado, dizem-me os amigos que pouco adiantará que me esfalfe na argumentação da perfídia maliciosa dos encarnados, pois são pouquíssimos os que lerão o texto com agrado, sem se sentirem magoados com as insinuações de perversão espiritual. Aliás, esses mesmos não terão nada para corrigir, pois, naturalmente, estão vacinados contra as incontinências mentais e morais.

Vim para repetir o que a consciência de cada um já sabe, tanto que...

Adeus, amigos! Fiquem na paz do Senhor!

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