ELEGIA A JAMES CARVALHO AMARAL QUE RESOLVEU PARTIR,SEM AVISAR, JUSTO NO DIA DO MAR
A sardinha
Vai ficar sem seu acólito
a lagosta temperar
sem seu propósito...
o mar permanece
em elegia.
Luto profundo, fuga, calmaria
do seu maior poeta e parceiro.
Os amigos se quedam
sem poesia
o aderente, o parente
e a maresia...
se morrer for assim Djeimes,
me perdoa
mas avisa e adverte numa boa
pra que a gente
não se sinta
meio em órbita.
E a ecologia, meu amigo
você abandona assim,
sem mais nem menos?
e o mar de Tamandaré
de ares amenos
como vai marulhar
sem o teu violão ?
E o apartamento em Botafogo
(Antártida vem depois...)
e Brasília, família, bar,
Inglaterra, USA,
o mundo e o todo ?
Estamos nós daqui
feito piranhas
devorando o aqui
estraçalhando o agora
e você camarada
por aí...e tal e coisa
por um motivo qualquer
se vai embora !!!
E o Jair, teu pai
e Dolores, tua mãe
quando num dia primeiro
de janeiro
me acolheram
na Júlio de Castilhos
em frente à casa do
Médici general ?
E aqui pra nós...
que olvido é esse
de não sucumbir
sequer a qualquer foro...
morrer até parece mesmo um grande desaforo !!
E “Van”, tua mulher
O que fará na vida, afinal,
um carnaval mais
pálido, esquálido e banal ?
Que malvadeza
fazes ao Padilha
e a nós todos, enfim,
esta quadrilha,
plena de amor porque
te glorifica
antes que partas
sem poder enviar
nunca mais, versos e cartas
É...
faz de conta
que a gente
fez acerto
pra te ensejar
mais um concerto
e se encontrar, em breve,
um dia, qualquer hora
dessas que nem são
nem vão embora...
mas estão.
Já que o mar, companheiro,
continua
( até quando não sei...)
a palavra lavrada
crua e nua, preservei,
que te ratifique,
embora na ausência:
um ser no que há de melhor
em substância e essência.
Olinda, 20.out.1991
02:00h AM
WALTER SILVA
|