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Artigos-->REQUINTES DE CRUELDADE -- 03/01/2009 - 17:47 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 28 de dezembro de 1992, há exatos 16 anos, o Brasil chorava junto à novelista Glória Perez, a perda de sua filha, Daniela Perez, assassinada com 18 golpes de tesoura pelo casal Paula Thomaz e Guilherme de Pádua. Segundo depoimento do próprio assassino, a morte da atriz era a única forma capaz de provar à mulher que não tinha um caso com Daniela, como acontecia na ficção, em que ambos protagonizavam uma relação explosiva de amor e ódio, na trama de "De Corpo e Alma", da própria Glória, veiculada no horário nobre da Rede Globo.



Ao saber da morte da filha, a autora tratou de se confortar nos braços de amigos. Guilherme era um deles e a acompanhou durante o velório e o enterro, limpando-lhe as lágrimas. Mas o que ninguém esperava era a reviravolta que a história teria, pois o casal havia sido flagrado por uma testemunha no momento do crime.



A notícia caiu como uma bomba. O Brasil entrou em pânico. O caso ganhou a capa dos principais periódicos, avançou fronteiras, assustou o mundo. Dominada pela indignação, Glória mostrou toda sua revolta em texto publicado dentro da novela que escrevia, em que afirmava ser Guilherme uma pessoa de dupla personalidade, de uma frieza ímpar, cuja literatura médica não hesitaria nomear de "psicopata".



Presos, Paula e Guilherme foram julgados e condenados a mais de 20 anos de reclusão. E foram necessários apenas 10 anos para que a Justiça, cumprindo nova legislação criminal aprovada pelo Congresso, com a bênção do Executivo, colocasse-os de novo nas ruas.



"Que país é esse que se comove com as lágrimas de uma mãe - após a perda de uma filha - e se compadece do ‘sofrimento` dos assassinos? Serão necessárias mais quantas mortes, para que os Três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - percebam o erro que cometeram ao recolocar nas ruas este casal?" - perguntava a novelista, atônita, ao se interar da libertação dos mesmos, no Domingão do Faustão, de abril de 2002.



Não satisfeita com a indagação, Glória partiu para o contra-ataque e conseguiu reunir um milhão de assinaturas - o mínimo exigido pela Constituição Federal, nos mais distantes cantos do país, para que a lei retornasse ao plenário e fosse revista pelos congressistas. Como qualquer mãe, ela esperava que os homens que fazem as leis se sensibilizassem com sua dor e, à luz da razão, desfizessem os artigos benevolentes que se referiam ao respectivo crime. Mas, para o espanto dela e de toda a sociedade, o Congresso negou a petição, alegando incapacidade do Governo em abrigar o contingente de detentos, caso a lei fosse revogada.



Com a maior cara-de-pau, os deputados e senadores pediram desculpas aos interessados e voltaram às atividades normais, dando por finalizado o assunto. O clima causou constrangimento, ao ponto de Fernando Henrique Cardoso, presidente à época, se esquivar de uma pergunta feita por uma jornalista de "O Estado de São Paulo". "O Brasil não está cometendo um novo crime ao permitir que seres degenerados, como este casal, voltem às ruas, pondo em risco toda uma sociedade, já acuada pelo banditismo do cotidiano"? - inquiriu a repórter. "Democracia é assim mesmo!" - respondeu o estadista.



Você que está lendo este artigo, entendeu a resposta do senhor presidente? Eu também não! Mas o que isso importa? Hoje, Guilherme e Paula estão soltos, com a ficha limpa (a nova lei eliminou os dispositivos que tratavam da punibilidade posterior dos réus por meio da citação dos mesmos e dos respectivos crimes praticados em bancos de dados integrados dos agentes judiciais. É como se eles nunca tivessem feito nada de errado e o assassinato de Daniela Perez não passasse de fantasias emanadas da mente fértil da escritora Glória Perez), pregando a palavra de Deus como salvação - pelo que consta, fundaram uma igreja em algum canto do país.



Se há alguém punido nessa história, é Glória! Ela perdeu a única filha e até hoje, mesmo passados tantos anos, convive com essa dor, que, de acordo com estudos da psiquiatria, é considerada a mais letal. Não bastasse, ainda corre o risco de, numa praia do Rio de Janeiro, dar de frente com o casal na areia, comendo um churrasquinho... Dá para acreditar?
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