Gerald Criche, Gudrun, Rupert Birkin, Úrsula e Hermione em cena do filme "Mulheres Apaixonadas" de 1969
Embora não seja a obra mais conhecida de David Herbert Lawrence, Mulheres Apaixonadas é sem dúvida a sua obra-prima, uma vez que sintetiza todo o pensamento do autor inglês, mais conhecido pelo romance erótico “O Amante de Lady Chatterley”. A obra conta a história das duas irmãs Brangwen. A mais velha, Úrsula, é uma professora primaria, e a mais nova, Gudrun, é uma artista. Através dessas duas personagens e daqueles que cruzam os seus caminhos, como os amigos inseparáveis Gerald Kirch, filho de um industrial, dono de uma minha de carvão em Beldover, onde a história se passa, e Ruppert Birkin, professor na mesma escolha onde Úrsula leciona, os quais se tornam amantes das irmãs. O que mais chama a atenção na obra – aliás, como em todas as obras de D. H. Lawrence – é a interação entre homem e natureza por um lado, onde há diversas cenas onde o homem, os animais e a natureza selvagem se interagem, como no capítulo intitulado “Festa Aquática”, onde, durante um piquenique, Gudrun, depois de nadar nua no lago com a irmã, faz uma dança orgiástica para alguns bois que pastam ali perto; ou na briga entre Birkini e Úrsula durante um passeio pelo campo, passeio esse que sela o destino do casal. Outro ponto que fica bem claro, principalmente para aqueles que conhece o pensamento do Filósofo alemão Nietzsche, é a influência desse pensador em toda a obra. Conceitos nietzschianos como Übermensch (além do homem), Wille zu Mach (vontade de potência) estão bastante claros ao longo de toda a obra, como no capítulo intitulado “Mimo”, onde Úrsula e Birkin travam um belo embate sobre o amor e onde um casal de gatos mostra de forma violenta o jogo da sedução no reino animal, o que causa indignação à Úrsula. A impotência do Homem diante da natureza é outro tema tratado ao longo da obra, como no afogamento da menina Diana, no capítulo XIV; na lembrança da morte acidental do irmão de Gerald com o disparo de uma arma, quando os dois irmãos, ainda garotos, brincavam; e novamente a morte trágica do próprio Gerald durante um passeio na estação de esqui, já no final da obra. Enfim, além de uma obra fascinante, cheia de frases memoráveis como “Os homens são vampiros e as coisas são todas fantasmagóricas”(1), “A vida de qualquer pessoa está sujeita a meras eventualidades”(2), “Uma das coisas mais difíceis desse mundo é o ato de espontaneidade”(3), “Não se faz instintivamente o que não se pode”(4), “Quando, na realidade, queremos qualquer coisa melhor, tratamos primeiro de destruir o que existe”(5), “A vida é um pântano de fadigas, nós, um amontoado de insetos debatendo-nos no charco...”(6), “No fique de contas a humanidade não é senão uma expressão do incompreensível”(7) “Todos começamos por beber leite, depois comemos pão e carne, todos queremos andar de automóvel; eis o começo e o fim da fraternidade entre os homens. A igualdade não existe”(8), “Maas a hunaidade não passa de uma árvore que secou, coberta de belas e brilhantes frutas secas, que somos nós”(9), “As pessoas precisam é de ódio, ódio e nada mais. E em nome da justiça e do amor, não fazem senão espalhá-lo!”(10), “Ainda que o homem seja dono dos animais domésticos, continuo a achar que não tem direito de violentar os sentimentos de seres que lhe são inferiores”(11), “O amor é uma direção que exclui quaisquer outras” (12), “Nunca lamento os mortos, uma vez que estão mortos. O pior é que se agarram aos vivos e nunca mais os largam”(13), “quando preenchemos nossa existência, o melhor é morrer, exatamente como um fruto maduro que se desprende do ramo”(14), “Preciso de alguém a quem possa falar com o coração nas mãos”(15), “O desejo vale mais que a posse”(16). Mulheres Apaixonadas é também uma obra obrigatória para entender a importância de D. H. Lawrence para os movimentos de libertação Sexual, uma vez que ele pregava justamente a libertação do indivíduo pelo erotismo, quebrando o tabu de que este é algo pecaminoso.
Obs: a referidas citações foram tiradas da edição de 193, pertencente à coleção “Obras Primas” da editora Abril, cuja tradução foi feita por Cabal do Nascimento.
(1) Cap 1, pag. 11
(2) Cap 2, pag. 24
(3) Cap. 2, pag 31
(4) Cap. 4, pag 46
(5) Cap. 5, pag. 51
(6) Cap. 5, pag. 52
(7) Cap. 5, pag. 56
(8) Cap 8, pag. 100
(9) Cap. 11, pag. 122
(10) Cap. 11, pag. 122
(11) Cap 12, pag, 137
(12) Cap. 13, pag. 147
(13) Cap. 14, Pag. 177
(14) Cap. 15, pag. 183
(15) Cap. 24, pag. 314
(16) Cap. 24, pag. 321
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