Às vezes, fico a pensar que o mundo gira ao contrário. São tantos os absurdos, tantos os desacertos que as almas mais delicadas e até aquelas mais rudes ficam por vezes sem fala, de tantas esquinas tortas e prosas mal explicadas. São crianças, aquelas que têm os olhos brilhantes de fome, enquanto tanto alimento é produzido para ser consumido e jogado ao léu? Nas ruas, a vida tem o valor de míseros trocados, no campo mais valor tem o gado. Às vezes, fico a pensar nas vidas desperdiçadas, além da dor comum a todos nós, que não consegue calar tanta ausência de amor, tanta indiferença, tanta distância do outro, que é meu irmão, cara metade da minha, reverso do meu coração. Nada do que é humano me é estranho, mas, ultimamente, vejo a surpresa estampada no rosto, o lobo vestido de cordeiro, o inocente padecendo as agruras dos desertos nos becos miseráveis. Onde esconderam a alegria, o prazer das manhãs de sol e o encanto das estrelas derradeiras? As areias levaram, o tempo expirou. Eu por meu lado, continuei acreditando na força da vida a penetrar os cantos obscuros da existência. E a esperança teimosa continua a dizer que ainda é possível sonhar e acreditar porque há caminhos e trilhas a percorrer e muitas histórias prá contar. |