Um olhar perdido ao chão.
Sem sol, sem estrelas.
No nascer de um dia
que nem sabe se foi ou se será.
Nem o solo, onde vão e vêm outros olhares
que não se encontram,
pode parar aqueles olhos viajantes.
De tristeza?
De raiva?
De espera?
De cansaço?
Só se vê que não se é visto.
Que nada vale, que nada fere.
Só a vida que passa
onde tudo corre.
Quem foi, quem virá?
O que foi, quando será?
O que encontrará aquele olhar
perdido no chão?
No longe, no belo,
no difícil.
Um olhar, mil pensamentos.
Que nem sonha que estive lá,
ou que esteve aqui.
Este olhar me levou e eu fui.
Para onde, eu não sei.
Só sei que viajei.
Fiz chorar, rir,
esperar, desistir,
planejar.
Fui o dono do olhar perdido.
Passei perto e longe.
O olhar não passou.
Tudo passou, tudo virá.
Não sei quantos olhares estiveram lá.
Nem sei se aquele olhar ainda está,
onde, talvez, nunca estivera
e eu passei.
Mas do olhar que não era para mim
eu me apossei.
E naquele pedaço de passagem
construí um mundo atemporal,
um mundo disforme.
Um mundo sem atmosfera.
Onde habita um olhar perdido que talvez não exista.
No começo de um dia que eu não sei se foi
ou se virá. |