Eu hoje estive pensando
Que o nosso cordel poderia
A exemplo da capoeira
Ter graus que a pista daria
O tempo que o cordelista
Levou prá chegar na lista
Dos mestres da poesia
Ao iniciante da arte
A faixa teria cor branca
Primeiro grau no terreiro
A rima bastante franca
O seu batismo primeiro
O seu cordel verdadeiro
A porta faltando a tranca
A entrada do aprendiz
Com garra e muita humildade
Treinando bastante a harmonia
Primando pela amizade
Dos mestres recebe conselho
Palavras que se faz espelho
Imita com sinceridade
E assim vai se desenvolvendo
Até que um dia a criança
Que começou na cor branca
A faixa verde alcança
Cresce em verso e harmonia
Faz parte da confraria
Com a faixa da esperança
Segue o aprendiz de cordel
Rimando as coisas da vida
Falando de amor e de paz
Prá essa gente sofrida
Com graça e muito talento
Jogando esperanças ao vento
Vai galgando a subida
Já alcança outro estágio
Já dá golpes mais certeiros
Não se perde no caminho
Segue sempre os companheiros
Sua rima já é consistente
Mexe com o amor da gente
São seus versos verdadeiros
Avançando cada vez mais
Já conhece mais o caminho
Já acumula sentimentos
Já arrisca a andar sozinho
A caminhada mais comprida
Levou grande parte da vida
Colhendo rosas e espinho
Passado um bom pedaço
A cor agora é celeste
Azul é seu novo grau
Já é bom cabra da peste
Já começa a fazer frente
Com um bocado de gente
Gente boa ou que não preste
Mas é tudo brincadeira
Nada contra nem de pessoal
A briga é pura troça
Vale tudo, isto é normal
Aponta o defeito e realça
Tira o cinturão da calça
Bate no bem contra o mal
Muito tempo é passado
Recebe a faixa amarela
A faixa mais preciosa
A faixa que é a mais bela
O grau que equivale ao ouro
A faixa que vale um tesouro
A faixa de toda aquarela
A faixa dos mestres e amigos
De todas as cores e histórias
Daqueles que escrevem na hora
Valendo-se de suas memórias
Visões alegres, otimistas
Sonhadores e realistas
Merecem todas as glórias
Pois os mestres são perfeitos
Ao pintar as aquarelas
Não demoram com as rimas
Tem nas faixas todas elas
Não mais se permite retoque
Fazem seus versos a reboque
Abrem portas e cancelas
Possuem o brilho e o valor
Do metal mais valoroso
São ourives das palavras
No que tem de mais precioso
Falam com a voz da verdade
Do amor com simplicidade
Fraternal e sempre amoroso