Sentado em baixo de um bloco de apartamentos abandonados, sem nada pra fazer, olhando as meninas que passando ao longe. Ele tenta entender porque se sente tão perdido ante a dúvida de o que fazer após terminar seu segundo grau feito na escola normal, e ele nem ao menos deseja dar aulas. Ele é um rapaz magro, alto, olhos castanhos, um rapaz comum em sua beleza. Mas que ele esconde por de trás de seus olhos é que atrai as pessoas, seus olhos castanhos, simples e tristes.
Ele sai andando dali sem direção no centro da cidade, próximo a rodoviária. Ele vê a rodoviária, seus ônibus com pessoas saindo e chegando. Ele gostaria de ter dinheiro pra viajar. Ele gosta de viajar. Mas aquela cidade onde ele vive está cheia de lembranças, e é isso o que lhe segura. Ele vê a possibilidade de viajar, num misto de desejo por aventuras infantis, ser super-herói, cowboy, ter dinheiro, se apaixonar. E o medo pelo desconhecido, porque é muito mais fácil estar parado, esperando cair milagres do firmamento, mas saiba que os milagres nunca caem, talvez o que possa cair são alguns aviões e de vez em quando uns helicópteros. Ele está confuso com todas essas coisas. O que ele não sabe é que isso é natural em todo adolescente que terminou seu segundo grau. Ë natural esse medo por coisas diferentes.
Ele está sem dinheiro, sem carinho, sem poder conversar com alguém, mas ele tem sorte de ter seus olhos castanhos, misteriosos e tristonhos e atraentes. Que faz as pessoas o notarem e até mesmo compreenderem o que o rapaz suburbano está sentindo, as pessoas passam por ele e olham com olhares que entendem. E ele compartilha a dor com aqueles olhares. Todos já passaram esses momentos na vida
É um sábado frio de final de outono, céu nublado, que faz ele lembrar daquela menina, que lhe abraçava e o fazia passar o frio, essa lembrança o faz sorrir pela primeira vez no dia, e esquecer que não é dos melhores dias de sua curta vida. Uma lembrança lhe faz esquecer, ele percebe esse é mais um dos muitos antagonismos que o perseguem na vida.
A vida é complicada e instável, essa é uma conclusão definitiva em sua vida, a única definitiva. Ele entende que a vida nunca será simples, e se assim o fosse faria de sua vida muito chata e entediante. Ele vai viajar, ele vai mudar, porque ele percebeu que ele precisa desatar os nós que o prendem ao passado. O passado é dele, intangível e real. Ele não vai esquecê-lo. Ele só quer observar as torres da cidade ao longe, mas elas são pequenas diante do que ele quer e do que ele imaginava. E ele pequeno vê que existem coisas que ele nunca imaginou que existissem.
|