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Artigos-->INDÚSTRIA DA "CUrTURA" MESMO -- 02/11/2008 - 19:04 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A INDÚSTRIA DA “CURTURA”



Francisco Miguel de Moura*



Existe uma indústria da “curtura” que querem nos impingir como indústria cultural, assim como existe uma indústria da música, da política, do sexo, uma indústria de tudo. Só para ganhar dinheiro, sem pensar no que se faz e no que vai dar o mundo se assim continuar fazendo. Não pensam esses “industrieiros” em fazer e escolher o bom e o belo, o melhor, muito menos em premiar o que vale a pena ser feito e ser premiado.

Falo com conhecimento de causa em literatura e penso na obra de Paulo Coelho. Ela existe graças à indústria da cultura, não à indústria cultural ou à cultura da indústria. Pode meu fraseado parecer jogo de palavras. Não é. Que o leitor repare bem nos substantivos e na sutileza da adjetivação. Outro dia li numa revista de grande circulação nacional que ele, Paulo Coelho, está subindo, que seu novo livro, “O Demônio da Srta. Prym”, estaria na lista dos mais vendidos na França, na Espanha, na Itália, no Japão, em Portugal.

Se alguma comparação se pode tirar disto é que, enquanto Paulo Coelho sobe, a literatura cai, certamente. A literatura dos que o lêem. Pois o instituto da literatura continuará por muitos séculos entre nós, enquanto se cultuar a memória e a obra de Machado de Assis, de Graciliano Ramos, de Guimarães Rosa, de Eça de Queiroz, de Clarice Lispector e de tantos outros prosadores e poetas como Fernando Pessoa e Drummond, por exemplo. Enquanto o Prêmio Nobel for atribuído a escritores como José Saramago.

Pobre mundo que importa do Brasil um triste Paulo Coelho, que não chega a ser romancista nem escritor de auto-ajuda. Seria melhor que os que procuram esse tipo de leitura lessem mesmo o Dalai Lama, porque este é assumido, não se propõe a criar nem a escrever ficção. Pobre mundo também é este nosso que importa dos Estados Unidos a pior espécie de literatura, os chamados “beste-seleres” que empestam as prateleiras das livrarias e bancas de jornal. Todos têm o mesmo valor que Paulo Coelho, Sidney Sheldom e John Grisham. Do último, por descargo de consciência, li “O Testamento” – livro que não tem nada a dizer a ninguém, a não ser bababá, retratando, e muito mal, o mundo americano que vive do dinheiro, pelo dinheiro e para o dinheiro. A ótica desse livro é a de que nada do mundo interessa, salvo o dinheiro. Nada mais existe, só o dinheiro.

Das listas dos mais vendidos o que salva é que, de vez em quando, aparece um José Saramago, graças a Deus em nossa língua, graças a Deus um português e graças a Deus um prêmio Nobel. É por isto que a gente ainda sente prazer em entrar numa loja de livros.

Sobre “O Testamento”, registro o desprazer de tê-lo lido. Mas o fiz todinho, para que depois ninguém me venha insultar: “Ele só faz falar, mas não lê os best-seleres.”

Li-o todo, sim, como já havia lido “O Alquimista”. E me arrependi, perdi meu tempo. O que mais dizer? Em termos de “estilo” é sensaborão; em termos de emoção, nenhuma, nenhuma mesmo, incluindo as piores; em termos de construção, nada que se possa dizer que seja um romance – é mais um “scriptum” em busca de um cineasta desempregado para aproveitá-lo como roteiro de um daqueles filmes da “curtura” de massa; em termos de linguagem, uma porcaria, frases mal-alinhavadas e repetidas, palavras balofas e repetidas; frouxidão do começo ao fim, graves e imperdoáveis erros de português. Poderão dizer-me: “- Ah, não exagere! São defeitos de tradução”.

Não. São desculpas. A lixeratura, a má escrita, só faz mal, especialmente se recebida por um jovem. O mal que se recebe através da subliteratura tende a multiplicar-se indefinidamente.



_____________________

*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora no Piauí. E-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

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