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Cartas-->22. ADELAIDE -- 10/08/2002 - 08:11 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desde que aqui cheguei, na idade de seis anos, tenho trabalhado em prol dos familiares. Primeiramente, dei-lhes notícias através do médium de Uberaba, o querido Chico Xavier, precisando, depois, afastar-me, por causa dos transtornos psíquicos causados pelas informações.

Na verdade, meus paizinhos queriam que eu estivesse no Céu e não em colônia em que me atribuíam tarefas próprias aos seres mais experientes. Não concebiam que alguém, desencarnando aos seis anos, pudesse ter o espírito adiantado.

Infelizmente, na pressa do contacto patrocinado pelos intercessores amigos, precisei passar-lhes informações incompatíveis com a idade. Pensavam que minha escolaridade fosse pré-primária e não entenderam direito os termos mais adultos, embora me tivesse esforçado por anunciar-lhes o auxílio dos protetores.

No início, julgaram-se apaniguados por extrema felicidade, ao terem a certeza de que a vida prossegue no etéreo, como se não houvesse interrupção, no caso de estarem os recém-desencarnados sob o manto da misericórdia do Pai, uma vez que não se expuseram a erros ou a vícios. Em seguida, começaram a desconfiar de que não fora eu quem lhes respondera às questões, algumas bem específicas. Passaram a suspeitar de que os parentes que cuidavam de mim é que deram seqüência à comunicação. Finalmente, preferiram acreditar que foram iludidos e que eu estaria no Céu, sob a custódia direta de Jesus, nos braços de Deus, como lhes disseram os sacerdotes da igreja onde eu fora batizada.

Tanto esforço mediúnico para nada!

Agora mesmo, está a sobrar outra desconfiança séria, qual seja, a de que tudo o que disse, por falta da comprovação dos nomes e dos sobrenomes, também possa estar sendo falsa, nos mínimos pormenores, na tentativa espúria dos espíritos de enganar a quem prefira supor que Deus é pais de mais ampla misericórdia do que a de oferecer tão-somente oportunidades de trabalho e de assistência, quando bem poderia dar o Paraíso.

Não vou relembrar as leis principais. Vou ater-me ao fato de que é preferível receber com serenidade a lógica das recompensas segundo as obras. Por que mereceria eu a angelitude? Por ter passado uns poucos anos na Terra? Só por isso, sem ter realizado nenhum ato de bondade, em favor das pessoas que me amavam? Se fosse assim, por que Deus não limitou a vida a uns poucos anos, até que a pessoa fosse capaz de criar um filho, para depois levá-lo diretamente ao seu Reino de Amor? Melhor ainda: por que o Pai não nos fez perfeitíssimos, a ponto de ocuparmos lugar ao seu lado, se é que estivesse sentindo a solidão de ser único no Universo?

Como se pode notar, a argumentação por absurdo nos levará aos argumentos que Kardec refutou desde a Codificação Espírita. Nem é preciso ir tão longe, basta ter o bom senso de perceber que Deus não tem necessidades, ou não seria Deus, segundo os atributos que não lhes podem faltar, os da onipotência, onisciência e onipresença.

Agora, pensem comigo se seria possível a uma filhinha de seis anos apresentar aos pais tais razões metafísicas ou teológicas, para discordar da postura perante a existência transcendental. E se lhes disser que tenho toda a vivência das outras vidas, nas quais fui estudante atenciosa dos princípios cármicos, segundo o ponto de vista espírita, não estarei sendo intolerante para com sua falta de acuidade espiritual?

Às vezes, a verdade nua e crua fere as susceptibilidades dos menos afeitos às necessidades de progresso do ponto de vista moral, intelectual, espiritual. E olhem que meus queridos paizinhos estavam estudando as obras espíritas, tendo lido, enquanto eu era viva, “Nosso Lar”, de André Luís, e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.

Mas o meu passamento causou-lhes mal-estar psíquico. Não lhes bastaram os relatos de outras crianças. Quiseram a confirmação da minha existência em continuidade e foram em busca de consolação em Uberaba. Contudo, apesar de terem sido recebidos com muito amor e carinho, como acima disse, refugaram os dizeres muito sisudos para minha pouca idade e me puseram a manifestação na berlinda.

Se é para a frente que devemos pensar, cabe-me interrogar o nobre leitor a respeito de sua crença. Perante estas assertivas, como teria reagido, ao receber a minha cartinha pelas mãos de luz do médium poderoso? E se fosse pela voz de uma preta velha, em terreiro de Umbanda, incorporando o seu Orixá e dando notícia da pequenina, que não era tão pequenina no plano espiritual? Como está aceitando esta longa peroração, cheia de argumentos profundamente meditados, porque frutos das discussões com os colegas e da orientação do Mestre José?

Aos poucos, o quadro de informações que o grupo arquitetou vai montando-se, em benefício da elucidação dos que desejam enfronhar-se neste roteiro de temas não facilmente encontradiços na literatura espírita. Dado que estamos observando como reagem as pessoas, não acreditamos que haverá muitas surpresas de caráter filosófico, pois preferem os encarnados acreditar em que noventa por cento do que se escreve mediunicamente não está correto, porque não se apõe o sinete dos espíritos de luz. Quando o grupo se denomina neófito, jovem, de primeiras letras, ou, simplesmente, “Turma dos Primeiros Socorros”, a tendência a menosprezar a sapiência dos informantes ou a consistência dos informes se acentua.

Vamos, pacientemente, aguardar que os escritos sob a epígrafe de “Escolinha de Evangelização” ganhem foros de cidadania entre os encarnados, para começarmos a colher os frutos das sementes que vimos plantando no árido terreno doutrinal, onde a fé se deixa obstruir pelos preconceitos, mesmo entre os que se denominam de espíritas kardecistas.

Muitos haverão de nos contradizer, afirmando-nos que teria sido melhor que nos dedicássemos somente aos temas e não às reflexões a respeito das reações dos humanos.

Pois, se for assim, teremos de discordar. O que estamos esforçando-nos para comprovar é que o comodismo das informações, como ocorreu com meus pais, é causa de irreflexão, dado ser muito mais fácil de aceitar-se o que vem consagrado pelos nomes famosos ou pela responsabilidade de quem se revestiu de poderes temporais, quer dentro das religiões, quer das seitas de caráter espírita ou mediúnico. No caso de meus progenitores, inclusive, nem os nomes de Kardec, de André Luís ou de Chico Xavier surtiram o efeito da autoridade. Que se dirá, então, se a coitadinha se disser chamar, tão simplesmente, Adelaide?

Compreenderam o sentido que desejei dar ao texto?

Então, fiquem com Deus, meditando profundamente na vida, na morte e na existência etérea!

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