Ela estava trajada
com seu melhor vestido :
" O de festa". Tão irreal!
Mistura de roupa de anjo
com a roupa de boneca
quando entrara no hospital
desfalecida nos braços do marido
Ela era miúda. Seca.
Pálida. Maracujá azedo.
No entanto, o vestido de seda
com recortes de tafetá, brilhava
como uma imensa labareda,
disputando com o sol
a primazia do reino da princesa
Eram tantos brocardos, laçarotes,
bordados, miçangas, pregas
nos punhos, debrum no decote,
coisas preguentas, pegajosas,
penduricalhos de todas as modas,
que lembravam parasitas gordos
feitos de falso ouro, roendo o corpo,
no fausto do mau gosto
Ah, vida, exagerada em malvadez!
Ah, vida, quanta absurdez,
frivolidades e besteiras!
Pois
malgrado os esforços
dos médicos
e das costureiras
Malgrado a luta
entre bisturis
e tesouras ;
porta-agulhas
e máquinas de costura
a mulher morrera
Dizem que o marido
qual um idólatra louco
permanecera três dias
sentado no mesmo lugar
à espera que o vestido ressuscitasse
E ressuscitou?
Ninguém sabe!
Mas dizem que ao final
do terceiro dia
houve trovões e tempestade!
"E quanto à mulher?
E quanto ao conteúdo?"
A mulher?
Ah, sim, a mulher....
Bem,esta desceu bem descida à sepultura!
E deve estar lá...
nua!
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