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Poesias-->Antologia Poética Parte I -- 15/09/2002 - 22:09 (Cristiana de Barcellos Passinato Prima Castro Alves) |
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Eu e Minha Sombra
Caminho com minha sombra.
Vivo com minha sombra.
Onde ando sempre em frente
Sempre no comando
Acostumei a olhar calada.
Eu e minha sombra,
Apesar de nunca se deslocar,
Fazia-me pensar,
Mas nunca antes a ouvi falar.
Percebi como nunca antes
Seu assobio e seu cantar.
Hoje ao andar, ela ousou me falar.
Curioso!
Pois havia algo que não havia percebido.
E ela me fez reparar
O quanto estava ela diferente.
Diferente de meu andar.
Ela que sempre vinha na minha frente
Pôs-se lado a lado para poder sussurrar.
Sussurrou algo que me tocou.
Para isso ela teve que ainda me encarar.
Assustei-me com tal evento.
Parecia o mundo paralisar.
E só ela a me falar,
A me encantar.
Falou-me,
Perguntou-me,
Pôs-me a refletir.
O que há contigo?
Quem é você?
O que está fazendo contigo, menina?
Não dá mais para lhe frondar.
Eu pasmei,
Calei,
Reparei.
Realmente a sua indagação
Tinha razão.
Seu perfil não era mais o meu.
Ou seria o meu que não seria mais o dela?
Enfim, o seu corpo esguio e sua voz serena,
Seus cabelos longos esvoaçantes me fizeram entender...
Quem sou eu?
E respondi:
Fiz a minha máscara,
Fiz uma defesa,
Fiz algo para me esconder.
Esconder-me do que eu sou.
Só que essa máscara,
Essa casca,
Ganhou camadas e mais camadas.
E não está fácil mostrar.
Mostrar o que sou.
Vez por outra.
Alguém consegue
Olhar e ver a essência.
Por entre essas camadas.
Dessa casca endurecida,
Dessa máscara grudada
No que eu não quero mais ser.
Dentro da Máscara
Essa máscara
Que não sai.
Que aderiu tão completamente.
Que não sai.
E quero tira-la,
Mas dói.
Dói mostrar o que tem por trás.
Será que é o de antes?
Antes...
Muito tempo atrás?
Será?
Ela vai tirar?
Tirar algum pedaço.
Pedaço de mim...
E me aleijar...
Aleijar o meu criar!
Quem sou eu?
Está Difícil
Eu me ver,
Eu me reparar.
Reparar de detalhar.
Reparar de concertar.
Cadê aquela que fazia mazelas?
Cadê aquela que fazia gracejos?
Cadê aquela que dizia fazendo carinha de anjo?
Não sei.
Não encontrei.
Era capaz de seduzir.
Era capaz de olhar sem medo de ser olhada.
Era olhada e não ridicularizada.
Era olhada e não penalizada.
Era olhada e não banalizada.
Era olhada e DESEJADA.
Cadê aquela que era eu?
Cadê o que eu era?
Não, eu sei que não.
Adormeceu...
Dormência
Que apatia.
Que sonolência.
Essa distorção que me alucina.
Agonia?
Quero sintonizar,
Tocar o mundo,
A paisagem,
A vida.
Não quero mais sentir
Essa DORMÊNCIA!
Em meu corpo!
Em minh´alma!
Dono das Letras
Não preciso de letras,
Palavras,
Sons.
Sou eu.
São palavras de uma alma.
Prova.
Verdade.
Não preciso renome.
Tão logo se lê,
Se vê.
Não precisa de forma,
Nem forma
Para escrever.
Jogo e brinco
Elas se arrumam.
O som nasce.
A poesia cresce
Em meu ser.
Dúvida Cruel
“Ser ou não ser, eis a questão?”
Plágio?
Cópia?
Eu não!
Um clone?
Some!
De jeito nenhum!
Foi apenas uma dúvida.
Dúvida cruel.
Sou eu?
Essa que brinca.
Brinca de impressionar.
Impressionar?
Impressionar pra quê?
Impressão é algo que dá.
E passa...
Mas eu vou ficar.
Ficar pra mostrar.
Mostrar algo competente...
Mais que isso.
Algo imponente...
Não! Não é isso ainda?
Algo simplesmente
Que sai de mim.
Camafeu
Música antiga.
Arte na parede.
Esculturas e um belo quadro à óleo.
Lá eu vi a senhora do camafeu.
Uma linda propriedade
E um pingente perdido.
Foi assim que me aventurei.
Na arte de descobrir e procurei histórias.
Aquele camafeu desenhado.
Aquele pingente abandonado.
Largado no meio da rua.
Hipnotizando-me.
Pra que pegá-lo?
Qual seria a sua função?
De aquilo ficar na minha mão?
Por um instante, pensei!
Não vou deixá-lo quebrar.
Tal porcelana,
Essa pintura,
Essa rubra face,
Esses cabelos castanhos cacheados,
Esse olhar lânguido?
Semblante de boneca,
Antiga, aquelas de época,
Boneca de louça,
Bonequinha de luxo
De uma era que não vivi.
Levou-me a um tempo que não temi.
A vitrola.
E a música clássica.
Um fundo bucólico
De atmosfera envolvente,
Nas paredes da casa,
Pendurado,
Firme encontrei.
Lembrei-me de filme,
Cenas clássicas de “flash backs”,
Sensações de algo que
Nunca senti.
Estranha proximidade,
Intimidade.
Com afeição,
Com a situação,
Com o luar.
Que já estava a chegar.
Assim chegou a razão
Por tudo que vim.
Uma longa sombra.
Um belo corpo.
Músculos,
Pele alva,
Um semblante sereno,
Olhar denunciando
Íntimo turbulento.
Certifica pelos gestos firmes,
Ajeitando seus cabelos castanhos,
De um moreno claro,
De charme discreto.
O que fazes aqui?
Quem és?
O que te trazes aqui, menina?
Agitada,
Sem fôlego,
Logo me veio o rubror
Com o fogaço.
Ameaço sorrir.
Sem jeito,
Coloco a mão no peito.
Mostro-lhe enfim,
A senhora do camafeu
Que também estava ali.
Não sabia.
Mas a senhora do camafeu,
A mocinha da tela,
O moreno...
Tudo me veio como falo aqui.
Tão de repente,
Tão completamente.
Ele olhou para mim.
Sorriu com meiguice,
Arrancando-me o camafeu do pescoço.
Num lance também me abrindo o decote em brasas.
Que não pude me conter.
Um beijo nasceu.
Um amor ascendeu.
Uma questão:
O que o destino me seria mais capaz de trazer?
Meu Cantar
Quando canto
Alcanço
Ou quero alcançar.
O vento
Leva-me
A todo lugar.
O estremecer
Do ar.
Leva meu cantar.
A quem desejo amar.
Natural é Natureza
O que mais vale?
Ser natural?
Ou ser a própria Natureza?
Caso queira?
Eu posso falar:
Que uma coisa não pode ser
Se a outra não consentir.
Tal é a faceta
Da Natureza que não pode
Deixar de ser natural.
A falseta
É natural.
A beleza
É Natureza.
Quem nunca se pegou
Tentando disfarçar.
Tentando melhorar.
Isso é natural!
Mas já que é
Não pode temer
Porque nunca deixará
De ser natural,
Pois é a própria Natureza,
Em sua linda beleza,
Até seu momento final,
A mais natural!
Suave Veneno
A vaidade de quem tem idade
Da mocidade.
Por um instante
Senti-me com dor.
Por não sentir o que sentia.
Não ver mais o que me fazia
Mover.
Saltitava,
Cantava,
Dançava
Ensandecida.
Insana,
Mas feliz.
Que saudade!
De quando eu fiz
Tudo o que quis.
O que me fez feliz.
Temor do Fulgor
O que me faz ter esse temor?
Temor do amor
Que causa dor.
Dor que dilacera.
Amor que explode.
Sacode.
Cintila no amanhecer.
Sinto a dor.
E vem o temor!
O suor!
O pulsar!
O cansar!
O gemer!
O estremecer!
Sem parar... Ah!
Até gozar de paixão...
Tesão.
Isso...
Perder o medo
De querer!
De temer,
De crescer algo em meu âmago.
Em minhas entranhas.
Estranhas
A mim com prazer.
Quero dar esse prazer.
Sentir essa dor...
Sentir essa fogueira.
De estar sem eira nem beira.
No alto!
No ápse,
No momento! Ah!
Descoberta...
Desse licor com sabor de amor.
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