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cronicas-->Churrasco de domingo -- 23/05/2000 - 12:06 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em Brasília, o ritual do churrasco dominical é algo quase que sagrado. Sem contar com as opções de comida pronta das outras capitais, o churrasco dominical é quase obrigatório. Naturalmente, falo daquele resto de classe média que insiste em resistir. Quem mora em casa, faz em casa. Quem mora em apartamento vai na casa de quem mora em casa. Muitos também vãos aos clubes e parques. O local não importa muito. O interessante é a festa.

Algumas vezes por ano nos reunimos em uma das casas dos amigos mais chegados para o ritual gastronómico, com direito a tudo que um bom churrasco pode oferecer, em especial a conversa fiada. Mentiras não são ditas, pelo menos não daquelas do tipo eu faço eu sou e eu tenho. Também não há concurso de roubalheira, dado que todos saíram pobres de suas carreiras no governo e agora tentam obter algum na iniciativa privada. Os que persistem no governo, persistem pobres, de modo que de enriquecimento ilícito ali ninguém pode ser acusado. Pelo número de BMWs na frente e nas garagens vê-se que somos uma bela turma de inocentes classes média. Ou um exemplo raro do que sobrou dela. Não fossem as contas a pagar, dormiríamos todos com certa tranquilidade. Vê-se logo que esta é uma turma meio chata para churrascos de domingo. Nem tanto. Voltando à questão das mentiras, realmente não há muitas. Em compensação, fala-se besteiras à exaustão. Besteira pode.

O horário, seria em princípio o meio dia. Mas isto foi sendo relaxado a ponto de que, chegando-se entre 13 e 14 está ótimo. Como a carne, a menos de cortes especiais, só vai para o fogo quando todos chegam, o almoço propriamente dito, só sai por volta de 14:30, as vezes, 15:00 horas. Não é propriamente uma visita como antigamente se fazia. É um churrasco entre amigos onde, após a comilança inevitável senta-se a falar e ouvir besteiras de toda ordem. A temática é variada. No último, como de costume, resolvemos a maior parte dos problemas do Distrito Federal e, excepcionalmente, discutimos em profundidade a pertinência do acordo entre o governo gaúcho e a Ford e a GM. Claro que toda a discussão é balizada por grande conhecimento de causa e alguma cerveja. Mais a última que o primeiro. Não perguntem as conclusões pois, por dever de lealdade mútua, elas permanecem secretas e só podem ser invocadas em churrascos posteriores, como se alguém pudesse lembrar de alguma. Como se houvesse alguma. Na hora do almoço vimos a maioria dos filhos das casas amigas (são duas, lado a lado e com passagem entre os quintais). Já não são crianças, de modo que foram poupados dos comentários clássicos:

- Como cresceu!, já está uma moça
- Como vão as gatinhas?
- O teu pai já te viu com aquele namorado?"

Só o caçula não tinha aparecido. Quando ele apareceu na grade do portão que divide os terrenos foi um Ah! geral e o comentário inevitável. Como cresceu, como está isto, como está aquilo. Naquele momento me dei conta de que fazia quase um ano que eu não o via e, de fato, neste período ele cresceu muito. Que simpatia, que alegria. Foi uma pena mesmo que ele não póde juntar-se a nós. Não sei bem porque, talvez por ser muito levado. Melhor não insistir. Depois fui conversar com ele a sós e ele não se conteve.

Sacudiu o rabo, lambeu-me as mãos, abanou-se todo, contou-me suas últimas aventuras e confirmou outras de que eu ouvira falar mais cedo. Ele sabe que, ao menos em princípio, cachorro não fala, mas não se conteve.

Baru é realmente ótimo.


Escrito em 10.03.2000
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