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Artigos-->O Preconceito e a Discriminação Positiva -- 13/12/2001 - 21:52 (Magno Antonio Correia de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


É inacreditável o cinismo dos que se opõem à chamada discriminação “positiva” – isto é, a concessão de vantagens competitivas às minorias esmagadas – sob o pretexto de que iniciativas dessa natureza proviriam de pessoas preconceituosas, sectárias, racistas. Exemplifico homenageando o pensamento de um notório baluarte do anticomunismo, uma verdadeira relíquia da guerra fria e dos anos de chumbo, que de vez quando publica por aqui uma imprecação a esse respeito, afirmando que não cabem, na realidade nacional, “negritude júnior” ou “branquelice sênior”, afinal, argumenta, somos todos tão verdinhos...



Além de falaciosa, a tese ignora o verdadeiro sentido da palavra “preconceito” e a confunde com a resistência tenaz à opressão. Preconceito, no sentido exato do termo, é uma atitude que ofende profundamente a inteligência humana. É preconceituoso – e antes de mais nada estúpido – o autor da nada memorável teoria da “curva do sino”, onde se proclamou a superioridade intelectual da raça branca, ignorando-se, como se isso fosse possível, a desigualdade de condições econômicas que segrega os seres humanos. No fundo, o branco europeu teve a sorte de vencer, em tempos não muito remotos, a batalha da pólvora contra o arco e flecha, e é, no mínimo, inegavelmente tolo que se pense nisso como o resultado de uma inteligência superior, até porque os europeus não descobriram a pólvora; roubaram-na de um povo que a utilizava para fins mais civilizados.



É também carecedora de propósito a pretensão de submeter as demais orientações sexuais a uma pretensa predominância do heterossexualismo, somente porque nesse último o sexo também leva à procriação. Ocorre que o sexo entre homens e mulheres, a bem da verdade, só muito excepcionalmente tem como propósito a perpetuação da espécie. Tomem-se os mais ortodoxos pastores protestantes e examinem-se quantas vezes as relações que mantiveram com suas veneráveis esposas destinaram-se à perpetuação do “homo sapiens” – na média deles, isso ocorreu um número ínfimo de vezes, ou todos fariam parte de famílias em que os vinte e cinco filhos corresponderiam às vinte e cinco vezes em que marido e mulher fizeram amor nos últimos vinte anos. Machões empedernidos vibram quando recebem sexo oral de suas parceiras, e, em termos reprodutivos, essa é uma atitude tão estéril quanto o coito anal mantido entre dois homens. Se a preocupação fosse de fato a permanência da espécie humana em seu planetinha miúdo, não haveria razão para o preconceito, porque sempre haverá quem sinta prazer em se relacionar com o sexo oposto, e até existirão os que se empenham nessa atividade sem o uso de métodos contraceptivos.



Enfim, soariam mesmo muito engraçadas, se não fossem trágicas, as reações furibundas dos que proclamam a necessidade da introdução de reserva de vagas em universidades para minorias como o produto de mentes pérfidas e racistas. É mais ou menos como se o miserável Barcelona quisesse eternamente comparar sua total falta de infra-estrutura com os portentosos recursos postos à disposição do poderoso Íbis. Tomando como base o raciocínio dos que combatem a discriminação positiva, o clube catalão teria todo o direito de reclamar, em defesa de uma suposta “igualdade” de oportunidades, contra um regulamento em que seu congênere pernambucano disputasse partidas entre os dois times levando, de início, dez ou mais gols de vantagem.



A comparação nem sequer é muito feliz, porque a vida não é um jogo. Ou, se for, não pode continuar se caracterizando como uma disputa viciada, na qual um dos dois lados eterna e monotonamente sai ganhando. É sempre bom lembrar que a forma mais covarde de romper a isonomia consiste em “garantir” tratamento igual aos que nada têm de semelhante.

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