Num ensaio anterior, falei da complexidade do pensamento nietzschiano e inclusive sugeri aos amigos leitores, que desejassem ler Nietzsche, que o fizessem pelas obras menos densas como O Nascimento da Tragédia por exemplo. Para jogar um pouco mais de luz às ideias do pensador alemão, é preciso saber o que de fato Nietzsche tanto combatia. E esse é o grande problema para a maioria dos leitores, os quais muitas vezes se esquecem de situar o pensamento e a obra de um autor no contexto histórico. Afinal, toda obra é produto de uma época a qual o influência positiva ou negativamente. E com Nietzsche a coisa não poderia ter sido diferente.
A filosofia de Nietzsche floresceu em oposição ao movimento romântico, “um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que perdurou por grande parte do século XIX”(1). Tal movimento era caracterizado por “uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo”(2). Para Nietzsche, o Romantismo é um sintoma de “autodestruição” e uma “vontade de nada”(3), assim como todos os românticos são na verdade uma “forma doentia de decadence[decadência]”(4) embora nos primeiros escritos tenha se deixado influenciar por este movimento como ele mesmo confessa ao falar de “O Nascimento da Tragédia”(5). No entanto, o Romantismo é um dos seus alvos principais em oposição ao Classicismo, o qual ele não só o via com bons olhos, principalmente a antiguidade clássica que ele enaltece não só no “Nascimento da Tragédia”, como o abraça ao longo de seu pensamento. E para ele, o estilo clássico é a expressão de “um fluir de refluir de paixão sublime, sobre-humana”(6). Portanto, um dos passos para compreender Nietzsche passa pela compreensão de sua aversão ao Romantismo e pela enaltação do classicismo. Embora seu classicismo não seja o mesmo de Goethe, Nietzsche considerava Goethe um aliado e “o último alemão de gosto nobre”(7), elogiando-o em muitas passagens de suas obras.
Outro tema fundamental no pensamento Nietzschiano é a questão do “EU”. Mas este fica para uma próxima oportunidade.
NOTAS 1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
3. Fragmento Póstumo 5(71), verão de 1886 – outono de 1887
4. Fragmento Póstumo 15(97), início de 1888
5. Nietzsche a chama de “confissão romântica” e “Obra cheia de coragem e melancolia” no fragmento póstumo 2(110) de Outono de 1885-Outono de 1886
6. Fragmento Póstumo 11(138), novembro de 1887 – março de 1888
7. O Caso Wagner.