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cronicas-->Lagartixas -- 23/10/1999 - 12:00 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Enquanto lia junto à churrasqueira, Inajá me
alertou para a presença de algumas lagartixas,
destas que ficam por aí em busca de mosquitos e
outros insetos. Inajá saiu e fiquei observando
por alguns minutos. O que antes parecia apenas
piso de pedra, de repente transformou-se em
extenso viveiro de espécies as mais variadas. O
que parecia pétreo, imutável, tornou-se palco de
ações e aventuras diversas, local de muita
atividade, de vida e de morte.

Identifiquei a origem das lagartixas. Sua base de
ação é sob a geladeira. Elas ficam ali sem serem
notadas. Quando surge um alvo saem rápidas e
rápidas voltam, com a presa devidamente capturada
e engolida. Posicionam-se novamente para nova
empreitada. Como fiquei quieto e nada mais havia
a intimidar-lhes ficavam mais atrevidas e
dispunham-se à jornadas mais longas.

O cardápio naquele dia era formigas com asas. As
formigas contudo tinham um comportamento muito
estranho. Não lutavam, nem sequer resmungavam.
Imagino que, atraídas pela luz, as formigas iam
para perto da geladeira e no chão, faziam seu
pouso derradeiro, ficando completamente
disponíveis para as lagartixas. Não esboçavam
nenhuma reação e, vivas, eram engolidas. Pareciam
conformadas com seu destino funesto, talvez ainda
embriagadas pela beleza do vóo ou simplesmente
ignorantes do risco que corriam. Mais provável
uma mistura dos dois, mas com uma resultante
única. O fim. Tentei identificar alguns traços
nipónicos mas não tive sucesso.

Tinha uma lagartixa com apenas três patas. Na
realidade a outra (dianteira direita) estava
dobrada sobre as costas e parecia ter sido
violentamente amassada. Pelas minhas observações,
lagartixa com três patas anda muito bem. Não
parecia sofrer com o fato. Talvez ela estivesse
provando para as outras que conseguia caçar mais,
como se diz, com uma mão nas costas. Quando ela
se aproximou eu a chamei, mas ela fez que não
ouviu. Foi embora e continuou caçando suas
formigas como se eu não existisse. Não sei se ela
era surda, arrogante ou simplesmente não fala
com estranhos. Imagino que nas horas de folga ela
escreva crónicas sobre gigantes desengonçados que
ficam olhando lagartixas caçando.

Em compensação veio outra, toda oferecida,
puxando conversa e querendo contar casos. Ela
explicou-me que, na realidade elas vivem nas
partes mais altas da parede, escondidas atrás das
coisas que estão nas prateleiras e também de umas
máscaras. Aquela particularmente, vive numa
caneca de alumínio que fica pendurada em uma das
prateleiras. Ela poderia ter ido para uma de
vidro com visão panoràmica mas achou que não
teria a privacidade necessária. Como a caneca é
muito pouco usada, ela organizou lá sua vida. Tem
quarto, "closet", copa e sala de estar. Quando
está entediada, diz ela, vai para a alça da
caneca e fica apreciando a paisagem. Contou-me
que, logo que chegou aqui, foi dormir justamente
dentro da churrasqueira. No outro dia acordou
literalmente com fogo no rabo e só não fez parte
do churrasco dominical porque tinha ficado no
lado contrário ao que mais uso. É de lá que ela
me conhece. No princípio ela ficou muito chateada
mas depois, observando a rotina da casa, entendeu
que não era nada contra ela. O episódio foi um
grande mal entendido e desde então ela aguardava
a oportunidade de me falar a respeito. Hoje se
diz agradecida e feliz com sua casa própria.

Ouvindo a descrição que fazia da casa dela (a
caneca de alumínio) lembrei-me da casa do Snoopy.
Entre muitos cómodos o que mais me impressiona é
a pinacoteca com obras de pintores famosos (acho
que são reproduções). Gerta (minha saudosa e fiel
amiga) também tinha seu próprio mundo. Enfiava-se
sob uns ciprestes junto à cerca do terreno e lá
sumia. Eu sempre fui muito curioso sobre o que
realmente havia lá, mas nunca fiquei sabendo.
Gerta levou consigo o segredo, mas eu não
estranharia se lá encontrasse um cassino
clandestino.

Uma vez ela arrancou um tatu lá de dentro, mas
isto é outra estória.
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