Durante muitos anos deitaram na grama e desfrutaram do pinicar. Aos poucos foram destravando suas almas e aquele santuário, transformou-se no confessionário de seus pecados, amores e frustações. Cumpriam uma espécie de ritual e sempre olhavam as nuvens, enumeravam alguns bichos ou objetos mas, rapidamente, passavam aos seus problemas ou alegrias. Confiaram suas primeiras experiências sentimentais e embora, veladamente, sentissem um certo ciúme, torciam e davam palpites, quase sempre acertando em suas previsões.
Na adolescência passaram a escrever textos e poesias que transbordavam sons, cores e cheiros com tal força interior, que os queimava feito lava. Eram críticos ferozes até das idéias e pensamentos não formulados. Ele sempre tão poético e doce, ela sutil e minuciosa.
A vida os levou por caminhos diferentes sem nunca os separar. A distância forçou-os a se corresponderem, mas sem que nenhum dos dois soubessem, sempre fechavam os olhos e visualizavam no coração a grama e as nuvens, antes de converterem seus sonhos em palavras.
Foram anos profícuos. Tantas alegrias, dores, angústias, amadurecimentos, incertezas, euforias e amores. Principalmente amores. Nas dores e angústias estavam incrustadas as perdas...dos amores. E eram divididas com tanta precisão, que sofriam fisicamente. Riam e choravam; conseguindo transmudar toda a dor em luz, que jorrava de seus escritos.
Era incrível como dirigiam suas vidas profissionais e particulares com aparente sabedoria e, ao mesmo tempo, turbilhonassem em sentimentos contraditórios, onde colocavam em xeque todas as decisões que, aparentemente, haviam tomado com tanta facilidade. Tinham a impressão de serem pássaros presos em gaiola de fundo falso, de onde poderiam fugir se conhecessem o segredo.
Houve épocas em que ficavam como que anestesiados. Um vácuo profundo se formava em suas almas e secavam, sem conseguirem escrever uma única linha. Nessas horas se telefonavam apenas para perguntar: você está aí? E isso bastava, a certeza da presença um do outro. De repente vinha a euforia...e brotavam como lírios em pleno inverno! E eram páginas e mais páginas de amores imaginários tão exultantes, que sofriam por não serem compreendidos. Por serem cobrados e rotulados.
Ainda vivem assim; passando por furacões avassaladores, e, qual gladiadores, defendem seus frágeis corações para logo depois enfrentarem novo combate. Se encolhem atrás de débeis escudos, fabricados de palavras e juras, e procuram sepultar num poço sem fundo toda a injustiça de que se julgam alvo. Não são de todo inocentes. Com seus delírios, fizeram e fazem sangrar as almas dos que tentam acompanhar seus desvarios, porém recusam-se a sufocar suas ilusões, a vagar por uma pseudo-existência ... sem a magia do sonhar.
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