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Artigos-->CABALA FÁCIL - Anjos, Mandalas e Preces -- 09/09/2008 - 17:50 (JOSÉ DAS NEVES NETTO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ANJOS

Quando pensamos em anjos, duas figurações nos ocorrem. Na primeira, imaginamos seres de aparência humana, mas capazes de voar com suas enormes asas; na segunda: pessoas comuns, expressando imensa pureza ou bondade.

Pesquisando textos sagrados, verificaremos que a primeira das figurações - aliás, a única utilizada na representação artística desses seres - somente ocorre em situações de sonho ou profecia. Na totalidade dos demais casos, anjos são representados como pessoas comuns, encarregadas da transmissão de alguma mensagem ou pequena missão. Estão sempre de passagem, não declaram o nome que possuem, não aceitam quaisquer recompensas ou homenagens e somente em casos de permanência mais demorada ingerem alimentos ou água, embora aceitem e apreciem sempre o incenso.

Um dos mais belos e emblemáticos casos que o texto bíblico nos oferece é o dos anjos que vieram a Abraão anunciar a destruição de Sodoma e Gomorra e promover o resgate de Lot.

Lot nos é apresentado como amigo de Abraão e possuidor de muitos bens e servidores. Tantos eram esses bens e servidores que os conflitos daí gerados levaram os amigos a decidirem pela separação. Por decisão de Abraão, coube a Lot escolher o território que melhor lhe aprouvesse. Esse território veio a se transformar nas cidades de Sodoma e Gomorra.

Frustradas as tentativas de Abraão de evitar a destruição dessas cidades ímpias e pervertidas, incumbiram-se dois dos três anjos enviados a essa missão de promover o resgate de Lot - único justo ali residente, e seus familiares. Apenas mulher e duas filhas, pois seus futuros genros duvidaram da palavra de Lot e decidiram permanecer junto aos bens que possuíam.

Aqui o relato bíblico, por demais sucinto, se torna impreciso ao descrever que mesmo tendo os anjos tomado os retirantes pelo braço, a mulher de Lot olhou para trás e se converteu numa estátua de sal. Provavelmente os sábios do Talmud comentarão que, mais que simplesmente olhar para trás, essa mulher ficou presa na contemplação de um passado prazeroso e agradável, porém definitivamente perdido.

O texto bíblico também não diz se os anjos se entristeceram e choraram ao perder a mulher de Lot.

Eu tenho certeza que sim!



MANDALAS



Mandalas são muito comuns na tradição védica. No judaísmo e no cristianismo elas são pouco referidas. No cristianismo elas são um dos mais belos ornamentos da famosa catedral de Chartres.

As mandalas, com seus círculos concêntricos, nos conduzem à idéia de que somos o centro e o ponto mais importante de tudo quanto nos pertence, nos circunda ou está sujeito e afeto às nossas ações boas ou más. Trazem à nossa memória e reflexão a condição de que somos únicos. Nem melhores nem piores que qualquer outro ser humano. Mas simplesmente únicos. Nunca houve antes e não haverá jamais ninguém igual a nós. Somos o produto de uma experiência acumulada ao longo de anos e de existências.

Imagine um pequeno lago de águas límpidas e tranqüilas. Agora lance nessas águas um pedaço de madeira, uma pedra, um corpo qualquer. Lance o seu próprio corpo, se preferir. Observe as ondas que se formam a partir desse corpo, formando círculos concêntricos que se espalham em ondas cada vez menos perceptíveis sobre a superfície da água. Você certamente não perceberá, mas as ondas provocadas pelo seu corpo propagaram-se também sob a superfície e acima das águas. Formariam um globo perfeito se meios menos densos, no caso o ar acima do lago, não fossem também menos favoráveis à propagação de ondas.

O quadro que imaginamos e tentamos descrever representa também uma mandala, a sua própria mandala. Você constitui o centro de onde se irradiam em todas as direções ondas que se propagam até o inimaginável. Ondas geradas pelo efeito de suas ações, pensamentos, julgamentos, intenções...

Estamos acostumados a contemplar mandalas artisticamente representadas em planos únicos. Voltemos nossa atenção agora a esses planos, mais facilmente observáveis e inteligíveis.

Eles apresentam sempre a mesma configuração: um centro e círculos concêntricos formados por linhas, figuras, adornos, recortes, etc. Assim à primeira vista, essas admiráveis figuras transmitem uma idéia básica apenas espacial: um centro e elementos cada vez mais distanciados dele.

Meditando sobre a mandala, facilmente abstrairemos diversas outras idéias que certamente incluirão o tempo - esse inseparável parceiro do espaço, e o afeto, situado em outra dimensão.

Como já tratamos no capítulo dedicado aos anjos, nossa limitada percepção nos confina aos limites espaços-temporais. Estariam então - perguntemo-nos - o poder de nossas vontades, ações e intenções também restrito a esses limites? Haveria algum meio de os transcendermos?

Parece que de forma direta esses limites são insuperáveis.

De que forma então poderíamos fazer chegar nossas ondas de proteção e afeto a alguém que estivesse situado muito próximos de nós em nossa mandala afetiva, mas distante na espacial? Alguém assim como o filho querido que agora é obrigado a ingressar numa universidade distante? Ou tão somente se encontra em viagem por, sabe Deus, que perigosos caminhos?

A cabala nos dá dois ensinamentos: o primeiro é que a palavra Providência significa prover com oportunidade e eficiência; o segundo é que a Providência a todos de tudo provê. Somente que na cabala esse prover se realiza através das mãos de todos. Não de todos nós, mas daqueles de nós que à Providência nos juntamos nesse esforço de prover.

Ao nos tornarmos aliados da Providência, tornamo-nos amigos e protegidos dos seres angélicos, que não possuem um veículo físico como nós, que são incapazes de mover uma única palha, mas que nem por isso deixam de influir na cadeia e sucessão dos eventos físicos.

Esse influir pode ter sido de difícil compreensão para os místicos do passado, mas hoje, desenvolvendo uma analogia com os sistemas de computação, que operando uma base muito simples de apenas dois dígitos, 0 e1, ou positivo e nulo, realizam inumeráveis operações, podemos mais facilmente aceitar e compreender a idéia.

Assim, em simplesmente prendendo ou distraindo a nossa atenção, os seres angélicos reordenam os eventos. Se tivermos o cuidado de observar cuidadosamente, logo perceberemos com clareza o resultado de ações angelicais. A observação será mais fácil e as ocorrências mais numerosas quando estivermos atuando em prol do bem alheio sem nenhum propósito egoístico.

Mudemos agora todo o cenário.

Temos muito próximo em nossa mandala espaço-temporal alguém que nem sequer conseguimos imaginar quão distante se encontra em nossa mandala afetiva. E esse alguém precisa do resultado de nossas ações. Precisa de uma ajuda para superar a fome e o frio ou até mesmo sua crônica, vil incapacidade de superar o vício ou se auto-prover. Precisa de uma palavra amiga, um sorriso, um simples cumprimento. Precisa de um pisca-alerta que lhe indique perigos à frente, precisa de espaço físico para superar as dificuldades de uma ultrapassagem que tola, distraída ou afoitamente imaginou poder realizar.

Quem o proverá? Eu? Um anjo descido dos céus nesse exato momento? Ou o anjo que me acompanha, habita em mim, dirige o melhor de minhas ações?



PRECES

Os sábios do Talmud entendem que há uma escala de efetividade nas solicitações que fazemos aos mundos superiores.

A mais eficaz de todas as formas seria a meditação. Alguém disse que, na meditação, ouvimos, em vez de sermos ouvidos. É uma bela e profunda afirmação. Pois toda ação sobre a realidade material em que estamos imersos tem que ser desenvolvida por nós mesmos ou por nossos irmãos de carne e osso, pois os anjos criados para nos auxiliar são seres sutis, imateriais e, por esta razão, são incapazes de mover uma palha. Assim, para superarmos a dificuldade presente, basta-nos ouvir o conselho ou estímulo correto e passarmos à ação.

Em seguida viria, nessa escala de efetividade, a invocação. Os sábios do Talmud devem ter generalizado, pois a voz do povo confirma que invocação de mãe é instrumento poderoso.



Numa quadra menos feliz das nossas existências, eu e minha filha acompanhávamos diariamente o tratamento que o falecido sogro dela recebia no hospital do câncer em Londrina-PR. Num daqueles dias intermináveis, ouvimos alguém contar uma passagem de sua vida que ficou para sempre gravada em nossas memórias. Rememorando sua vida de motorista de caminhão, o homem nos contou que certa feita, viajando pela Bahia, percorria uma longa estrada na região onde se cultiva o mamão papaia. Quilômetros de mamoeiros já haviam sido percorridos quando ele teve sua atenção despertada por um magnífico e apetitoso fruto. Ele teve que andar bastante em marcha-a-ré até localizar novamente a sedutora fruta. Desceu, colheu-a e estava prestes a comê-la quando, vindo não se sabe de onde, apareceu o dono da plantação. Este, transtornado, foi logo destratando nosso motorista, acusando-o de ladrão de coisas alheias. Em vão este argumentava que se tratava de uma única fruta madura que logo cairia ao chão, sem nenhum valor comercial. O dono da plantação parecia fora da sua própria razão. Quando nosso narrador lhe ofereceu pagamento pela fruta, o homem pediu por ela mais do que valia uma caixa inteira de frutos. Quanto mais se falavam, menos se entendiam. Foi quando, vinda do meio da plantação, apareceu uma mulher com um filho pequeno nos braços. A mulher estava desesperada. A criança havia caído dentro de um taxo de sabão fervente. Nosso homem correu para o caminhão, acomodou a mulher e seguiu o mais rápido que pode para a cidade. Quando chegaram ao hospital, uma surpresa: o dono dos mamões também estava lá. Viera agarrado à parte traseira do caminhão. Era o pai da criança. A situação agora se invertia. O pai insistia em pagar pelo serviço do caminhoneiro e este insistia em nada receber, pois entendia que não fizera mais que sua obrigação ao prestar socorro a uma criança necessitada. Acabaram amigos e toda vez que por ali passava, nosso caminhoneiro parava para visitar a família.

A história fez-nos refletir sobre o poder da invocação da mãe e o atendimento que lhe deu o mundo angélico ao despertar a atenção e o apetite do motorista por uma mamão entre milhões deles, depois confundir o entendimento do pai, retardando a partida do caminhão até que a mãe pudesse alcançá-lo com o filho nos braços.*

* episódio descrito no conto “Maria”



Para os sábios do Talmud, a prece é o instrumento menos efetivo quando se busca alcançar os mundos superiores. Talvez porque, na prece, ao nos preocuparmos com as palavras que empregamos, nosso estado de consciência desce do nível mais elevado e sutil do pensamento, para o nível mais concreto da palavra. Talvez porque, na prece, geralmente nos preocupamos com nós mesmos, pois o Talmud também comenta que, quando alguém pede para outrem aquilo de que também necessita, ambos são supridos, como no caso de Sarah, mulher de Abraão.







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