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Cartas-->19. ANGELINA -- 07/08/2002 - 06:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Depois que compreendi que não mais pertencia ao grupo dos vivos, foi muito fácil avançar nos conhecimentos da espiritualidade, mercê da proteção dos benfeitores familiares e da orientação segura do Irmão José.

Desprendi-me da carne bem cedo, na idade de quatro anos, vítima de tuberculose. Deram-me todas as doses da vacina BCG, durante as campanhas, e os médicos diagnosticaram pneumonia, talvez para não se alarmar a sociedade e não se desacreditar a vacinação.

A mim, pouco me importou o fato, à medida que pude ir inteirando-me dos sucessos anteriores à encarnação, até chegar a perlustrar três vidas, durante as quais me portei sempre bem, segundo o paradigma estabelecido para as mulheres burguesas, endinheiradas e patroas.

Todas as vezes, deixei larga prole, da qual cuidei carinhosa e, também, tiranicamente, exigindo de cada filho o cumprimento fiel das diretrizes católicas. As meninas deram excelentes mães de família e os rapazes souberam constituir lares saudáveis e harmoniosos. Entretanto, o mesmo nível de resultados positivos não consegui dos maridos, nunca o mesmo na nova encarnação. Creio que aí estivesse o maior problema cármico que devesse enfrentar.

Resumindo as peripécias morais, devo dizer que desleixava os matrimônios e não alcançava tornar os consortes fiéis, seres que me seguissem pelo etéreo, amorosamente, almas gêmeas, no entrosamento espiritual que deveria seguir-se depois de vida inteira de mútuas atenções. Parecia que o “até-que-a-morte-os-separe” se definia exatamente dessa maneira.

Se as vidas não foram atribuladas, o mesmo não posso dizer dos longos períodos no Umbral, onde me esfalfava, na busca dos que não souberam respeitar-me. Desejava vê-los excomungados e essa aspiração maldosa se traduzia na erraticidade dos anseios equivocados.

Ao morrer muito cedo, atendida pelos protetores, deixei de lado a pesquisa dos traidores para compreender a novíssima situação, qual seja, a de me deparar infantil do lado de cá, sem noção do local em que me encontrava.

Se não fosse excessivo sofrimento para os pais e avós, poderia conceber a idéia de que me extraíram antecipadamente do seio dos mortais, para que não me ocorresse outra queda matrimonial. Sempre que levanto esse tipo de problema, noto que as pessoas desconversam, deixam para mais tarde, que a compreensão das leis há de fazer-se em tempo hábil, antes de seguirmos para a esfera subseqüente, que Deus é pai de misericórdia e justiça etc. Sendo assim, não tenho condições de adiantar um passo na explicação de problema que reconheço ser motivo de muitas dúvidas entre os encarnados.

O cerimonial de ingresso na “Turma dos Primeiros Socorros” revestiu-se de lances interessantes, no sentido de me achar terrivelmente nova para a convivência com quem via mais adiantado. É que não me dera bem nos períodos de permeio entre os encarnes e conservava o medo de aparentar maturidade, para não descair na incessante busca dos antigos maridos. Foi preciso que os colegas se amoldassem de forma a lembrar a época da morte, para que me sentisse em casa. São atividades menores, quase diria impróprias para a seriedade da instituição que nos acolhe, mas profícua, no sentido de se estabilizarem as emoções em ponto de equilíbrio suportável, tanto por quem está impregnado de dúvidas e incertezas, como para os que se vêem, de repente, na condição de orientadores de irmãozinhos desajustados.

Hoje em dia, acostumada com o contínuo exame das vidas, sou capaz de afastar-me para visitar os parentes na Crosta, sem receio algum de ser tomada pela vertigem da desforra. É esse crescimento espiritual que devo agradecer ao povo que me agasalhou e me ensinou as premissas da vida, segundo o ponto de vista evangélico. É a primeira vez que me desfaço dos preconceitos religiosos, acatando a possibilidade de existirem planos existenciais no etéreo que não sejam os do Céu, do Inferno e do Purgatório.

Gostaria de levar a notícia do estágio evolutivo diretamente aos familiares, mas não acredito que consiga a atenção de quem está imerso nas diretrizes do sacerdócio católico romano. Por isso, escrevo, junto com os amigos, esta série de depoimentos, para ver se despertamos o povo para aspectos da realidade espiritual, sobre que a mentalidade dos encarnados não se aplica.

Que farei quando me diplomar neste primeiro curso? Muito pouca coisa. Não pretendo, por exemplo, seguir o rastro dos cônjuges. Se cruzar com eles, irei contentar-me em relembrar os melhores lances das existências juntos, para forçar-nos a entender o que deu ou não certo, no aspecto da perpetuidade das promessas dos transbordamentos apaixonados.

Se, por outro lado, me encontrar com as criaturas pelas quais eles se interessaram, a ponto de se esquecerem da legítima esposa, irei pesquisar com elas, se me permitirem, os tópicos em que me enfraqueci e elas se fortaleceram. Futuramente, pretendo não falhar mais nesse aspecto.

Tenho colegas que insistem em que estou imaginando coisas, que os problemas não foram pessoais mas sociais e que as psiques resultantes dos momentos culturais se estruturaram conforme lhes foi dado fazê-lo. Em outras palavras, as pessoas não poderiam ter agido diferentemente, segundo os padrões que lhes foram ensinados, objetiva ou subjetivamente.

Não ponho de lado essa rica hipótese, mas não consigo divisar qual o ponto em que as lições evangélicas se ajustam a tais princípios. Estou tendente a crer em que o Cristo levava bem mais longe a visão da existência, para além da possibilidade do determinismo de época, de lugar e de raça, segundo a visão positivista de Taine.

Não quero exorbitar nas conclusões puramente filosóficas, para não cair na simplicidade argumentativa dos terrestres. Por isso, não avançarei na discussão dos pontos pelos quais venho interessando-me. Vali-me da citação para demonstrar que não estamos brincando em aula, como poderia fazer supor a idade do passamento. Também era preciso firmar a tese de que os ganhos morais devem embasar-se em conceitos cientificamente firmados.

Tenho de definir o que para nós passa por Ciência? É todo conhecimento com base na realidade tangível, segundo nossa capacidade de avaliação da Verdade. É tudo aquilo que não pode ser refutado com fundamento em verossimilhanças de ordem meramente especulativa. Em dizeres mais pragmáticos, a Ciência, como a entendemos, é toda razão (causa e efeito) dos atos que beneficiam o próximo, levando à compreensão de si mesmo e ao amor do Pai.

Terei motivos para afastar-me dos estudos, que me estão deleitando, na presunção que possa ser mais útil, se estiver ao lado dos que sofrem? Então, como explicar esta peroração, com alto grau de desprendimento, a ponto de oferecer-me em holocausto às intelectualidades superiores, encarnadas ou não? Há que se entender o justo sacrifício e a renúncia, para se perceber o quanto de amor reside nas mensagens simples ou complexas.

Daqui os reiterados agradecimentos à benevolência do Senhor, por nos permitir experimentar, rudimentarmente, embora, a enunciação de sublimes pensamentos, na intenção do favorecimento dos mais débeis e dos mais curiosos.

Fiquem em paz!

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