OS PECADOS DA TRIBO (11)
Roteiro de Coelho De Moraes, sobre a obra de José J. Veiga
Personagens: O Herói (H), Rudêncio (R), Consulesa (Ca), Cônsul (C), Pessoa (P), Pessoa 2 (P2), grupo de festeiros, Mamãe (M), Zulta (Z), Edualdo (E), Turunxa (T), turunxas, dois rapazes, dois garotos Obelardos (G), três Homens a: b: c:,
CENA 15
(R chega a cavalo. Salta lampeiro. Os cabelos estão encaracolados e loiros)
R: Oi família. Tudo bem por aí? (H está com o braço numa tipóia). Ganhei um bicho do Umahla meu sogro, que é uma graça. Uma mistura de quadrúpede com bípede, não tem rabo e tem pouco pelo mas não é macaco. Nem sei o que é, pra dizer a verdade. Não fala mas escuta, e às vezes parece ter cara de gente. É o ai-jesus do palácio.
H: Como se chama essa raça de bicho?
R: (fala mas não dá muita atenção. Olha em volta, displicente) Nem sei. Foi um embaixador que trouxe. Alguém disse que é uma montagem de vários bichos feito numa fazenda experimental.
H: E isso é coisa legal?
R: Nem sei. Mas, também, não é coisa que me interessa... e (bate na tipóia, sem perceber que é tipóia) também não interessa ao irmão.
H: Só estamos conversando.
R: Ah! É verdade.
H: E foi você quem começou.
R: Ah! É verdade. Ah! Lembrei. O nome do bicho é Uiua. Precisa ver que gracinha,m irmão. Quando tem reunião com os Caincaras, se ela demora muito, o Uiua dorme com a cabecinha no peito do Umahla – meu sogro – e todos os Caincaras passam a falar mais baixo para não cordá-lo.
H: (a paciência de H está sob controle) E isso é uma coisa importante.
R: O que sei é que esse Uiua está sendo preparado para uma missão muito importante.
H: Cada hora vc vem com uma novidade e nem percebe as coisas que rolam em volta. (dessa vez R está prestando mais atenção em H mas a história do Uiua parece não deixar cair a ficha)
R: Impressionado com a inteligência do Uiua, ele tem até professor para aprendera ler.
H: Onde foi encontrado esse bicho.
R: Nas fazendas experimentais do Nordeste do território. Já disse.
H: Não! não disse. Olha, eu não faço questão de passar por crédulo, até certo ponto, pelo que estou vendo, a única função desse Uiua é a de ser espião e não mais.
R: Você ainda vai ouvir falar dele. Todo o território vai ouvir falar dele.( R sobe no cavalo).
H: vamos ouvir falar bem ou mal?
R: Engraçadinho. Vai depender do lado em que a pessoa estiver.(dá um giro com o cavalo) De que lado você está? (R olha H enquanto o cavalo dá seus giros. H pensa em não se expor).
H: Como vão seus filhos? Como vai o menor que estava com coqueluche?
R: Vai bem. Todos bem. Você já se decidiu sobre a brigada? Estou guardando sua vaga, mas não por muito tempo. Daqui a alguns dias vamos começar os treinamentos.
H: Sei não. Não dou pra isso.
R: (R desce do cavalo, afoito) Não dá para o que? Voc?e nem abe o que é.
H: ( a discussão é exaltada) Você ainda não me disse.
R: Só posso dizer depois que você assinar o compromisso. Por enquanto você é um estranho e o regulamento me proíbe revelar nosso objetivo a estranhos.
H: Suponhamos que eu entre e depois me arrependa? Posso sair?
R: Isso nunca. Entrou, fica.
H: Então, prefiro continuar de fora.
R: Prefere a irresponsabilidade.
H: Prefiro continuar pescando, reunindo artefatos para os Armazéns Proibidos, tomando banho no lago.
R: Bebendo canilha com semente de jatobá. Abra o olho, irmão. Você tem visto a Consulesa? Aconselho a se afastar dela. (H fica sem fala, R sobe no cavalo novamente) Vou andando. Preciso levar o Uiua para distrair um pouco.
