UMA MULHER MAIS QUE VIRTUAL
Para ANA LUISA MORAIS
Encontrar essa mulher
dentre essas fibras
ditas óticas, cibernéticas,
franzinas...
nesses sítios histéricos,
geradores de cólera,
medos e máscaras
que cobrem e descobrem
o rosto de um tempo
em desperdício...
Buscar essa mulher
que em termos me devolve
ao que jamais me dispus
virtualmente ou não,
ainda que nem expusesse
tão grato o coração...
paralisa-me numa inércia
que cultivo comigo, meus
desejos e os óculos
encangados no nariz.
Não lhe vejo o rosto
senão num desenho místico,
tal que houvera feito, dado
em sonho,
ou que me houvessem descrito
em hieróglifo, num transe sensual,
denso e medonho, eu que
nem escravo quero ser,
mas me submeto.
Pousar sobre essa mulher
Ana, dentre tantas essas
anas minúsculas, daninhas
ervas cujo componente
é um só: nada dizer,
pudesse enfim indicar-me
o caminho de casa
que seja perdurar-me
sobre seu peito...
depois morrer.
Mas uma morte virtual,
anteriormente programada,
digitada, delida, deletada,
de modo que seu gesto
manso, altivo e mais-que-perfeito
possa me ressuscitar
de um link, de um jeito,
a fim de ser e estar:
desvirtualizar-me
e sobre o território de seu corpo,
indefeso e humilde repousar.
WALTER B. SILVA
Aldeia, Camaragibe PE
setembro de 2002
inserido em “OS RITOS DA AURORA” ®
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