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Cronicas-->As oficinas do Km 3 -- 27/04/2002 - 09:26 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Se no seu peito bate um coração ferroviário, não vá às oficinas do Km 3.
Hoje, os aposentados, as pensionistas ou os filhos dos saudosos ferrinhos, não suportariam tamanho descaso com o património e com a memória da Viação Férrea.
É triste. É desolador. É deprimente.
Após o portão de entrada, à direita, está um dos maiores símbolos de uma era próspera da Viação: a Maria-Fumaça. Solitária e esquecida. Um vulto preto jogado ao relento, recepcionando algum desavisado que por ventura entre no pátio das oficinas. Confesso que não lembro mais o som do apito da velha locomotiva, o barulho nos trilhos e o eterno sacolejar dos vagões. Não lembro mais do sino da estação saudando as chegadas e anunciando as partidas.
Diante do depósito em ruínas e dos vagões depredados, o passado fica nebuloso e apenas um lusco-fusco da imagem dos trens de passageiros, teima em martelar nossas reminiscências. Uma vaga lembrança das máquinas estacionadas nas oficinas, de operários, chefes-de-estação, guarda-freios agitados e de uma torre de fumaça em movimento. São meros nacos de um passado distante, presentes em nossa mente. Resta-nos a busca incessante de recordações dos antigos acenos de mãos esfoladas nas chaves de fendas, torquêsas e bigornas.
Prédios destruídos, vidros quebrados, vagões danificados, depredados, queimados e sucateados. Uma história que morre um pouco a cada dia, agoniza lentamente e em silêncio.
Este é o Km 3, um cemitério de vagões. Não há vida. Existe um passado glorioso, um presente em ruínas e um futuro que esquecerá sua memória.
Enquanto meia dúzia de crianças brincavam de esconde-esconde no "Primeira Classe", o vigilante que fazia a ronda naquele nebuloso sábado à tarde, nos conta que um senhor de idade, cabelos brancos e andar trópego, certamente um ferroviário aposentado, esteve em visita às oficinas. Chorou ao rever o local em que trabalhou, ajudou a construir e que viveu boa parte de sua vida. Não resistiu e extremamente emocionado, com a voz embargada, disse que jamais voltaria. Cabisbaixo foi embora, escondendo as lágrimas que persistiam em umedecer aquelas faces rudes e cansadas.
Ao sair tirei uma foto na velha e imponente 638. Posei de maquinista na locomotiva que possivelmente o "Velho" tenha feito manutenção, num tempo de carvão e fumaça no antigo depósito. Uma última lembrança. E me prometi passar ao largo destas emoções.
Joguei a toalha.
É impossível voltar o que era. É impossível recuperar. É impossível guardar.
Só restam lembranças nas mentes dos ferrinhos no vaivém de suas cadeiras de balanço em prolongadas tardes nas varandas.
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