Usina de Letras
Usina de Letras
162 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62269 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->DOIS RIMANCES -- 11/03/2003 - 17:53 (Daniel Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dois Rimances
(Rimances sobre os defeitos da mamada)



OS MEUS DEFEITOS

Talvez tenham a ver com a fome dos meus antepassados
Aquela fome que lhes torcia o estômago, lhes golpeava as vísceras
A fome meus amigos que seca todas as fontes
Uma fome que vem do tempo dos trogloditas, da idade da pedra,
Também do bronze e da descoberta da roda
Uma fome que transformou o homo-erectus, no homo-sapiens
Que de sabedor nunca deu grandes provas!
Mas enfim lá andamos todos neste mundo enganadinhos
Como os bois mansos, ou os servos da gleba
Que é para não destoar

Uma fome, amigos, uma fome ancestral
Viciosa
Pior que o tabaco
Que só faz mal
Mal à saúde, mal à carteira
Horrível para o beijo apaixonado...
É beijar no cinzeiro!
E por isso proclamo solenemente
Os meus, os defeitos são defeitos
da mamada
Não dessas coisas mais toleironas, meias tontas da prática executiva do amor
moderníssimo
Dessas fantasias porno-hardcore que participam no desempenho sexual refinado,
mecanizado, adestrado
Mas outras que são enraizados na ocasião da criatura mamar o leite da mãe

Quando as mamas estão cheias dele
E dele também o marido ou o amante mama nas noites de folia
- Não vos admireis por ser tão explícito e usar a linguagem dos meus avós
beirões,
Porque a linguagem pouco tem mudado

Pescamos de longe a longe mais alguns signos exóticos dos países lusófonos
da Ásia, África e América
algumas das nossas palavras já estão gastas, outras imundas,
de modo que vale a pena rejuvenescer
soltá-la ao jeito especialmente brasileiro, onde se aprende também
a dar valor a quem o tem

os defeitos da mamada, amigos, é origem do nosso descontentamento, mais do que
o jeito sem jeito de amar,
e são esses defeitos que provocam este apontamento como se segue:
ou é raiva, ou é revolta, ou é indignação
e vai daí as pessoas começam logo a pensar em trapassar toda a gente
para enriquecer depressa e muito

Mas, no caso da minha avó, a vóvó Glória, a de pêlo-na-venta,
sovina dos quatro costados,
como era pequenina, muito diminuta, e temia ficar chupada,
se concedesse o leite materno precisado aos filhos esfomeados,
mas como temia, tirou-lhes antes do tempo a mamada
e eles coitados ficaram com raiva da fome
e aproveitaram-se da fruta silvestre, das ervas doces
dos frutos e dos furtos validos pelos vales e montes alheios,
que ninguém se importava, até achavam graça!,
depois, meus avós enriqueceram, tinham campos e campos de ervas, árvores de
fruto, animais,
meu avô Cataninho, batia e batia o ferro da bigorna, contratou servos
era célebre na sua arte, vinham camponeses e ceifeiros de léguas e léguas de
distância, traziam foices, facas e facalhões, tesouras de jardinagem e de
poda, todos utensílios do amanho da terra e de costura, e de matança dos
porcos e aves, até arados, ferros e aços corroídos e quebrados e empenados,
fios de lâminas já quebrados, e era um ver se te avias, martelando e
martelando no meio da faúlha disparada do carvão vegetal ou da ulha
e à noite jogava cartas com qualquer pulha na taberna próxima do figueiral,
degustava aguardente a cada gesto
e fumava mata-ratos que não explicavam mas sugeriam «eu te empesto»
e de facto lhe empestavam os pulmões e o levaram à morte prematura
nos fins da vida, vivida ao desbarato, e aí é que foi o pior,
a potência sexual que já não devia ser a mais viril (isto imagino eu porque
não sei, mas desconfio!)

Minha avó dedilhava os rosários duma cartilha que ensinava as 1001 maneiras de
o sexo recusar a um marido que lia as 1001 posições para o Kamasutra bem
desempenhar, embora porventura isso fosse só uma ilusão, coitadinho - suponho
eu - uma miragem,
porque o tesão com o tempo vai-se concentrando só nos olhos
e o seu lugar onde se faz gente passa a ser uma decepcionante aridez,
arrepiante, malfadada sina cumprida no que se fez, e não no que se vai fazer,
muito embora haja ainda aqueles que são tigres até ao fim,
porém estes são excepções e não convém deles falar (só por chalaça!)
senão espanta-se a melhor caça

A fome, amigos, grassando naqueles estômagos vazios e contorcidos
a ladinice apoderava-se destas criaturas e elas desenvolviam a arte de
piratear o próximo,
coisa que não aconteceria
se a fome não existisse no nosso dia-a-dia,
pois de ladinice certamente esta faculdade a tranformaria
em cabeça sadia

Mas ainda não vos contei, que o romance está emprenhando,
aquele romance ou rimance, iniciado, mas que agora vai findar,
vôvô era mesmo ajuizado, um céptico sensato, um agnóstico de palavra muito
sábia:
- se não fizer bem ir à missa, mal não faz, por isso me penitencio dos meus
pecados no lugar próprio,
Minha avó Glória, uma mulher sacrificada por uma vida inteira à lide
doméstica, desempenhada com desvelo, todavia,
lhe respingava: - você é um mafarrico, um fariseu, um mata-cristo porque me
maltrata!
contudo não, não maltratava nada, ela é que tinha necessidade de se queixar,
de se esmoer da idade, de remoer as dores afogueadas mastigando as mulheres na
menopausa, depois as dores reais expressas das enxaquecas, dos fígados,
estômagos, úteros, rins, espinha, ancas e artelhos, todas a precisar dos
tratamnetos da bigorna

- fariseu, seu judeu, este meu homem é um fariseu!
meu avô Cataninho:
- malcriada!

Não tinha sido mal criada, não, a avó Glória, santinha de queixumes, tinha
sido criada é com fome mais do saber do que da precisão alimentar, que em
Pardilhó não faltava peixe nas bateiras, nem batata no quintal, nem legumes na
horta

Dum saber que teria sido a sua conservação de mulher atractiva, antes do seu
tempo beleza morta,
agora empenada por empenar ter-se deixado,
roía-lhe a fome de se cuidar sem saber como, nem gastando o necessário para
executar esse cuidado

Só aquela ânsia de enriquecer... e enriqueceu e ficou para ver meu avô
morrer, empestado pelo tabaco repelente, e sorvido pela aguardente

Depois os ossitos foram corroendo, acamada durante anos, pobretada pela minha
tia que tudo foi extorquindo na ânsia de querer ficar rica também...
expirou como uma santa, lamentando todo esse tempo a separação sofrida do
fariseu Cataninho:
- tinha mais 5 anos que o Cataninho e já o perdi há 5

Morreu a Glorinha de pêlo-na-venta com oitenta para vossas iluminuras... vida
longa de muitas amarguras

Era um mundo de fome milenar, as mamadas foram escasseando nas sucessões das
mães, nas filhas das mães, que ainda mães se tornaram
e então a mamada começou a flacidar os seios, assim pensaram as novas fêmeas,
estragavam mamas, deformavam!
era a fome do conhecimento,
o medo de machucar a beleza da perfeição,
era o cuidar que se cuida, da filharada não se cuidando não,
pai dizendo
- meu filho mais vale enriquecer pela palavra, que pelo suor do rosto ou calo
na mão, nunca esqueças não!
mãe achando-se princesa formosa, cuidando de não deformar,
e vislumbrando seu filho futuro príncipe
Era outra fome
a fome do conhecimento
a existência dum rumo que bem não ruma,
a fome do conhecimento do ser, conhecimento da alma, dos afectos, da ternura e
do carinho interpares,
a fome do amor e da harmonia universal em suma
- são estas outras terras a descobrir e outros mares -
e (continuando este rimance) na raiva do amor lá andavam os adolescentes a
depenicar garota aqui e acolá
(que sabe bem e sacia a ânsia genital - até os animaizinhos gostam que se
pelam!)
noites mal dormidas, noites de forrobodó
e aí minha tia Luizinha, esperta como a raposa, espirituosa como uma
palhacinha de circo, gozando
- só perde a noite quem se deita e logo dorme!
matreira esta Luizinha, cautelosa como rato, danada nas artes da sacanagem

Por isso os meus defeitos, amigos, tive que os ir limando, consertando-os na
minha bigorna encefálica, pouco a pouco, desde muito jovem, cuidando da
substância fálica,
(ainda peço ao meu intradeus e à minha geneadeusa, que me ajudem nos momentos
de aflição, nas encruzilhadas, nos cruzamentos, e eles lá vão, mãos dadas,
unidas, com muita paciência me alumiando nos pensamentos e nas asneiradas
desabridas,
assim como o meu cão Fiel, um amor de cão, a minha protecção
um cão divino me acompanhando pelos carreiros nos matos da minha aldeia
e quando alguns putos cheios de fome, nos assaltavam para roubar minhas botas,
roubar meu farnel, imitando o Francis Draque ou o Sandokan, ou qualquer
pilha-galinhas a pilhar ouro desmerecedor, imitando qualquer Zé do Telhado mal
encarado, contudo endeusado, ou mesmo algum Ali-Bábá marroquino, árabe
daqueles desertos tão vitoriado, idolatrado, até por ele, passeando barbudo,
já fui enganado, naquele tempo isso sim o cão Fiel lá estava para proteger seu
dono e amigo, e protegia e dava caça ao bandido esfarrapado
heróis empestados aprendidos, ainda ainda gurus a roubar aqueles que já
roubaram, equilibrando todo este universo que se afirma pelo roubo seja de
fortunas ou carteiras, seja de galinhas ou de figos

e pelo roubo nos ficamos amigos
que este rimance já vai longo e atrai gangue nos dias de hoje
e eu queria ficar brando sem necessidade de zaragatas e de armamento
pois enfim são tudo defeitos da mamada, não daquela do hardcore,
mas desta
a do conhecimento.

Janeiro de 02

_________________________________________

E É ASSIM MEUS AMORES

E é assim meus amores meus Amigos
Cá estou com Vossa licença em mais um dia de festa
Cantando ao desafio como é tradição na canção destas Beiras
Cheias de laranjeiras, uvas de quilhão de galo e de figos
- destes derivaram os sufixos nímicos de figueiral e figueiredo
E este rima sem esforço com as terras de vinhedo

... mas dizia eu que este é mais um dia de festa
espreitando num sufoco pela aresta...
.
a certo momento da vida
(porque esta lixa-nos ou trama-nos com algumas partidas de que me não arrependo
as vou lendo e as arremendo
quando quero remendar)

a certo momento da vida meus Amigos meus amores
assim de repente sem que nada no destino
o tenha escrito, nem previsto, nem falado nem opinado,
dá-nos com toda a raiva e pachorra para
escrever romances

romances que todos compram se virem um anunciozarrão
na Televisão, ou se virem a figura do herói comprado a peso
de librão
ou ainda num favor que se paga durante uma vida inteira
de joelhos e servidão

romances que todos compram
mas ninguém lê
(tudo se consome pelo tesão que só nos olhos se revela!)
quase como o que acontece nos programas culturais
na TêVê que ninguém vê
(é pau de vela!)
esperam antes isso sim pelo filme apregoado
que se vê comendo pipocas e roçando a perna
na perna que de alheia nada tem
(é de quem mais tesão tiver
- a ocasião fazendo o ladrão -
me perdoem os puritanistas e as puritanas pela linguagem desbragada aqui revelada numa manta de retalhos coçada, pinada,
esses que vivem dos excessos do palavrão
embora não façam mal a ninguém -
os palavrões com certeza, porque os puritanos até
são capazes de fazer mal à própria mãe)

romances amores amigos de intriga e mais intriga
sobre a trama
às vezes no aconchego da cama intrigados

romances de lana-caprina
romances com herói pinando a pina
sobre o corpo frágil e volúvel da Gina
(farta-se de pinar quem pina,
é triste sina, essa de ser albina!)
é uma textura fina
mostrando o abdómen acima e abaixo num abalo
nos rodapés uma mina como um cacho
de uvas de mesa de quilhão de galo
mina de argaços com inchaços de tanto paraminar
ninho de rolas rolantes
comida pelos farsantes
os tais que tais
sem talento (geniais! genitais!) sem talento e sem talanto
que para tanto não têm garganta nem garganto!
Atenção amigos amores amantes por exemplo:
Este que é romance contado pelo meu avô
Ferreiro beirão
(alguém mo fez lembrão
este ferreiro de latão)

--» e assim começo que me pulgo de ironia:
NAS TERRAS DA ESTRANJA, para ser mais preciso na
Pátria de Molière, o dramaturgo que
Se fartava de gozar
Com os cornudos dos maridos, os que de tesão não sabiam nada senão
Os trejeitos das concubinas, meretrizes e putas de trazer pelas enxovias
Esses forretas, sovinas e judeus (salvo seja!)
UMA CERTA VEZ (ó intradeus meu e minha geneadeusa, melhor será pordes em mim um freio nos dentes senão vou-me desbragar e atrair gangue com arma de guerra!)

Uma certa vez, dizia eu, meu avô, ferreiro beirão, levou no focinho por razão injusta
(não era bem um focinho porque o VôVô tinha cara de enfeitiçar a mais bonita mulher - era tara era pão, este meu antecessor - Cataninho da minha avó Glória que Deus no Céu tenha para sua boa companhia!)
por razão injusta levou naquela focinheira bonitinha boniteira
e amigos amantes e amores SANGROU SANGROU SANGROU...
as ventas foi lavá-las depois ao rio e não mais ventou
regressado ao local do crime, isto até parece um policial
- como estou hoje inspirado, meu Deus não precisava tanto!
Criminoso regressado ao local da fornicadela destra e canhota,
Violenta e violada, gota esparramada noutra gota,
Ao opositor se lançou e
Desfê-lo de porrada!!!
Homem calmo, este meu avô Caeteno, Cataninho, da minha avó Glória,
A de pêlo-na-venta! Sovina até fartar!
Homem calmo, espirituoso, virtuoso, ladino e sensato
Como qualquer raro exemplar!
Homem que me morre por dentro de saudade
E de amor e
Bondade...
Ensinou-me coisas findas (que pena!)
Este VÔVÔ CATANINHO, ferreiro das Beiras lindas:
SE TE BATEREM NÃO DESESPERES
MEU VILÃO,
LAVA-TE RECOBRA-TE INSPIRA FUNDO ATÉ QUE O AR TE INUNDE DE MUNDO E NÃO DESESPERES NÃO, NUNCA NA TUA VIDA,
A SEGUIR RECOBRADO, DÁ-LHES A LIÇÃO
MERECIDA!

Janeiro de 2002
Daniel Cristal

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui