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Contos-->O Despertar de Sarah -- 10/07/2002 - 15:34 (catia garcia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Despertar de Sarah




Feitos de abandono, mal interpretados vinham os sentimentos no seu novo dia.

Provocava inconsciente seus sentidos, transformando-os em pérolas de um desejo quase secreto, não fosse ele revelado nas constantes e diárias aventuras que vinha exibindo nas noites de inquietude, quando acordava ofegante, certa de ter realmente vivenciado tudo. Seu único receio era que ao acordar descobrisse que tudo não passava de ilusões, aliciada por seu coração tão preso às incertezas que na vida real negava a encarar.

Noite passada estava ela se contorcendo na cama de uma lado para o outro, gemia, arranhava os lençóis, mordia a fronha, e já pela manhã, sentava-se na cama, de olhos ainda fechados, por instantes inerte, ainda envolvida com aquela sensação de liberdade vivida por mais uma noite.

O sol invadia então seu quarto, obrigando-na a levantar e dar de encontro com o espelho e se deparar com sua imagem cansada, deprimida, pelas noites mal dormidas.

Confusa, suada e até eufórica, sabia então que a vadiagem da noite não passara de mais um sonho impetuoso que teimava a acontecer, decepcionada, mas aliviada até, ia tomar seu banho.

Já no chuveiro fechava os olhos como todo dia e uma sensação de impotência vinha-lhe à mente, a falta de conclusão dessas aventuras noturnas incomodava-lhe muito. Que teria ela feito então, se pudesse continuar suas estórias e finalizá-las pelo menos uma vez, ir até ao fim. Mas fantasiava dormindo tudo aquilo que acordada não conseguia vivenciar.
Ficava sempre uma sensação incômoda de não ter realizado a contento, onde num limiar de hostis batalhas, tivera de bravamente enfrentar dragões e feiticeiros. Que fim teria dado aquela luta por sua própria sobrevivência? Quem teria sido o vencedor? Este gosto de querer mais sempre ficava em sua mente.

Nos seus sonhos Sarah era uma mulher fatal, poderosa, ousava ao vestir-se e ao falar. Intimidava, dominava os homens, muito certa de si, sabia sempre quem e o que queria. Sarah invejava esta personagem que ela mesma criava para si, queria ter o mínimo que fosse de coragem para assumir-se diante do mundo, mas sua realidade era diferente.

Suas aventuras confundiam-se com a memória que Sarah tinha dos romances que lia, e sempre manifestava-se em maliciosas fantasias. Em um deles estava ela cavalgando pela areia de um deserto, sua roupa branca esvoaçava ao vento, quando avistou uma tenda enorme no meio do nada, aproximando-se para saber de quem se tratava, entrou mesmo sem convite. Encontrou ali dois corpos escandalosamente envolvidos, amantes num movimento intenso de amor. Sarah imediatamente começara a participar e de imediato já estava despida, revelando sua nudez imponente. Havia uma linda garota de cabelos claros, de olhos azuis cor de céu, meiga e selvagem ao mesmo tempo. Seus seios eram voluptuosos e de cabelos presos deixava à mostra seu corpo esguio, cintura fina, pele de pêssego. Seu cheiro lembrava mesmo a fruta recém colhida do pé. O rapaz que acompanhava a moça, mal podia ver-lhe o rosto, estava encoberto por panos enrolados junto de um turbante e uma capa inseparável, mas era só o que vestia. Seu peito desnudo deixava a mostra sua pele corada pelo sol, num bronzeado ousado,


peitos fortes musculosos e uma marca de sunga minúscula, aflorando-lhe as partes mais íntimas, visualmente e extremamente latente. Eram três então, três amantes em perversão da carne. Sarah via-se entrelaçada pelo rapaz e pela moça que ficava deitada por baixo, gemendo num ir e vir do corpo dele, estimulado pelo prazer da hora. Sarah toda felina, cavalgava agora por cima de ambos. Suas pernas escorregavam suavemente abraçando o rapaz com firmeza. Segurava também com uma das mãos seus próprios cabelos que teimavam em deslizar por seus ombros, cobrindo-lhe os seios, redondos e firmes. Arrepiada, pulsava adorando todo o prazer sem compromisso. O suor corria-lhe pelas costas e terminavam entre as dobras de suas pernas roliças e ardentes.

Sem mais nem menos despertava então, era assim sempre, isso a irritava profundamente.

Felina Sarah... vivendo de sua dura e só realidade, quisera fosse verdade toda esta impetuosidade, pudesse provar desse gosto e não tivesse apenas a alma peregrina que em aventuras, decorando sua mente, criava situações como esta toda noite. Estas eram apenas algumas das imagens que lhe vinham à mente ao acordar resfolegante, durante o dia vinha muitas outras imagens que acabavam atrapalhando-na e a deixando absolta, aérea.

Como num quadro em movimento, num canto de destaque nos corredores dos seus vagos pensamentos de perversão, guardava ela secretamente estas aventuras. Nunca contava para alguém e até corava só de pensar. Via-se dominada pelas fortes sensações que seus próprios instintos provocavam-lhe, mas voltava a si e retomava seu dia de onde tivesse parado, com uma certa frieza até.

Sarah era tímida no seu jeito de ser, não gostava quando recebia elogios por suas formas tão bem delineadas que sempre chamava atenção, onde quer que estivesse, embora se vestisse de uma forma muito discreta e um tanto quanto convencional. Alguns cochichavam e chamavam-na de frígida, ela sabia e sentia-se triste, magoada, mas calava.

Faltava para ela o domínio das palavras, uma convicção em si própria, uma boa dose de amor próprio talvez lhe caísse bem, mas continha-se e sempre muito reservada, mal conseguia encarar de frente as pessoas. Era muito assediada, isso intimamente fazia-lhe bem, mas nunca se permitia gostar ou ao menos olhar nos olhos do galanteador, apenas abaixava a cabeça e seguia trançando as pernas com sua incômoda timidez.

A vida lhe criaria ciladas e ela sabia disso, tinha a nítida sensação de que teria de enfrentar situações confusas mais cedo ou mais tarde, talvez até mesmo desejava isso, pois assim seria obrigada a tomar atitude e ser como realmente sempre desejara no seu íntimo, livre de seus próprios preconceitos.

Sarah já havia se apaixonado uma vez, foi quando perdeu sua virgindade, tinha 17 anos e certa de que tinha encontrado seu príncipe encantado. Mas era uma paixão mal resolvida, que acabou deixando amargas cicatrizes.


Ficava ela então a espera de uma nova paixão, uma sem sofrimento só entrega, aquela com a qual se permitiria finalmente renunciar às convenções de moralidade, que tanto lhe fora impostas até então. Sarah queria conhecer, ousar, mas faltava-lhe coragem para viver.


Agora era diferente, ela não possuía mais a ingenuidade de menina, já mulher feita, cheia de calor, mas nada acontecia para que fosse realmente despertado o seu desejo de se entregar.

Tinha as vantagens da beleza, uma mulher provida de vasta pureza no olhar e era isto também que fazia com que pretendentes se empilhassem à sua mesa do escritório na hora do almoço, quando soltava os cabelos e recostava-se em sua cadeira, confortando-se na lembrança dos sonhos que lhe vinham à lembrança, mas ela descartava a todos mergulhando na leitura de algum de seus muitos livros empilhados na sua estante. Romances, poesia, auto conhecimento, enfim tudo que a ajudasse a fugir da realidade sem graça que era obrigada a vivenciar. Vida pacata, chata demais, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, sem grandes motivações.

A rotina tirava a graça da vida, a necessidade de trabalhar num escritório que não gostava para sustentar-se, transformava suas emoções numa mesmice, dia após dia. Os advogados riam-se da timidez dela e a provocavam de propósito, só para vê-la fechar-se como um caracol fora da água.

Tinha consciência que precisava mudar sua vida, mas faltava-lhe estímulos e não sabia ao certo onde encontrá-los. Os dias passavam então, arrastando-se sem que ela pudesse realizar nenhum de seus desejos.

Mas uma coisa diferente Sarah tinha, toda vez ao entardecer, já quase à notinha, ficava estranha, inquieta. Parecia sentir-se encurralada, sem ar, não via a hora de ir embora do escritório. Chamavam-na até de Cinderela, pois a vontade de sair era tanta que atropelava a todos e descia as escadas apressada. Corria até o parque que ficava entre o escritório e seu apartamento. Toda eufórica, maluquinha, recuperava o fôlego no caminho do parque para casa., voltando com seu ar discreto e até perturbador.

Sarah secretamente sabia que tinha nascido para a noite, algo mágico acontecia-lhe e não podia mais esconder de si mesma. Naquela tarde decidiu-se, ao cair da noite não iria mais enclausurar-se entre quatro paredes, comer comida congelada e ficar ansiosa para o seu adormecer. Chegou em casa, tomou um banho perfumado, caprichou no creme para os cabelos, longos e sedosos com cheirinho de erva cidreira. Vasculhou o guarda roupa para encontrar algo que a fizesse sentir-se bem e deparou-se com um vestido ainda no plástico, fazia mais ou menos uns seis anos que aquele vestido estava lá, será que ainda serviria-lhe? Presente daquele amor do passado, que nunca havia se permitido usá-lo. Vestido curto, azul escuro perolado com um laço pequeno na frente... lindo. Sim servia e seria nesta noite que ela iria usá-lo, mesmo que ainda não soubesse onde iria.


Sarah não tinha ainda a noção que temos vários personalidades morando dentro de nós, que podemos ser várias pessoas em diferentes situações, apenas conhecia e gostava mesmo daquela que nunca ninguém conhecera de verdade e que somente ela tinha conhecimento, então ficava muito tempo tentando fingir que não conhecia aquela Sarah vadia das suas noites adentro. Nunca conseguira alcançar um meio termo entre a vadia e a tímida. Mas naquela noite a impetuosidade tomava conta dela, diferente de outras noites quando tentava sempre sair e acabava desistindo na última hora, desta vez ela sairia sem destino.




Nunca faltava-lhe convite, Sarah apesar do seu jeito tímido, despertava nos rapazes um alvoroço, um entusiasmo até que meio descontrolado, mas ela nunca queria saber de nada e de ninguém, parecia fechar-se deliberadamente para o mundo, desfilando sempre a mesma fivela de strass em seu birote nos cabelos.

Não sabia ao certo onde iria, mas já pronta tomou fôlego, respirou fundo e já perfumada deu o último retoque nos lábios, enaltecendo ainda mais seu charme. Sarah estava linda, estonteante, de parar mesmo o trânsito, com certeza teria problemas nesta noite para ficar sozinha, se é que esta era a intenção dela.

Ao sair do apartamento, percebeu alguém descendo as escadas, chegando ao seu andar, estranho movimento naquela hora, seus vizinhos eram pessoas de idade e uma hora destas já deveriam ter se recolhido. Então um tanto curiosa mas meio nervosa, Sarah tentava trancar as pressas a porta, e foi quando derrubou a bolsa e tudo que tinha dentro dela. O rapaz que descia as escadas, chegando perto, apressou-se em ajudá-la num gesto de cavalheirismo. Algo acontecia com Sarah, reagia diferente e ficou olhando o rapaz por alguns instantes. Ele lhe era familiar, tinha a nítida sensação de já ter encontrado com ele antes. Ele vendo a cara de espanto de Sarah apresentou-se, Richard, novo morador do apartamento de cima do dela, mudara-se naquela mesma semana durante o dia, quando Sarah trabalhava. O sorriso dele era algo encantador, ela agradeceu e o fitou novamente seus olhos, coisa que para ela seria extremamente difícil devido ao seu perfil todo acanhado.Acabaram rindo da situação e Sarah percebeu-se tão naturalmente leve, na presença de um estranho , tão encantadoramente estranho.

Sarah neste instante sabia finalmente quem ele era, conseguia lembrar do seu rosto agora e toda trêmula mal conseguia falar. Era ele, o rapaz daquela tenda no deserto. Seu olhar era inconfundível, mas como poderia ser, como poderia sonhar com alguém que jamais havia visto antes. Beliscou-se pois pensava estar ainda sonhando e ele sem entender nada apenas sorria e isso a encorajava ainda mais.

Ele acabou despedindo-se e pedindo gentilmente num gesto sua mão, para que num beijo pudesse selar o encontro, tão prazerosamente mútuo. O toque de suas mãos estremeceu novamente todo seu corpo e sabia que não podia deixar que se fosse, pois mais tarde jamais teria coragem novamente de enfrentá-lo daquela forma.

Os dois ficaram ali, olhando-se por um longo minuto e Sarah já meio sem jeito pedia que soltasse sua mão. Ele dizia que não conseguia, que tinha sido enfeitiçado por sua doce beleza. Sarah ao ouvir o som de sua voz novamente tivera então a certeza que não o deixaria partir, mas naquele instante era só o que lhe restava fazer, desejar que ele não se fosse. Foi quando ele atrevidamente a tomou nos braços e sem nada dizer beijou-a decididamente. Sarah relutou num primeiro instante, mas em seguida, meio que instintivamente correspondeu e entrelaçou os braços no seu pescoço.

Que estava acontecendo com ela? Como estava se entregando assim à alguém que não conhecia, isto é, não na vida real? Sem pensar em nada, apenas em viver o êxtase daquele momento, se entregava então num beijo que, mesmo sem saber mudaria toda sua vida.





Quase que sem perceber estava abrindo novamente a porta do apartamento e ele a esta altura, já carregando-a nos braços à conduziu ao quarto. O apartamento era pequeno, sua cama ficava bem à vista, no ar um envolvente perfume de margaridas de um vaso logo à cabeceira da cama. O vento balançava a cortina de seda rosa fazendo com que sininhos dependurados à janela emoldurasse este instante de calor intenso, num despertar da paixão dos dois. O desejo nos olhos de Richard era algo indescritível e Sarah, ah Sarah, irreconhecível, com cabelos soltos, caídos no rosto, como quem está pronta para um ataque, emboscando sua presa.

Sarah entregou-se por inteira finalmente e se amaram por toda uma noite.
Um mês depois Richard mudara-se para seu apartamento. Idéia de Sarah claro, afinal não podia perder sequer um instante mais de sua vida, afinal já aos seus 23 anos, nada emocionante realmente tinha acontecido ainda, a não ser a lembrança da vivência em seus sonhos que tanto insistiam em tirar-lhe a razão.

Tudo que Sarah precisava era de alguém especial, que a encorajasse a revelar-se, tirar o véu de sua alma, já cansada de solidão e Richard caiu de para-quedas no seu caminho, isto é, no prédio onde morava.

Os amigos que a acompanhavam por todos estes anos, hoje mau reconhecem-na.
Usa roupas mais irreverentes, até um jeans rasgado ela ousou nesta semana. Tem olhar brilhante, mostra-se mais viva que nunca. Libertada de seus medos infundados, investe sem pressa e sem culpa nesta calorosa relação, possibilitando que vivesse toda uma aventura, de amar, só que desta vez acordada. Não acredita num amor eterno, mas maduro e cúmplice.

Sarah entrou numa faculdade de modas, quer ser estilista, desenha seus próprios vestidos e os desfila no departamento de marketing de uma empresa multinacional, na qual é gerente.

Richard é artista plástico e em suas esculturas transforma a beleza de Sarah em grandiosas obras de uma delicadeza e sutil essência. Ele é um tanto quanto excêntrico, adora exibir-se para Sarah, mas ela se diverte com ele, ela precisava de um pouco de displicência na sua vida.

Eles tem um encontro nesta sexta, é com Amanda, uma amiga publicitária de Sarah, vão dançar os três e depois quem sabe dar uma esticadinha na noite.




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