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Artigos-->O TRIO FANTASMA - 3a Parte / O ORGULHO -- 18/08/2008 - 19:27 (A.Lucas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ATENÇÃO: Este trabalho está sendo apresentado em cinco partes, para conveniência dos leitores. Sugiro que esta ordem seja respeitada para melhor compreensão.



Suponho que não há duvidas quanto ao medo estar diretamente associado ao instinto de sobrevivência, mas admito que o mesmo não acontece com a relação entre o orgulho e o instinto de preservação da espécie: o assunto é profundamente discutível, até mesmo quanto à necessidade de se fazer essa conexão, mas essa é uma discussão que deixo para os especialistas. A mim importa apenas que a ferramenta vem se mostrando útil.

Do meu ponto de vista, o que faz qualquer ser vivo ter a necessidade de se reproduzir é o prazer (sabiamente) associado ao sexo. Porém, para o ser humano, racional, o sexo e a reprodução são algo mais que o simples prazer associado. Diferenças culturais, individuais e modismos (politicamente corretos ou não) não vêm ao caso aqui. A parte racional da reprodução, expressa no desejo de ter uma descendência, interfere diretamente não só na perpetuação da espécie mas na qualidade desta espécie ao longo do tempo. Daí deve vir a nossa atual necessidade de corpos cada vez mais belos e saudáveis, o que, diga-se de passagem, é muito bem explorado pelos “marketeiros”, gerando alguns problemas graves, mas esse é mais um assunto para outra hora. Além da pura e simples “boa descendência” essa melhoria de qualidade da espécie subentende outros fatores e o nosso orgulho nos impele a querer deixar boas obras, sejam elas na forma de bons exemplos, de belas fotografias ou pinturas, ou músicas, ou ainda de um texto como este que, espero, alguém além de mim há de ler algum dia (e, para mim, a minha motivação para isso é claríssima!).



Aquele piloto de automóveis de competição usou bastante bem o seu orgulho para não permitir que um medo por memorização acabasse com a sua carreira. O garoto que mordeu o cachorro deve ter sentindo um grande (e bom) orgulho ao ver-se apontado como um valente herói. O novato, ao descer da torre, ficou um bocado aliviado quando ouviu de mim (em tom bem-humorado) a frase “ainda bem que não tem mais ninguém aqui para saber dessa história”. Imagino eu que a sensação que aquela passageira de um vôo duplo tenha ido buscar nos vôos subseqüentes é idêntica: o medo foi vencido, ainda que com alguns arranhões no orgulho (que, em situações análogas, acaba tendo fortalecido o seu lado bom e construtivo).



Até aqui tudo bem, o orgulho mostrou sua cara bonita. O exemplo citado no início (em “Sinto orgulho do meu filho ser tão bom advogado!”) se enquadra perfeitamente bem naquela que imagino que seja a função principal do orgulho e que não é muito diferente da idéia expressa na conhecida frase: “Fazer um filho, escrever um livro, plantar uma árvore”. Repare que, no exemplo, o orgulho não é apenas pelo filho, mas pelo que ele é na sua vida profissional e do que isso pode trazer subentendido quanto ao seu caráter e, mais ainda, quanto à utilidade das suas atividades (para a espécie humana atual e futura).

O que podemos dizer, entretanto, do outro lado do orgulho? Não é muito difícil para ninguém associar algo negativo, pecaminoso até, ao orgulho (mesmo para quem, por não ser lá muito religioso, não dá muita atenção ao conceito de pecado).

Voltando ao exemplo do meu amigo H: ficou evidente uma grande dose de orgulho nas atitudes então tomadas (palavras dele mesmo, poucas semanas após a primeira conversa). O orgulho se somava ao medo inicial, detectado na superfície, e isto o impedia de admitir a possibilidade de ter um salário menor e uma vida um pouco mais simples, com menos trocas de carro e roupas de marcas não tão conhecidas. O orgulho também o impedia de admitir que algo na sua capacidade profissional podia não ter ido muito bem, o que apontaria para dificuldades na obtenção de novo emprego, mas, ao menos, as justificativas (na verdade “desculpas”) para essas dificuldades já estavam bastante bem insinuadas e (claro...) a culpa era sempre “do mundo”, “do patrão”, “da mulher”... Concordo com quem disser que isso pode não ser orgulho, no sentido que uso aqui, e sim vaidade, mas, o que é a vaidade desmedida senão um lado pernicioso do orgulho? Afinal, para que serve a vaidade? Não seria para nos tornar mais atraentes para seres do sexo oposto? Por que ela, dentro de certos limites, dá tanta satisfação a algumas pessoas? Não seria pela quase certeza dessa atração ou ainda pela impressão que alguns dos nossos ancestrais fizeram bem o seu trabalho de preservação da (boa) espécie humana? Repare que a vaidade desmedida (seja ela, ou não, um “orgulho defeituoso”) é, atualmente, um grande gerador de tristezas e doenças diversas e torna-se cada dia mais difícil fixar individualmente um limite sensato, num mundo que faz propaganda maciça e mercadeja o belo.



Ao escrever esse texto, mais de vinte anos depois do ocorrido, fico imaginando o que teria sido daquele novato se, após a descida da torre, eu não tivesse feito a promessa (implícita) de manter o assunto tão restrito quanto possível. Confesso que agi apenas por impulso quando me propus a não divulgar o fato, mas tenho certeza que, se o tivesse feito, teria criado uma série de pequenos e grandes problemas (que têm uma estranha tendência de se espalhar como ondas num lago). Nunca me foi possível avaliar qual teria sido, para o novato, o resultado do orgulho ferido mas, para mim, certamente teria sido a perda da amizade de um bom sujeito, a fama de fofoqueiro e uma eterna dúvida sobre meu próprio caráter. De forma semelhante, seria péssimo para todos se o menino que foi vítima do pitbull deixasse o orgulho lhe “subir à cabeça” e, dentro de alguns anos, fosse vítima de alguma fera selvagem na África durante um safári mal-sucedido, ou ainda, se a passageira de asa-delta resolvesse tornar-se instrutora de vôo livre e causasse danos a si e a mais alguém. Se o piloto de competição se tornasse alguém “convencido” que pode sobrepujar qualquer acidente teria jogado fora o cuidado necessário para continuar a competir, podendo vir a ter sua licença de piloto cancelada ou se envolver num acidente de grandes proporções.



A maioria dos tímidos, com a dose adequada de auto-análise e sinceridade, vai se reconhecer na equação [timidez = medo + orgulho]. Digo aqui “maioria” apenas em respeito a algumas pessoas próximas que nunca concordaram com a idéia, pois continuo achando que não é a equação que está errada (palavra de um tímido que aprendeu a conviver com essa característica...) Sem querer levar essa polêmica adiante (o que não impede que ela seja retomada em outro texto) posso garantir que, no meu caso, a timidez é perfeitamente bem traduzida pela equação acima. Pura e simplesmente tenho medo de enfrentar determinadas situações, seja este medo por modelagem ou por memorização e isto, somado ao orgulho que me impede até de admitir o próprio medo, me torna uma pessoa tímida. É claro que, ao longo da vida (e já passei do meio século de existência) fui aprendendo a dominar alguns de meus medos e a suprimir partes significativas (e danosas) do meu orgulho, o que, aos poucos, vem me tornando mais descontraído (e melhor e mais feliz na maioria dos aspectos realmente importantes da minha vida).

Todos nós conhecemos o estereótipo do tímido (quase toda comédia do cinema tem um deles): alguém calado, cabisbaixo, leitor ávido, bom aluno... Deixo por conta de cada um imaginar não só a associação da equação acima com a figura descrita, mas também os resultados de uma quebra súbita de um dos elos dessa cadeia – lembrando que nas comédias a reviravolta costuma se dar a partir de um evento que leva o tímido a suplantar o medo, como aquele novato no alto da torre...

Faço questão de frisar que a equação anterior não costuma ter apenas este resultado (e aqui a analogia matemática para os sentimentos falha completamente). Um outro amigo pertencente àquele mesmo grupo, tempos depois, confidenciou aos mais próximos que sua auto-análise, com esta mesma ferramenta, o havia levado à mesma dupla, mas o ponto de partida era inteiramente diverso. Este amigo, que aqui será simplesmente G, poderia sucintamente ser descrito como alguém extrovertido na medida do que a boa educação recomenda, bem-falante, empreendedor, de boa aparência, na medida do que seus 30 ou 40 quilos acima do peso ideal permitem... Sendo o segundo mais novo de uma família de muitos irmãos, G perdeu a mãe quando ainda bem pequeno, tendo o pai (recentemente falecido) se desdobrado para cumprir ambos os papéis. Esse pai, ao tentar manter a saúde financeira da família, conseguiu incutir nos filhos mais velhos uma noção de responsabilidade que os fez tornarem-se bons provedores das próprias famílias e, ao tentar manter a saúde física dos filhos, os fez tornarem-se pessoas capazes de manter dietas simples sem reclamações. Para G e para o mais novo, no entanto, algo deu errado. Ambos se tornaram glutões, o que se percebe no jeito disfarçadamente voraz (sem chegar a ser mal-educado) que se atiram à mesa ou policiam o quanto está sendo comido e por quem; ambos são extrovertidos sim, mas quem os conhece melhor acaba percebendo que isto e a boa aparência servem para esconder um desejo de ser visto e lembrado que incomodava e afastava muitos amigos. Para piorar as coisas, o empreendedorismo de G (auxiliado pela facilidade verbal, inteligência acima da média e boa aparência) ocultava, na verdade, uma ambição desmedida e uma altamente reprovável tendência à ilicitude nos negócios (sim, todos conhecemos diversos exemplos...), tendo como resultado um homem internamente frágil, fabulista (mentiroso ou enganador são palavras um tanto fortes) e eventualmente prepotente e arrogante, mas que desaba perante um interlocutor realmente bem preparado. Onde está o trio? Ora, é evidente: a necessidade de (sobre)viver com parcos recursos exacerbou o medo da escassez e gerou uma enorme vontade de vencer “a qualquer preço” e quando o orgulho foi ameaçado, ao ver os irmãos mais velhos progredindo na vida (há uma boa diferença de idade) a vontade tornou-se uma necessidade premente, quase um vício. Inicialmente G havia identificado apenas o seu orgulho como sendo aquilo que o impulsionava a, digamos assim, “negócios não muito recomendáveis” (todos desastrosos, diga-se de passagem) mas isso mudou sob um tempo um pouco maior dessa auto-análise.



Em algumas situações, como da passageira de asa delta e do piloto de competição, o medo superado trouxe o bom orgulho à tona; noutras, como a dos Srs. H e G, a interação entre medo e orgulho se deu de tal forma que cada um deles ocultava o outro e, numa análise prévia e superficial, apenas o mais fraco dos dois se punha à mostra. Apenas quando G teve a chance (ou coragem?) de rever seus verdadeiros sentimentos e sua história, e deparou-se com o medo, foi possível corrigir coisas que o incomodavam e acabariam, certamente, levando-o a um destino nada agradável. No caso de H tornou-se evidente, ao longo do tempo, que um forte e pernicioso orgulho era o maior causador de problemas, mas este se disfarçou de medo nas primeiras semanas da auto-análise (parece que o trio também tenta se preservar...) e, como os remédios são bem diferentes, é importante que a “cura” (ver nota abaixo) não mate o “doente”.

CURA = Em http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/cura.htm encontramos a seguinte definição:

A palavra cura já existia em latim com o sentido primitivo de `cuidado`, `atenção`, `diligência`, `zelo`. Havia também o verbo curo, curare, de largo emprego, com o significado de `cuidar de`, `olhar por`, `dar atenção a`, `tratar`.

A evolução semântica da palavra cura, tanto em latim, como nas línguas românicas, operou-se em várias direções, sempre em torno da idéia de `cuidar de`, `exercer ação sobre`, `tratar`. Vejamos alguns exemplos:

Cura. Pároco; cuida espiritualmente de seus paroquianos.

Curador. Pessoa que cuida dos interesses de outrem ou de alguma instituição (donde `curador de menores`, `curador de família`, `curador de massa falida`, `conselho de curadores` etc.)

Em razão de evolução semântica, curar pode ser empregado tanto no sentido de tratar, cuidar de, como no sentido de debelar uma enfermidade, de restituir a saúde, de sarar.

[Trecho reproduzido do livro “Linguagem Médica”, 3a. ed., da AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda. Autor: Joffre M. de Rezende. Maiores informações pelo tel. (62) 212-8622 ou e-mail abeditora@abeditora.com.br]

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