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Artigos-->PAIXÕES -- 14/08/2008 - 03:39 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mas, afinal, o que é paixão? Doença? Transe psicológico? Um estado de graça? Obsessão? Prêmio ou castigo?

Lembro-me, na minha adolescência, de uma professora de português, metida a poeta, dizendo aos alunos: “Paixão é tão danosa que deveria estar no rol dos pecados!”.

Afeto dominador e cego! Será?

Desgosto, mágoas e sofrimentos. Só quem passou pode dizer!

Consultando os dicionários existentes, na certa encontraremos diversas explicações. A mais intrigante é a paixão em termos de construção naval. “Forte olhal fixo na sobrequilha para segurar a braga da amarra.” Nunca, em minhas paixões (por mulheres, deixo claro) me apaixonei por sobrequilhas ou bragas das amarras. Quero estar bem longe destas parafernálias marítimas.

Com nostalgia, recordo-me das Semanas Santas de antigamente, quando se comemorava com fé a Paixão de Cristo.

O carnaval terminava à meia noite da terça-feira gorda. Ao primeiro minuto da quarta-feira de cinzas, começava a quaresma. Saíamos do último baile carnavalesco às cinco da manhã e íamos receber as cinzas sagradas.

Contradições, como todas as paixões também são!

Eram quarenta dias de abstinências, jejuns e orações, somadas às quaresmeiras floridas em tons violáceos nas serras e cidades. A nostalgia pairava no ar, principalmente para quem viveu este passado não muito distante – digamos, há uns cinqüenta anos.

Naquele tempo, (como o início das parábolas do evangelho) o romantismo tornava a vida mais carismática.

Nas velhas Semanas Santas, as principais liturgias aconteciam do Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa.

Nesse período, católico que se prezava não pensava em outras paixões. A não ser na paixão do Senhor.

A partir da segunda-feira santa, todas as imagens que ornamentavam as catedrais, basílicas, igrejas e capelas eram cobertas por tecidos roxos.

Na casa do meu avô materno, seguindo as antigas tradições do sul da Itália, não se colocava toalha na mesa até as dezoito horas do sábado da aleluia.

Este ritual fúnebre também era observado quando falecia alguém da família. A toalha só era recolocada na mesa depois da missa do sétimo dia.

Todas as atividades paravam. O grande feriado da Semana Santa começava ao meio dia da quarta-feira e terminava no Domingo de Páscoa.

Quantas lembranças das procissões do encontro e do Senhor Morto! As vias-sacras, os lava-pés até hoje são comemorados e venerados, mas com menos ardor e paixão – a Paixão de Cristo!

Para muitos italianos e seus descendentes, a segunda-feira, depois do Domingo de Páscoa, era dia de outras comemorações. Com muito amor, embrulhava-se em farnéis a sobra das comidas do domingo, além das garrafas de vinho e gasosa. Depois de tudo arrumado, partia-se para diversos lugares bucólicos, afastados da cidade, para comemorar a pasquela.

Uma ou duas vezes fui de bonde, com o pessoal do Bixiga, comemorar a pasquela na beira da Represa Guarapiranga, em Santo Amaro.

A Paixão de Cristo era extremamente funesta em seus ritos e procissões. Mas, depois da malhação de Judas, ao meio-dia do sábado de aleluia, tudo era festa!

O martírio de Cristo e dos santos, principalmente o de Cristo, com todo o seu passionalismo, pode ser encontrado em livros e filmes. O mais polêmico de todos é A última tentação de Cristo, do escritor e filósofo grego Kikos Kazántzaris (1883-1957). Considerado herético pela Igreja Católica, foi levado às telas pelo célebre cineasta norte-americano Martin Scorsese. O filme espanta os mais ardentes católicos, pois o roteiro não mostra um Cristo à luz das suas virtudes divinas, mas sim das suas inconfessáveis fraquezas humanas. Principalmente o amor e a paixão por Maria Madalena.

E as paixões de nós, simples mortais?

Ah, estas são de matar!

No meu tempo, dizia-se que um raio fulminou a pessoa. E quando você começa a enxergar a imagem da pessoa amada na sopa que está tomando, pode tirar o cavalinho da chuva, pois o raio da paixão atingiu a sua cabeça. Assim, os pensamentos só rodeiam a pessoa amada.

O pior é que não há remédios para esse tipo de dor. Às vezes, uma grande bebedeira resolve o problema durante algumas horas de sono profundo. Mas, depois, vem a ressaca!

Com ou sem chuva, de dia ou de noite, principalmente as de luar, a grande paixão consome nossos sentimentos.

Neste estado de espírito começam as maiores loucuras, que às vezes terminam em tragédias passionais.

Mas além dos felizes, ou infelizes, apaixonados, o ser humano vive outras paixões desenfreadas.

Uns amam apaixonadamente o futebol, enquanto outros são apaixonados pelos jogos de azar – azar ou sorte deles!

Há tempos, soube de um caso esquisito. Não conheci o sujeito, nem seus predicados. Porém, contavam as más línguas, que o infeliz era apaixonado por um ursinho de pelúcia. E essa paixão vinha desde a infância. Certo dia, o apaixonado resolveu casar. Para seu azar, na noite de núpcias o coitado ficou sabendo que a esposa tinha alergia mortal a bichos de pelúcia. Depois de muita discussão, o apaixonado voltou à casa da mamãe com o brinquedo embaixo do braço. Isso é amar de verdade – o ursinho!

Eu, por exemplo, sou apaixonado pelas minhas antigas paixões, aquelas de arrebentar corações despreparados.

Às vezes, pego-me a pensar se os meus atributos de geminiano também não seriam paixões desenfreadas.

Desenho, pintura, literatura, computadores, somados a tantos outros vícios caseiros, como colecionar armas, filmes em dvd, canetas, moedas, selos, gibis e tantas outras parafernálias causadoras de insônia, pois passo muitas noites em claro, pensando nas tantas paixões que rondam os meus pensamentos.

Mas a minha grande paixão tem um nome.

O nome dela eu não digo, não quero ter inimigos, prefiro sentir saudades!





Roberto Stavale

São Paulo, julho de 2008.

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