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Artigos-->Resenha Costa Lima -- 13/08/2008 - 18:33 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
RESENHA

História. Ficção. Literatura. Luiz Costa Lima. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, 434 p.

_____________________________



Dos Gregos ao Big Brother: Confluências e Divergências Entre Ficção, História e Literatura



Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior&
61482;



Nesse livro Costa Lima buscou elaborar e aplicar esses três conceitos referidos logo no título. Luiz Costa Lima, trabalhando a história e a linguagem sucessivamente, transitou entre esses campos, a bem dizer, durante todo o livro. Inicialmente, ocupou-se em aproximar aedos e historiés, que a historiografia habitualmente afastava. Afastou também a inclusão do ficcional no literário, encontrando para ele uma categoria própria, refutando a conceituação medieval da “fictio” enquanto fraude. A literatura seriam “textos oscilantes”. No entanto, se a princípio, quando se tratava de Homero, Heródoto e Tucídides, foi preciso aproximar poesia e história, minorar o ataque que eles fazem a uma base comum (Homero), mais adiante, porém, foi feita uma separação entre história e literatura para melhor definir Os Sertões.

A aceitação da mímesis abre para uma relação do crítico literário tanto com a sociologia quanto com a história. Costa Lima claramente optou pela história: a sociologia foi deixada de lado, juntamente com as vertentes dos Estudos Culturais e da crítica sociológica. Para o crítico, o problema fundador da história (“tudo remetia à verdade, à verdade do sucedido”) (COSTA LIMA, 2006, p. 104) mais adiante, transformou o princípio (a poesia) em aporia (história). A aporia da história deve considerar que seu conteúdo, a verdade, é sempre incerto. Permaneceu intocado, além da questão de saber o motivo pelo qual os homens guerreiam, um mau tratamento da res facta e da res ficta.

Tempos depois, no Renascimento, ainda existia distância entre poesia e literatura, poesia era um termo específico e literatura era algo geral; foi quando Schlegel, autor da admiração de Costa Lima, aproximou esses conceitos. O hístor apresentava semelhanças com a formulação verbal da poesia e da literatura, das quais ele procurava se distinguir.

No decorrer das reflexões sobre a narrativa e a história, Barthes é evitado, não só por ser escritor e não crítico, mas também ser anti-mimético. Iser é polemizado por não concordar nesse ponto, mas seus conceitos são levados mais a sério: a ficção ganhou um alto estatuto com Iser. A mímesis, afinal, não é a imitatio, ela faz a seleção de aspectos da realidade que desorganizam a representação de mundo seja porque não é sua repetição, seja porque não obedece a seus campos de referência. Para Costa Lima, a mímesis “fixa a ancoragem do ato ficcional no interior de um quadro de usos e valores e, portanto, de valores vigentes em uma certa sociedade” (COSTA LIMA, 2006, p. 291). A obra, no caso a de um escritor como Herman Broch, salva-se ao se esquivar da ficcionalidade na qual nasceu. A ficcionalidade é “poiesis em estado puro, a ficcionalidade concentra-se em uma forma discursiva que retira de si a possibilidade de exercício do poder” (COSTA LIMA, 2006, p. 310).

Em História. Ficção. Literatura, Costa Lima vai dos gregos ao Big Brother. Mais adiante, o crítico debruçou-se sobre objetos estéticos, o que só fez no final de História. Ficção. Literatura. Para isso ele tomou Memórias do Cárcere e Os Sertões, “romances” permeados de uma narrativa não-ficcional, a história. Nessas passagens, como em algumas sobre Saint-Beuve e Proust, sente-se menos o criar e lapidar de conceitos dos capítulos sobre história, escrita da história e ficção do que a análise crítica de inegável brilho.

Há um ensaio sobre Euclides da Cunha onde história e ficção são imbricadas novamente – e fatalmente o serão ao se tratar de Os Sertões. Para a análise, Costa Lima levou demasiadamente a sério um apontamento ligeiro de Mário de Andrade, que considerou a epopéia fantasiosa, construída sem fundamentos reais a partir do sol do Nordeste e da miséria pura.

Difícil compreender porque o texto fala tanto sobre poesia-história, depois poesia-literatura, mas quando se trata de analisar um texto literário, analisa apenas prosa. E ele deu muito realce a uma observação a nosso ver superficial de Mário sobre Euclides. Mário ao chegar ao Nordeste e não encontrar messias rebeldes, cangaceiros em fúria e cidades sublevadas devastando guarnições do exército, desmereceu Euclides. Seria preciso uma linguagem despida de luxo e requinte, seca como ela – e tal como os romancistas de 30 teriam realizado.

Depende do ponto de vista de onde se olha: para um sertanejo como Fabiano, personagem de poucas palavras em Vidas Secas, o vocabulário do livro que o retratou seria pleno de luxo e de requinte. Do ponto de vista de quem fala português não-padrão, essa literatura se encaixa ainda no padrão culto.

O luxo e o requinte da linguagem precisariam (uma vez que Costa Lima concordou com Mário de Andrade) de se encaixar num padrão realista. Padrão que a rapsódia Macunaíma não seguiu. A linguagem deveria exprimir “miséria pura” e não “epopéia”.

No entanto, poder-se-ia dizer o contrário: a grandeza e a força de Euclides foi ver a grandeza da batalha que se travou e a importância histórica daquele levante para as lutas do povo brasileiro. A linguagem usada em 1902 não era “neoparnasiana”, mas parnasiana de boa cepa. Se Euclides usasse outra linguagem, talvez não tivesse obtido a recepção que obteve em seu tempo.

Uma passagem do livro foi dedicada a resolver alguns pontos divergentes entre Costa Lima e Wolfgang Iser, pois Iser persistiu em ser anti-mimético. O padrão realista que Costa Lima não rejeitou na nota breve e superficial de Mário de Andrade foi, portanto, defendido indiretamente. Afinal, sem algum desejo mimético não seria possível pensar na escrita da história, ou em uma literatura que faça referências à história. No caso dos romances de Euclides e de Graciliano, trata-se ainda de romances que buscam trazer dados sócio-históricos reais, em nada falseados ou modificados com finalidade de fazer o “jogo do texto”. Memórias do Cárcere se saiu bem ao ser comparado com o diário de um seu contemporâneo (Francisco Theodoro Rodrigues). Costa Lima provou, algumas páginas antes, que um texto aparentemente autobiográfico (De um Castelo a Outro, Louis-Ferdinand Céline) contêm delírios e distorções (quem sabe deliberadas) para apresentar o autor empírico como um bode expiatório. Quanto a Memórias do Cárcere, não resta dúvidas quanto ao seu caráter de forma híbrida: autobiografia, ficção, memórias.

Nos “estudos de caso” finais sobre Graciliano e Euclides, ele citou Barthes sobre a narrativa da história (COSTA LIMA, 2006, p. 384), apenas para preferir a posição de Paul Ricoeur, que estabeleceu critérios para uma obra ser histórica; ela precisa passar por três fases definitivas: 1) fase documental; 2) estabelecimento da prova documental; 3) fase explicativa. Os Sertões não preencheriam essas três fases e conceitos definidos e seria, portanto, obra de literatura e não de história. Ele finalizou escrevendo que “só a passagem dos anos dirá se a insubordinação aqui praticada terá alguma conseqüência” (COSTA LIMA, 2006, p. 385). Ou seja: Costa Lima pretendeu ter resolvido definitivamente o problema do status de Os Sertões; no entanto, se ele mesmo demonstrou, no início de História. Ficção. Literatura que é fácil aproximar os aedos dos historiés, é bem provável que, no futuro, essa aproximação volte a ser realizada, ou mesmo que a obra seja chamada de “forma híbrida entre ficção e história”. Talvez, com o passar do tempo, até mesmo História. Ficção. Literatura também possa ser vista assim, como obra híbrida.

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