Usina de Letras
Usina de Letras
170 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62190 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50593)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A Morte de J. D. S. em Paris -- 13/08/2008 - 00:10 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A Morte de J. D. S. em Paris



Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (Bom Despacho/MG)





Enfim, o sucesso. J. D. tivera seu primeiro livro lançado em Paris. J. D. chegava finalmente à França. Na juventude, em Minas, era amigo de Roberto Drummond e papeava sobre literatura em bares no bairro da Savassi, mas afastou-se de Roberto por associar sempre a sua figura à do palhaço Bozo.

Pouco depois de chegar a Paris, ele quis ir ao cinema. Primeira decepção com Paris: descobriu que Godard é contra o imperialismo cultural americano. Dégoutant. J. D. era colunista elitizado de uma revista de classe média decadente e autor de um blog de sucesso na internet: “Entre Tapas e Gargalhadas”. Ao ligar a TV em Paris, viu uma atriz da Globo entre os negros do subúrbio parisiense de Clichy, dançando e cantando o funk da pi-pi-pi-ri-gueeeete! Que abuso daquela “crioulada”, estragando suas seqüências parisienses!

Dias depois, J. D. foi ao supermercado Bon Marché. Em Paris, ele não podia pagar empregadas domésticas para irem ao supermercado para ele. Quando escutou a música que tocava, um arrepio de pavor: tocava Axé Music no Bon Marché! Ele queria descansar do Brasil, mas aquele paisinho porcaria o perseguia.

De pernas bambas, deitou no sofá em seu apartamento num dos mais chiques arrondissements e arriscou a TV novamente, sem acreditar no que estava vendo: as videocassetadas também existem na França! Doente, tossindo muito, acamado, J. D. era só ajudado por um vizinho de apartamento, o comunista Jean Phillipe Noiry. “Comunistas, gauche caviar, nem aqui estou livre dessa raça”, pensava ele, enquanto pedia para que Noiry lhe trouxesse copos d´ água e remédios. Em seu blog, J. D. jamais publicava comentários dos petistas, que ele chamava “petelhos” e “burros”, inspirado em Paulo Francis. Detestava “Marxilena Xuxaí” e se dizia arrogantemente golpista e macartista. Desesperado, ligou para a mulher, que deixara na cidade de Arapiraca:

--Genalva, vem me buscar que eu estou odiando.

No entanto, um som alto de música breganeja soava ao fundo, impedindo que ele ouvisse o que Genalva estava dizendo. Genalva, livre dele, escutava o que não podia escutar a seu lado. Suas piores suspeitas foram confirmadas. Bateu o telefone: lágrimas de esguicho.

Quando parava de soluçar, sentiu uma vertigem terrível e tombou fulminado. O raio de seu amigo comunista colocara um disco, não da Internacional Comunista, mas dos Mamonas Assassinas, que ele “conhecera numa revista francesa quando eles morreram”. Naquela noite, o Paris Connection teve todos seus integrantes trajando luto. E foi o mais formal deles, um mineiro, quem deu o boa noite, dizendo: “adeus, J. D. !”

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui